PF pede ao STF mais 30 dias para concluir investigação sobre interferência na PF e quer ouvir Bolsonaro

Prorrogação é natural e foi necessária porque governo ainda não respondeu alguns questionamentos

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Brasília

A Polícia Federal pediu nesta sexta-feira (29) ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Celso de Mello mais 30 dias para concluir o inquérito que apura se o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) interferiu na corporação.

O pedido foi feito pela delegada Christine Machado, que conduz as investigações.

A Polícia Federal afirmou que um dos próximos passos do inquérito sobre interferências na PF será tomar o depoimento do presidente Jair Bolsonaro.

​A Folha mostrou na terça (26) que o procurador-geral da República, Augusto Aras, já avaliava solicitar até a semana que vem ao ministro Celso de Mello, relator do caso, o depoimento de Bolsonaro nas novas diligências que os investigadores devem encaminhar à corte.

A oitiva de Bolsonaro é considerada fundamental para elucidar os fatos em apuração, tendo em vista que algumas das principais suspeitas sobre o mandatário decorrem de falas dele próprio em aparições públicas e no vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, divulgado na última sexta-feira.

Conforme o Código do Processo Penal, o presidente tem a prerrogativa de depor em local, dia e hora previamente ajustados com o magistrado.

Também pode optar por dar as explicações por escrito. Nesse caso, diz a lei, as “perguntas, deferidas pelo juiz, Ihes serão transmitidas por ofício”.

A prorrogação é um ato natural ao processo. De acordo com pessoas ouvidas pela Folha, alguns questionamentos encaminhados ao governo ainda não foram respondidos.

A PF aguarda, por exemplo, o ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Augusto Heleno, responder sobre as reclamações ou dificuldades na escolha de nomes na segurança de Jair Bolsonaro e de seus familiares.

Em ofício encaminhado ao Planalto no dia 19, a PF fez quatro pedidos ao ministro para tentar entender se o presidente da República se referia a sua segurança pessoal ao ameaçar mudanças no Rio durante reunião ministerial em 22 de abril.

A polícia cobra de Heleno informações sobre as trocas ocorridas no comando da chefia da segurança de Bolsonaro e família no anos de 2019 e 2020 e o detalhamento de "eventuais óbices ou embaraços" a nomes escolhidos para a função.

Os policiais também aguardam a perícia do celular do empresário Paulo Marinho. O aparelho do ex-aliado do presidente foi entregue na quinta (28) aos peritos da Superintendência da PF no Rio.

Marinho, em entrevista à Folha, afirmou que o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) teve acesso a informações privilegiadas da PF entre o 1º e 2º turno das eleições de 2018.

O empresário disse que um delegado da Polícia Federal vazou de investigações que alcançariam Fabrício Queiroz, ex-assessor do gabinete do filho do presidente na Assembleia Legislativa do Rio quando ele ainda era deputado estadual.

As investigações contra o presidente Jair Bolsonaro foram abertas em abril, a pedido da PGR, após ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, acusar o presidente de tentar interferir no comando da PF e Superintendência do Rio. Bolsonaro nega a acusação.

Até o momento, a PF já colheu depoimentos de Moro, delegados, ministros e políticos para embasar o relatório final. Bolsonaro deve ser ouvido nas próximas semanas. Além disso, os investigadores juntaram o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril onde Bolsonaro anuncia intervenção nos ministérios.

Os elementos colhidos até agora no inquérito que apura as acusações de interferência do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal reforçam a narrativa do ex-ministro sobretudo em relação ao Rio de Janeiro.

Oito depoimentos prestados confirmaram a versão de Moro de que o presidente, desde agosto do ano passado, queria trocar o então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo. E sete acrescentaram o desejo dele de mexer no comando da Superintendência do Rio.

Entretanto, de acordo com investigadores, as informações obtidas não caracterizariam neste momento, isoladamente, um crime —embora ajudem a compor um retrato mais amplo da atuação de Bolsonaro.

​O inquérito foi aberto pelo ministro Celso de Mello a pedido do procurador-geral da República, Augusto Aras, a quem caberá decidir sobre denúncia ou arquivamento.

Se Bolsonaro for denunciado, a Câmara aprovar o prosseguimento e o STF aceitar a abertura de ação penal, ele é afastado do cargo automaticamente por 180 dias.

Os crimes investigados são: falsidade ideológica, coação no curso do processo, advocacia administrativa, obstrução de Justiça, corrupção passiva privilegiada, prevaricação, denunciação caluniosa e crime contra a honra.

De acordo com interlocutores do PGR, Moro pode ser enquadrado nos três últimos, e Bolsonaro, nos seis primeiros.

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