Delegada da PF tentou barrar ação do Supremo contra aliados de Bolsonaro

Denisse Ribeiro alegou risco à estabilidade das instituições e pediu postergação de operação em inquérito sobre atos pró-golpe

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Brasília

A delegada Denisse Dias Rosas Ribeiro, da Polícia Federal, tentou barrar a operação de busca e apreensão contra apoiadores e deputados bolsonaristas suspeitos de envolvimento em atos antidemocráticos.

Denisse alegou “risco desnecessário” à estabilidade das instituições ao pedir ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, relator do caso, a postergação ou até o cancelamento da ação.

"A realização conjunta das diversas medidas propostas em etapa tão inicial da investigação tem o potencial de gerar um grande volume de dados, relativos a várias pessoas que estão teoricamente vinculadas a diversos fatos, dispersando a energia do estado para múltiplos caminhos e com risco de aumento do escopo em progressão geométrica, o que inevitavelmante tornará a investigação mais compexa, ainda que, de fato, ela não seja", disse ela no pedido.

"Com isso, ela [a investigação] se tornará menos objetiva, menos transparente, mais onerosa e —o principal, quando se trata do tipo de associação criminosa aqui tratada— muito mais lenta, com risco desnecessário para as vítimas em potencial e para a própria estabilidade das instituições", completou.

Na terça-feira (16), a PF cumpriu 21 mandados de busca e apreensão solicitados pela PGR (Procuradoria-Geral da República). Entre os alvos, estavam um advogado e um marqueteiro ligados à Aliança pelo Brasil, partido que Jair Bolsonaro (sem partido) tenta criar.

O pedido de Denisse, feito em 4 de junho, foi revelado pelo jornal O Globo e confirmado pela Folha.

A delegada, inicialmente responsável por executar os mandados, enviou a manifestação ao STF uma semana após ter recebido a decisão de Alexandre de Moraes, de 27 de maio. A PGR foi contra.

A Folha não conseguiu contato com a delegada citada. Procurada, a PF não se manifestou. A resistência de Denisse às medidas atrasou a ação contra aliados do presidente e levou a PGR a pedir o seu afastamento do caso.

A investigação foi aberta em 20 de abril, um dia após a participação de Bolsonaro em um ato a favor da intervenção militar, em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília.

Um dos alvos foi o advogado Luís Felipe Belmonte, fundador e segundo vice-presidente do Aliança. Ele admitiu auxílio na organização de ao menos um dos atos antidemocráticos realizados em Brasília.

​Moraes determinou também a quebra de sigilo bancário de dez deputados e um senador que fazem parte da base de Bolsonaro no Congresso, com a intenção de seguir o rastro do dinheiro que pode estar financiando os grupos considerados antidemocráticos.

Os alvos da quebra de sigilo bancário são os deputados Daniel Silveira (PSL-RJ), Junio do Amaral (PSL-MG), Otoni de Paula (PSC-RJ), Caroline de Toni (PSL-SC), Carla Zambelli (PSL-SP), Alessandra da Silva Ribeiro (PSL-MG), Beatriz Kicis (PSL-DF), General Girão (PSL-RN), José Guilherme Negrão Peixoto (PSL-SP) e Aline Sleutjes (PSL-PR), além do senador Arolde de Oliveira (PSC-RJ).

Eles negam irregularidades.

O presidente é crítico das ações do STF contra seus aliados e, reiteradamente, faz ameaças e advertências a ministros da corte.

O ministro Celso de Mello, do STF, tornou pública a íntegra do vídeo da reunião ministerial citada pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro como um indício de que o presidente desejava interferir na autonomia da Polícia Federal.

O vídeo da reunião de 22 de abril mostrou grande preocupação de Bolsonaro em ser destituído, tendo o presidente da República revelado, ainda, contar com um sistema de informação particular, alheio aos órgãos oficiais, reforçando as indicações de interferência política na Polícia Federal.

O presidente nega as acusações de Moro.

Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior desta reportagem identificou o advogado Luís Felipe Belmonte erroneamente como Luís Fernando. O texto foi corrigido.

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