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Eleições 2018

Bispos do debate já criticaram a 'jararaca' Lula e discordaram sobre reformas de Temer

Anna Virginia Balloussier
Aparecida (SP)

Desigualdade social, defesa de indígenas e quilombolas, descrença com um teto de gastos que não atrapalhe investimentos em saúde e educação... Tudo bem que teve uma sobre aborto, e todo mundo sabe que a Igreja Católica pensa sobre o tema.

Mas essa aí foi a exceção à direita na rodada de perguntas feitas pelos bispos no debate com presidenciáveis promovido nesta quinta (20) pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).

Candidatos à Presidência participam de debate na TV Aparecida
Candidatos à Presidência participam de debate na TV Aparecida - Reprodução/TV Aparecida

Com coqueluches do repertório da esquerda, a cartela de assuntos pegou de surpresa quem esperava um clero que encarnasse o que há de mais conservador no Brasil. 

A estupefação tomou as redes sociais em mensagens como "a CNBB é infinitas vezes mais progressista do que qualquer canal de TV comercial brasileiro", ou ainda "mas quem diria que BISPOS seriam entrevistadores mais progressistas que o Bonner, né?" (essa última uma alfinetada nas entrevistas com os candidatos conduzidas pelo apresentador do Jornal Nacional). 

Engana-se, contudo, quem vê um alto clero nacional corcunda ao canhotismo político. Dentro da Igreja, a aquarela ideológica, como sói acontecer,  é mais diluída do que vendem os arautos da polarização.

Dom Darci Nicioli, por exemplo, que ao diretista Álvaro Dias perguntou sobre "concentração de rendas", uma das "faces da desigualdade social". Foi elogiado por vários telespectadores que, na internet, ostentam avatares com "Lula Livre". 

Pois dom Darci  era bispo auxiliar da cidade-sede do debate até 2016, quando foi transferido para Diamantina (MG) após atacar Lula durante uma homilia. 

"Peça, meu irmão e minha irmã, a graça de pisar a cabeça da serpente, de todas as víboras que insistem e persistem em nossa vida, daqueles que se autodenominam jararacas. Pisar a cabeça da serpente. Vencer o mal pelo bem, por Cristo nosso Senhor", disse o religioso à época. 

Dom Odilo Scherer, que perguntou a todos os presidenciáveis como era possível "retomar o caminho da ética", é outra voz conservadora na CNBB.

A arquidiocese sob sua guarda,  de São Paulo, emitiu uma nota sobre o evento religioso realizado para um Lula a horas de ser preso, em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. 

Dom Odilo fez questão de frisar que não era missa, como os petistas diziam, e sim "um ato ecumênico", e lamentou "a instrumentalização política do ato religioso”.

Ao "congratular os bispos católicos do Brasil" em sua fala final, Fernando Haddad (PT) resgata cartas em que a CNBB manifestou "apreensão" com as reformas de Michel Temer, que comprometeriam os mais pobres. O prelúdio de uma delas, de 2017, cita uma passagem do livro de Amós (Antigo Testamento): "Ai dos que fazem do direito uma amargura e a justiça jogam no chão".

"Os direitos sociais no Brasil foram conquistados com intensa participação democrática; qualquer ameaça a eles merece imediato repúdio", diz o texto, assinado por presidente, vice e secretário-geral da CNBB, respectivamente cardeal Sergio da Rocha, dom Murilo Krieger e dom Leonardo Steiner. 

​O arcebispo de São Paulo destoou da turma e defendeu as mudanças na Previdência e nas leis trabalhistas. "Sim, é necessário fazê-las e fazê-las bem."

Dom Orani Tempesta, do Rio, que questionou Haddad sobre a "violência institucionalizada", também é tido em alta estima por alas conservadoras do catolicismo canarinho.

Ao contrário da cúpula da CNBB, que virou joão-bobo de simpatizantes de Jair Bolsonaro (PSL) após seu presidente, o cardeal Sérgio da Rocha, dizer em fevereiro que a entidade rejeitará “candidatos que promovam ainda mais a violência” —o que foi assimilado como uma indireta para o capitão reformado.

Na abertura do duelo em Aparecida, o religioso incentivou a "não-violência" nas relações. “Não fomentamos partidarismo, mas convidamos que os cristãos sejam sal da terra e luz do mundo. Esperamos que o debate transcorra no diálogo respeitoso”. Nas redes sociais, um internauta retrucou abaixo de sua imagem: "É um comunista de merda". 

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