O arcebispo de Aparecida, dom Orlando Brandes, criticou a direita, que chamou de "violenta e injusta", na missa da manhã deste sábado (12) em homenagem à padroeira do Brasil, no Santuário de Aparecida (SP).
"Temos o dragão do tradicionalismo. A direita é violenta, é injusta, estamos fuzilando o papa, o Sínodo [da Amazônia], o Concílio Vaticano 2º", afirmou.
Dom Orlando "adaptou" o sermão, porém, na celebração da tarde, que tinha entre os ouvintes o presidente Jair Bolsonaro.
“Lembrei dos dragões das ideologias. Ideologias são interesses pessoais tanto da direita, quanto da esquerda”, disse dom Orlando.
O discurso ecoa o arcebispo de Diamantina, dom Darci Nicioli, ex-bispo da arquidiocese de Aparecida, que, neste ano, disse à Folha que a igreja deve “politizar a população” e não pode ser “nem de esquerda nem de direita”.
Em 2016, Nicioli ficou conhecido com um sermão em que falava sobre "pisar na cabeça" da serpente.
Era uma referência à fala feita dois dias antes pelo ex-presidente Lula (PT), já acuado pela Lava Jato, mas ainda em liberdade. "Se quiseram matar a jararaca, não bateram na cabeça, bateram no rabo, e a jararaca está viva como sempre esteve", bradou o petista à época.
Segundo a assessoria da basílica de Aparecida, Bolsonaro é o primeiro presidente em exercício a visitar o templo no dia da padroeira. Outros presidentes que visitaram o local o fizeram quando candidatos.
Bolsonaro chegou ao santuário às 15h55. Sobressaíram-se os aplausos, mas vaias foram ouvidas.
Sentou na primeira fileira e ouviu atento às palavras do missionário irmão Carlos Cunha. Aplaudiu quando ouviu as exclamações “Viva o Brasil! Viva a nossa nação!”.
Recolheu as mãos na sequência, quando as frases proferidas mudaram para “Viva o papa Francisco! Viva o Sínodo da Amazônia!”.
"Pode deixar, pode deixar", respondeu o presidente ao arcebispo, que normalmente conduz apenas a missa solene, após ouvir alguma recomendação ao pé do ouvido.
A Amazônia foi lembrada nas duas celebrações. Pela manhã, dom Orlando elogiou o Sínodo da Amazônia, reunião de religiosos e especialistas dos nove países do bioma com o papa Francisco, que acontece no Vaticano.
"Bendito seja o Sínodo da Amazônia, que está pensando na vida daquelas árvores, daqueles rios, daqueles pássaros, mas principalmente daquelas populações."
A assembleia foi convocada pelo papa há dois anos para debater a ação da Igreja Católica na região e a situação do meio ambiente e dos moradores. São 258 participantes, que se reúnem até o dia 27 de outubro.
O governo Bolsonaro é crítico do sínodo, a quem acusa de violar a soberania brasileira em relação à Amazônia.
Uma hora e meia antes da chegada do presidente, seguranças evacuaram o santuário para revistar a basílica. A atitude incomodou cansados fiéis e preocupou o padre Luiz Cláudio Alves de Macedo.
“Gostaria de lembrar aos seguranças que, às 15h, teremos a missa de Consagração, e não queremos o santuário esvaziado. Recebemos o presidente da República com muita alegria, mas receberemos com mais alegria ainda os demais devotos. Por favor, iniciem a entrada do povo.”
O apelo funcionou. A missa das 15h lotou. A estimativa é que 145 mil pessoas passaram pelo santuário durante todo o dia.
Dentro da basílica, fiéis acompanhavam as missas até mesmo deitados no chão. Entre os que cumpriam promessas, havia aqueles que passaram a noite dormindo na igreja.
Ao longo da tarde, não havia camisetas ou bandeiras de apoio a Bolsonaro, mas o clima era de ansiedade. “Você vai ficar para ver o Bolsonaro? Mas você nunca foi fã dele”, questionou uma mulher ao seu parceiro do lado de fora da igreja.
No altar, Bolsonaro proclamou o “Livro de Ester”. A personagem, em dado momento, se dirige a um rei: “Se for do teu agrado, concede-me a vida —eis o meu pedido!— e a vida do meu povo —eis o meu desejo!”.
O presidente deixou o santuário sem falar com a imprensa, e embarcou para São Paulo, onde deve assistir ao jogo entre Palmeiras e Botafogo, no estádio do Pacaembu, na noite deste sábado.
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