Fora das capitais, novos prefeitos tendem a deslocamento para a direita

Resultado nas mais de 5,5 mil cidades do país indica que partidos ao centro, como PP e MDB, ganharam cidades que estavam mais à esquerda

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São Paulo

Se nas capitais houve tendência de leve deslocamento ideológico para a esquerda, no conjunto total de cidades do país o movimento foi diferente, com movimentação em direção à direita.

Em grande parte, o movimento pode ser explicado pelo avanço de partidos de centro, como PP e MDB, que conquistaram cidades que estavam mais à esquerda.

A Folha comparou os partidos dos mais de 5,5 mil prefeitos eleitos em 2016 com os dos vencedores do pleito deste ano (ou do primeiro colocado agora, onde haverá segundo turno).

As siglas foram classificadas pelo GPS Ideológico, ferramenta da Folha que coloca pessoas e instituições numa reta, do ponto mais à direita ao mais à esquerda do espectro político, segundo o perfil dos seguidores de seus membros no Twitter (veja aqui a reta completa).

Em relação ao pleito de quatro anos atrás, 999 partidos dos eleitos agora ficaram mais à direita na reta. Em 547 cidades, o partido do vencedor está mais à esquerda.

Em outras 3.965 localidades não houve mudança significativa.

Das cidades que foram para a direita, o PP foi o que mais ganhou municípios (121). A agremiação ganhou postos especialmente do PSB (38) e do PDT (37), ambos à sua esquerda.

O MDB foi o segundo maior beneficiário da migração em direção à direita (acrescentou 107 cidades que estavam à sua esquerda). A agremiação levou 39 cidades que haviam eleito o PSB há quatro anos; 30 que eram do PDT; e 29 do PT.

Em todas as regiões do país houve mais cidades caminhando para a direita do que para a esquerda (não necessariamente elas passaram a ser de direita, mas que caminharam para essa direção).

As maiores mudanças na ideologia ocorreram em Nova Resende (MG) e Saudades (SC), onde o vencedor de 2016, PT, dará lugar ao PSL. Essa alteração significa deslocamento de 71 pontos numa escala até 100 (é a diferença entre os dois partidos).

Esse avanço do PSL, porém, foi limitado. O partido, um dos mais à direita na reta ideológica, conseguiu conquistar apenas 88 cidades que estavam à sua esquerda, mesmo tendo o segundo maior fundo eleitoral do país, atrás apenas do PT.

A verba é distribuída segundo os votos na eleição anterior e o divisão das bancadas no Congresso (que o PSL encorpou, na carona da eleição do presidente Jair Bolsonaro em 2018, que depois deixou a agremiação).

O fortalecimento nestas eleições das legendas integrantes do chamado centrão (casos do PP, DEM e PSD) fez aliados próximos a Bolsonaro defenderem que o presidente precisa aumentar os laços com esse grupo, visando o pleito de 2022.

Ainda que cientistas políticos vejam como limitada a relação dos resultados dos pleitos municipais com o federal, sempre dois anos depois, estudos mostram que uma boa base nos municípios pode ao menos influenciar na composição da Câmara Federal.

Entre as cidades que se deslocaram para a esquerda, o maior beneficiado foi o PDT (ganhou 153 municípios). O partido venceu 39 cidades que eram do MDB e 28 do PSDB.

A maior guinada à esquerda ocorreu em Brejo do Piauí (PI), onde o PTC dará lugar ao PT.

Esse deslocamento para a esquerda foi mais marcante nas capitais. Conforme a Folha mostrou em reportagem na segunda-feira (16), em quatro dessas maiores cidades houve movimento em direção à esquerda (Belém, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre).

Em apenas uma capital, Cuiabá, o deslocamento foi para a direita. Não houve mudança significativa nas demais.

"A onda bolsonarista parece ter arrefecido, com os resultados preliminares da eleição, mais nas grandes capitais. Os efeitos da pandemia, a crise econômica e o maior acesso a informações fazem com que esse tipo de retração de popularidade aconteça primeiro nas grandes metrópoles”, afirmou Pedro Bruzzi, fundador da Arquimedes, consultoria política com base em redes sociais.

“Nas cidades menores, de menor renda também, essa queda pode ter sido mitigada pela importância relativa do auxílio emergencial. Movimentos e candidatos mais associados com pautas identitárias também são mais frequentes nas capitais”, completou Bruzzi.

METODOLOGIA

A posição dos influenciadores na reta é calculada a partir do perfil de 1,7 milhão de usuários do Twitter no Brasil, com interesse em política (foram excluídas contas que um modelo matemático classificou como possíveis robôs).

O algoritmo do GPS Ideológico busca encontrar padrões nos perfis de seguidores entre os influenciadores (veja aqui a metodologia completa).

O modelo capta, por exemplo, que usuários que seguem o vereador Carlos Bolsonaro tendem a seguir também o deputado Flávio Bolsonaro e o jornalista Alexandre Garcia. Esses ficam próximos na reta.

Mas esses seguidores tendem a não seguir contas como do petista Fernando Haddad, da comentarista Gabriela Prioli e do cantor Emicida. Esses três ficam próximos na reta, mas distantes dos Bolsonaros e de Alexandre Garcia.

Ou seja, a posição na reta depende do perfil dos seguidores do influenciador, não necessariamente mostra a ideologia da conta (ainda que haja uma forte correlação entre o perfil de seguidores e o perfil do influenciador).

Autor do algoritmo que foi adaptado para o GPS Ideológico, o cientista político Pablo Barberá (Universidade do Sul da Califórnia e London School of Economics) afirma em seus trabalhos acadêmicos que, ao seguir uma pessoa, via de regra o usuário tem afinidade com esse perfil.

Isso porque a pessoa passará a visualizar mais tuítes desse usuário. E receber conteúdo de alguém sem afinidade é algo custoso, em termos de tempo e de atenção – por isso, tende a ser exceção.

Para o cálculo da posição do partido na reta, foram consideradas as posições dos seguidores de seus principais membros (como deputados e governadores).

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