Descrição de chapéu Eleições 2018

Ex-assessoras buscam herança eleitoral de Marielle no Rio

Três mulheres que trabalharam com a vereadora assassinada são candidatas nesta eleição

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Rio de Janeiro

Meses antes de ser assassinada com quatro tiros na cabeça, a vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) germinava uma ideia —eleger um deputado estadual popular e progressista que pudesse dar seguimento aos trabalhos na Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio).

Ex-assessoras da vereadora Marielle Franco, Daniela Monteiro, Renata Souza e Mônica Francisco disputam vaga na Assembleia Legislativa do Rio
Ex-assessoras da vereadora Marielle Franco, Daniela Monteiro, Renata Souza e Mônica Francisco disputam vaga na Assembleia Legislativa do Rio - Zô Guimarães/Folhapress

Foi a atuação na comissão que impulsionou Marielle para a vitória em 2016, quando eleita vereadora. De 2007 a 2017, assessorou os mandatos do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ), presidente do comitê e hoje candidato à Câmara dos Deputados.

Negro, jovem e pastor, Henrique Vieira era o quadro do PSOL que atendia aos anseios de Marielle. Quando Henrique desistiu da candidatura, poucos dias antes do assassinato, a vereadora decidiu adiantar um plano que elaborava só para 2020: eleger outra mulher negra, oriunda da favela.

Incumbiu pessoas próximas de convencer uma de suas assessoras, Mônica Francisco (PSOL), 48, a sair candidata a deputada estadual. 

Assim como Henrique, Mônica também é pastora. Do morro do Borel, zona norte do Rio, a ex-assessora é ligada a movimentos populares.

Marielle foi assassinada em 14 de março de 2018. Antes reticente sobre entrar na linha de frente da política, Mônica Francisco decidiu se candidatar cerca de 15 dias depois.

“Ocupar a política institucional, sendo mulher, ainda mais mulher negra, não é algo que você almeja desde criancinha”, afirma ela sobre sua relutância em assumir a candidatura. “Meu primeiro pensamento foi: vou ficar bem quieta porque uma hora alguém vai tocar no assunto depois que passar isso tudo.”

A candidatura de Mônica Francisco é abraçada pela viúva de Marielle, Mônica Benício, que dedica postagens a ela em rede social. “A Mônica era a grande aposta da Marielle, isso também me faz estar ao seu lado hoje”, diz em vídeo.

Anielle Franco, irmã de Marielle, diz que a candidatura de Mônica era a única que a então vereadora dizia apoiar.

​Mônica Francisco, no entanto, é apenas uma das três ex-assessoras de Marielle que concorrem nestas eleições.

A candidatura de Daniela Monteiro, 27, integrante da Insurgência, uma das correntes do PSOL, já estava colocada antes do assassinato. Segundo pessoas próximas a Marielle, a vereadora incentivava Daniela, embora ainda não tivesse se engajado pessoalmente na campanha.

Já Renata Souza (PSOL), 36, decidiu se candidatar somente após a morte da vereadora, a quem conhecia havia 18 anos. Diz ter sido muito amiga de Marielle desde que iniciaram, com um ano de diferença, os estudos na PUC-RJ.

Do Complexo da Maré, conjunto de favelas da zona norte, ambas conseguiram bolsa integral para acessar uma das faculdades particulares mais tradicionais da cidade. Enquanto Renata fez jornalismo, Marielle cursou ciências sociais.

Após anos de militância de esquerda na favela, as duas passaram a trabalhar com Freixo em 2007. 

Renata tornou-se afilhada política do deputado, uma das principais forças do partido, que hoje atua como cabo eleitoral de sua campanha. 

Nas redes sociais, ela se identifica como ex-chefe de gabinete de Marielle. Pouco antes de ser assassinada, a vereadora havia determinado que outra assessora ocupasse o cargo. 

Segundo Renata, esta decisão foi tomada em conjunto, para estabelecer uma chefia rotatória, ocupada por mulheres. Ela nega ter brigado com Marielle e afirma que a relação entre as duas sempre foi “muito tranquila”.

Ainda que o mandato fosse construído coletivamente, também faz questão de ressaltar a importância do cargo que foi a primeira a ocupar.

“A gente sabe que a chefia de gabinete é um lugar onde a pessoa assina pelo parlamentar. Precisa ter uma confiança absoluta”, diz à Folha.

Questionada sobre o motivo de não ter se candidatado antes do assassinato, Renata diz que seu trabalho era estar com Marielle. “O debate de vir ou não candidata sempre rondou, mas eu estava com outra função concreta, que era estar do lado da Marielle.”

Segundo Renata, seu plano para 2018 era fazer a vereadora “brilhar” como vice-governadora do Rio. Marielle era aventada para vice de Tarcísio Motta (PSOL), que concorre ao governo do estado.

A ex-assessora argumenta que não existe uma única sucessora escolhida pela vereadora. “A nossa sociedade, com todo o racismo e machismo históricos, só concede uma negra por vez. A Marielle queria todas as mulheres vindo para este lugar”, afirma Renata.

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