Indústria de armas, agronegócio e parentes doaram a futuros ministros

Chico Marés
São Paulo | Agência Lupa

Dos 20 futuros ministros anunciados pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), cinco são, atualmente, deputados federais: Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que assumirá a Casa Civil, Tereza Cristina (DEM-MS), que ficará com a Agricultura, Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), da Saúde, Osmar Terra (MDB-RS), da Cidadania, e Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG), do Turismo.

Os cinco concorreram em anos anteriores —Osmar Terra, por exemplo, se candidata à Câmara desde 1998.

A Lupa checou quem foram os doadores de campanha deles nas últimas eleições que disputaram.
 

Onyx Lorenzoni (DEM-RS)
Em 2018, Onyx recebeu R$ 1 milhão em doações da direção nacional do DEM e R$ 663 mil de pessoas físicas. Os principais doadores foram Carlos Jereissati (R$ 300 mil), do grupo Iguatemi, e Rubens Ometto (R$ 200 mil), da Cosan, que tem seus principais negócios ligados à cana de açúcar. 

O futuro ministro-chefe da Casa Civil é deputado federal desde 2002, e também se candidatou, sem sucesso, à Prefeitura de Porto Alegre em 2004 e 2008. Neste período, destacaram-se como doadoras de suas campanhas a siderúrgica Gerdau (R$ 510 mil, em cinco eleições) e a fabricante de armas Taurus (R$ 460 mil, em quatro eleições). 

Em sete campanhas eleitorais, Onyx declarou ter recebido R$ 8,149 milhões, em valores correntes.


Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG)
Ao entrar na política, Marcelo Henrique Teixeira Dias adotou como sobrenome o nome do pai, o ex-deputado federal Álvaro Antônio, morto em 2003. O mineiro se elegeu para a Câmara pela primeira vez em 2014 e se reelegeu em 2018. 

Nas duas campanhas, ele e sua mãe, Vilma Penido Dias, foram os principais contribuintes: em 2014, doaram 51% dos R$ 890 mil arrecadados e, em 2018, 74% dos R$ 587 mil —o equivalente a mais de R$ 434 mil.

Em 2016, filiado ao PR, ele se candidatou à Prefeitura de Belo Horizonte e terminou a eleição em nono lugar. A campanha custou R$ 1.090.300 e foi quase integralmente paga pelo partido, que doou na ocasião R$ 1 milhão.
 

Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS)
O futuro ministro da Saúde é deputado desde 2010, mas não tentou reeleição em 2018. Na campanha de 2014, arrecadou R$ 2,114 milhões --sendo que ele próprio contribuiu com R$ 581,5 mil. A Amil, empresa de planos de saúde, doou R$ 100 mil ao candidato naquele ano, assim como o empresário do setor de informática João Roberto Baird, preso recentemente pela Operação Vostok da Polícia Federal.

Na eleição anterior, em 2010, Mandetta recebeu R$ 1,164 milhão em doações. Um total de R$ 993 mil foi pago por um grupo de 19 empresas, das quais três doaram mais de R$ 100 mil: Bigolin Materiais de Construção (R$ 300 mil), Nautilus Engenharia (R$ 265 mil) e Pactual Construções (R$ 150 mil).


Osmar Terra (MDB-RS)
Desde 1998, Osmar Terra se candidata a deputado federal. Na campanha mais recente, neste ano, 89% dos R$ 1,678 milhão que arrecadou vieram do seu partido, o MDB. Foi sua campanha mais cara até agora. 

Em 2014, o futuro ministro arrecadou R$ 954 mil"‚--e suas maiores doadoras foram a JBS, com R$ 200 mil, e a construtora Odebrecht, com R$ 190 mil. A Gerdau também se destaca como contribuinte relevante nas campanhas de Terra: foram R$ 142 mil em 2014 e R$ 50 mil em 2010, somando R$ 192 mil.

Em cinco eleições (desconsiderando 1998, cujas informações detalhadas não estão disponíveis no TSE), Terra arrecadou R$ 3,24 milhões em valores correntes.

Tereza Cristina (DEM-MS)
Assim como o que ocorreu com Onyx, colega da deputada no futuro ministério, a maior parte dos recursos de campanha de Tereza nas eleições de 2018 veio do DEM: R$ 1,35 milhão, de um total de R$ 2,238 milhões. Ometto (R$ 50 mil) e Marcos Lutz (R$ 100 mil), ambos da Cosan, doaram para a candidata, assim como outros empresários de Mato Grosso do Sul.

Em 2014, em sua primeira eleição à Câmara, Tereza recebeu R$ 4,298 milhões. Empresas do agronegócio também foram responsáveis por doações consideráveis, incluindo a Iaco Agrícola (maior contribuinte com R$ 1,025 milhão), a Adecoagro (R$ 600 mil) e a Agro Energia Santa Luzia (R$ 165 mil). Todas atuam em MS. 

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