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Como repensar a ciência política em tempos de coronavírus

Governos tiveram que ativar mecanismos legais de exceção para enfrentar o vírus

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Carlos Builes
Latino América 21

A emergência sanitária causada pela pandemia do coronavírus no mundo deslocou os grandes e tradicionais objetos de pesquisa da ciência política. Na busca por autonomia disciplinar, a ciência política vem conquistando um campo de conhecimento dentro das ciências sociais que é cada vez mais respeitado entre as diferentes comunidades acadêmicas.

A construção de seu campo de conhecimento, entretanto, só é fortalecida na medida em que diferentes movimentos e tendências dentro da ciência política entram em uma relação de força para dominar este campo.

Tradicionalmente, tanto nos Estados Unidos como na Europa, o método quantitativo tem sido amplamente aceito, assim como em diferentes comunidades latino-americanas. O poder das estatísticas deu confiança à ciência política para apresentar suas contribuições ao mundo acadêmico com maiores critérios científicos.

Desde o surgimento da pandemia, houve a necessidade de falar em termos científicos, especialmente no campo da saúde e das estatísticas. A relação entre saúde, tecnologia e estatística se tornou a voz dominante em meio à perplexidade global e à incerteza causada pela chegada do vírus mortal, a Covid-19.

Os governos nacionais, regionais e locais tiveram que ativar mecanismos legais de exceção para poder enfrentar o vírus desconhecido. Como em tempos de guerra, o Poder Executivo concentrou em si mesmo, o poder científico, político, legal e militar; e milhões de cidadãos em todo o mundo foram forçados ao confinamento, o que causou, em muitos casos, o abandono de seus empregos e até mesmo de suas liberdades individuais, sociais e políticas, tudo pela saúde, pela vida, como constantemente afirmado pelos governantes.

Além disso, para a ciência política, o vírus causou um deslocamento social que dificilmente pode compreender e interpretar. A presença e o poder do discurso médico na arena pública imobilizaram muitos atores sociais, políticos e intelectuais que energizaram constantemente a vida dos Estados no mundo.

Diante deste cenário incerto de crise na saúde pública e na saúde democrática, vale a pena perguntar que papel a ciência política deve desempenhar hoje.

Neste sentido, a ciência política deve retornar às suas origens como ciência social e denunciar e silabar às sociedades os abusos ou transbordamentos legais e políticos dos atores do poder que, nos estados de exceção, estão assumindo a liderança nos tempos do coronavírus. Além disso, a salvaguarda da necessária conexão democrática entre a vida dos cidadãos e a vida das instituições em tempos de mudança e incerteza é um desafio no meio do confinamento preventivo obrigatório.

Um segundo desafio para a ciência política é organizar toda sua estrutura metodológica e conteúdo para pensar e repensar as novas instituições públicas nacionais, regionais e locais que respondem às complexas relações entre saúde pública e saúde democrática, fazendo um diálogo transversal com diferentes conhecimentos, tais como ciências da saúde, engenharia e ciências humanas, a fim de dar luzes locais e nacionais à chamada "nova normalidade".

Carlos Builes é professor e diretor da Faculdade de Ciências Políticas da Pontifícia Universidade Bolivariana de Medellín. É pesquisador júnior da Colciencias e Presidente da Associação Colombiana de Ciência Política (ACCPOL).

www.latinoamerica21.com, um projeto plural que dissemina diferentes visões da América Latina

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