Cortina da história política do Amazonas se fecha para caciques, diz David Almeida

Em disputa em Manaus, ex-governador interino tenta derrotar Amazonino Mendes

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Manaus

O ex-governador interino David Almeida (Avante), 51, disputa o segundo turno neste domingo (29) para comandar a capital do Amazonas. Ele concorre com o mais idoso entre os candidatos de capitais nesta segunda etapa, o ex-governador Amazonino Mendes (Podemos), 81.

Entre os nomes que não conseguiram votos suficientes nas urnas no último dia 15, está um coronel amigo de Jair Bolsonaro e um dos poucos no país apoiados declaramente pelo presidente.

homem de máscara faz campanha de rua em meio a multidão
David Almeida (Avante) em campanha no segundo turno pela Prefeitura de Manaus - David Almeida no Facebook

Bacharel em direito formado pela Universidade Luterana de Manaus (Ulbra), ele disputa pela primeira vez o cargo de prefeito. Foi deputado estadual por três mandatos consecutivos (2007-2018) e, em 2017, assumiu o cargo de governador interino do Amazonas, após a cassação da chapa do ex-governador José Melo (PROS).

Nascido em Manaus, Almeida foi eleito em 2016 deputado estadual pela primeira de três vezes consecutivas. Já passou por oito partidos, até assumir a presidência do Avante no Amazonas, em 2019.

Depois da passagem pelo governo do Amazonas, Almeida trocou o PSD pelo PSB e se candidatou a governador em 2018, mas não foi eleito.

No primeiro turno das eleições municipais de 2020, Almeida teve 22,36% dos votos, contra 23,91% de Amazonino Mendes (Podemos).

Agora, no segundo turno, ele aposta na rejeição ao seu concorrente à prefeitura de Manaus e nas “limitações” que, segundo Almeida, as “comorbidades” de Amazonino Mendes, 81, impõem à gestão dele em meio à pandemia, como uma das alavancas para a vitória.

*

Como o candidato vê os resultados do 1º turno? No Amazonas eu posso parafrasear a música do Cazuza: eu vejo o futuro repetir o passado. O que eu vejo? Em 1981 o povo cansou dos militares e queria eleger um governador civil. Aqui no Amazonas, elegeu Gilberto Mestrinho. Ele assumiu em 1982 e o grupo dele governou por 36 anos.

Em 2018 a população cansou de uma geração de políticos chamado caciques e disse isso já no primeiro turno, votando 78% contra o Amazonino, o “filho mais velho” de Gilberto Mestrinho. Em 2020, essa mesma população confirma o que se iniciou em 2018, então neste momento nós estamos passando por uma transição: a cortina da história política do Amazonas se fecha para uma geração chamada caciques, que já tiveram todas as oportunidades de mudar o estado e a cidade de Manaus e não o fizeram.

Qual sua relação com o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), e o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB)? Eu venho há três eleições lutando contra todos os caciques, todos os governadores e ex-governadores. Em 2017 eu estava contra Amazonino [Mendes] e Eduardo [Braga (MDB, ex-governador do Amazonas]. Em 2018 o Amazonino e Eduardo estavam juntos e eu estava contra eles, contra o Wilson Lima, atual governador, contra o Alfredo [Nascimento (PL)], contra o Arthur. Em 2020 eu continuo contra todos eles.

Como o candidato vê a reprovação dos candidatos do presidente Bolsonaro em Manaus? Os extremos não são o melhor caminho. Aqui em Manaus o presidente Bolsonaro goza de um prestígio muito grande. Só que o candidato que ele escolheu não tem o mesmo perfil que ele, não tem a mesma aceitação.

Uma coisa é você ser o candidato, outra coisa é você apoiar o candidato. Eu vejo que ele tem muita aprovação na cidade de Manaus, porém ele não é o candidato e, na minha concepção, ele escolheu o candidato errado. Mas a escolha dele é dele, não vou discutir a escolha que ele fez.

Qual sua avaliação sobre a gestão de Jair Bolsonaro? Estamos vivendo um momento muito atípico no Brasil, com uma pandemia. Eu sou a favor da ciência, sou a favor do diálogo... eu convirjo muito com as ideias dele com relação a Deus, à pátria, aos bons costumes, defesa dos valores da família na sociedade. Ele defende outras pautas que eu não defendo, mas convergimos na maioria das pautas que ele defende.

Eu prefiro falar das que nós convergimos, prefiro ficar nas convergências, não nas divergências. E aqui ele [Bolsonaro] tem muito prestígio e tem muito voto, ele precisa ajudar a cidade de Manaus e eu vou em busca dessa ajuda.

Se já fosse prefeito em 2019, teria tomado medidas diferentes para conter a pandemia?
Tudo é muito novo, ninguém tem certeza de nada em relação à Covid-19. Eu sei que o próximo prefeito precisa, essencialmente, reservar recursos para imunizar a população. Mas eu não posso falar porque eu não estava. Se acertou ou não, a história vai dizer.

O que o senhor considera que seja o maior problema de Manaus e qual sua proposta para solucioná-lo?
São muitos problemas, e um dos mais urgentes a serem resolvidos é o transporte coletivo. Esse precisa ser resolvido, com urgência, com melhores investimentos, monitoramento, controle, renovação da frota e intervenção viária para aumentar a velocidade média de 14 km/h para 25 km/h.

Qual sua principal proposta para a educação em 2021?
Vamos criar o programa Prato da Criança e dar o almoço da criança na escola, criar aula de reforço no contraturno para recuperar o tempo perdido de 2020, dobrar a carga dos professores. Hoje temos 5.200 [vagas em creches] e, em um ano, a minha proposta é abrir mais 7.000 novas vagas.

Vou economizar na construção e no custeio, porque vou comprar vagas em creches particulares, da igreja católica, da igreja evangélica, que tenham projetos educacionais.

O senhor é favorável à retomada das aulas 100% presenciais a partir do início de 2021?
As aulas iniciam no mês de fevereiro, março. Acredito que até lá a população já possa estar imunizada. Este primeiro semestre ainda é uma incógnita. Vamos usar o primeiro semestre de 2021 para nos adaptarmos da melhor maneira possível sem colocar as crianças e os profissionais da educação em risco.

Então se até março não tiver vacina isso pode atrasar o retorno das aulas presenciais?
Naturalmente.

Muitos candidatos prometeram armar a guarda municipal. Qual sua proposta?
Isso [armamento da guarda] pode acontecer da seguinte forma: a Senasp [Secretaria Nacional de Segurança Pública] tem recursos para equipar as guardas municipais, dando a ela um quartel general, uma corregedoria, equipamentos. Além disso temos uma proposta de convênio com a Polícia Militar para comprar a folga dos policiais militares para atuar nos locais de maiores fluxos de pessoas.

Como prefeito, qual sua posição sobre a Zona Franca de Manaus?
A ZFM foi prorrogada por 50 anos a nível federal, só que a nível estadual os incentivos fiscais acabam em 2023. Vai ser uma das primeiras medidas: procurar o governo do estado para que nós possamos discutir essa lei de incentivo fiscal estadual e garantir segurança jurídica às empresas que já estão instaladas e queiram se instalar no pólo industrial.

Como você avalia seu concorrente, o candidato Amazonino Mendes?
Alguém que já realizou pelo estado, que tem um legado, porém eu não o vejo, hoje, em condições de resolver os problemas da cidade de Manaus. Não é nem pela sua idade, mas pela sua condição hoje, de saúde. Ele tem muitas comorbidades e, em um ano de pandemia, não se pode administrar Manaus de dentro de casa.

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