Bolsonaro aponta ao STF e, de novo, pede o relaxamento de regras de isolamento

Supremo decidiu que estados e municípios têm autonomia para determinar o quarentena na pandemia

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Brasília

O presidente Jair Bolsonaro afirmou neste sábado (18) que a política de enfrentamento ao novo coronavírus "mudou um pouco" desde a sexta (17) —quando houve a troca de Luiz Henrique Mandetta por Nelson Teich no Ministério da Saúde— e voltou a se queixar de prefeitos e governadores por adotarem medidas de isolamento social.

Bolsonaro também responsabilizou o STF (Supremo Tribunal Federal) por determinar que os demais entes federados têm poder para ordenar o fechamento de comércios.

“Mudamos a política [de enfrentamento ao coronavírus] um pouco agora, a partir de ontem. Se bem que a decisão foi do Supremo. O Supremo que decidiu que os estados e municípios podem decretar as medidas que acharem necessárias para conter o avanço do vírus. Tem prefeitos aí que cometeram barbaridades", declarou, apontando para o outro lado da praça dos Três Poderes, onde fica o STF.

O presidente Jair Bolsonaro aponta para o STF em vídeo gravado no alto da rampa do Planalto, em Brasília, ao comentar decisão da corte de que estados e municípios têm autonomia para determinar o isolamento social em meio à pandemia do coronavírus
Em abril de 2020, o presidente Bolsonaro aponta para o STF em vídeo gravado no alto da rampa do Planalto, em Brasília, ao comentar decisão da corte de que estados e municípios têm autonomia para determinar o isolamento social em meio à pandemia do coronavírus - Reprodução

"O Supremo falou que eu não tenho autoridade para isso, mas no que depender de nós vamos começar a flexibilizar e mostrar que não é este o caminho. A hora que chegar a conta não queiram colocar, não para mim, para o povo brasileiro", concluiu. As declarações do mandatário foram transmitidas em live do alto da rampa do Palácio do Planalto, em Brasília.

Com recados a Bolsonaro, a Corte decidiu na quarta-feira (15) que estados e municípios têm autonomia para determinar o isolamento social em meio à pandemia do coronavírus.

Nove ministros defenderam que prefeitos e governadores têm competência concorrente em matéria de saúde pública e, portanto, podem regulamentar a quarentena. O ministro Gilmar Mendes chegou a dizer que Bolsonaro “não dispõe do poder para eventualmente exercer uma política pública de caráter genocida".

O presidente foi ao Planalto na tarde deste sábado aguardar uma carreata promovida por setores da Igreja Católica, organizada pelo padre Pedro Stepien.

Ele deixou o Palácio da Alvorada, residência oficial, pouco depois das 15 horas e seguiu para o Planalto. Do alto da rampa, Bolsonaro conversou com assessores a acenou para apoiadores em frente ao edifício.

Ao perceberem que o presidente estava na área externa do Palácio, simpatizantes pararam em frente ao local. Por volta das 16h, chegou o grupo católico liderado por Stepien, que passou a gritar palavras de ordem contra o aborto.

O presidente então desceu a rampa para conversar com os cerca de 50 apoiadores que estavam aglomerados no local. Eles entregaram uma imagem religiosa e uma bandeira contra o aborto ao presidente.

Em um dos vídeos da manifestação que não tratou sobre o isolamento, uma apoiadora fala que a “Esmeralda” avisou que Bolsonaro já estava aguardando os participantes no Planalto.

“Presidente está esperando a gente”, disse ela a um dos administradores do perfil Cafezinho com Pimenta, que apoia o presidente e, no momento, fazia a transmissão online. Entre os manifestantes presentes em frente ao Palácio do Planalto, estava Sara Winter, uma das principais influenciadoras bolsonaristas.

Diante de seus simpatizantes, o presidente investiu novamente contra as ordens de fechamento de comércio tomadas por governadores.

"Quem decide a questão de fechamento [do comércio] são prefeitos e governadores. Está na mãos deles começar a partir para a normalidade. O vírus, 70% [da população] vai ser contaminada, não adianta. Se não for hoje é semana que vem ou mês que vem. Devemos cuidar dos mais idosos e dos que têm problema de saúde. Os demais, logicamente ter cuidado, mas saber que tem que trabalhar. O país não vai para frente, vamos perder muito, vai complicar a vida de muita gente", disse.

"Não tem que se acovardar tendo esse vírus na frente. Vamos tomar cuidado, mas vamos enfrentar de cabeça erguida. Isso vai passar e temos tudo para voltar à normalidade. Repito, não depende de mim reabrir o comércio. Se depender de mim, muito mais coisa estaria funcionando".

Sem nominar a quem se referia, Bolsonaro sugeriu ainda que alguns políticos querem "abalar a presidência da República". "Não vão me tirar daqui, tenham certeza", afirmou.

Nesse momento, simpatizantes que estavam em frente ao Planalto passaram a gritar "fora Maia", numa referência ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), alvo de recentes ataques do presidente.

No final da tarde, questionado sobre sua relação com Maia, Bolsonaro desconversou: "não tenho relação, sou casado com a dona Michelle".

Mais cedo, quando estava no alto da rampa do Planalto, Bolsonaro foi indagado sobre a última pesquisa Datafolha, que indicou que 64% dos brasileiros reprovam a demissão de Mandetta do comando do Ministério da Saúde.

O presidente ironizou o instituto e disse não se preocupar com pesquisas de opinião. "Não estou preocupado com pesquisa, estou preocupado com o Brasil", disse. "Datafolha é isso aqui...", complementou, apontando para cerca de 20 apoiadores que, no momento, estavam em frente ao Planalto.

Depois de participar do ato em frente ao palácio, Bolsonaro promoveu mais um de seus passeios por Brasília.

Do Planalto, ele foi à praça que fica em frente ao Quartel-General do Exército, onde tirou fotos com populares que estavam no local. Em seguida, antes de retornar ao Palácio da Alvorada, o mandatário parou na Praça dos Três Poderes, onde comprou um picolé.

Embora menores do que a do Palácio do Planalto, houve aglomerações nos dois locais —o que contraria recomendações de especialistas em saúde pública, que defendem ações de isolamento social para reduzir a propagação da Covid-19.

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