Descrição de chapéu Eleições 2020

Aos 26 anos, eleito do PSL em reduto petista tem apoio de ministro denunciado e bênção de Luciano Hang

Gustavo Nunes venceu eleição em Ipatinga (MG) contra clãs políticos locais e teve pedido de voto de Bolsonaro

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São Paulo

"Alô, meu presidente. Agradeço imensamente o seu apoio e pode ter certeza que nós não vamos decepcionar o senhor", disse o vereador Gustavo Nunes (PSL), 26, em um vídeo no qual reagia ao apoio de Jair Bolsonaro (sem partido) à sua candidatura à Prefeitura de Ipatinga, no Vale do Aço de Minas Gerais.

Bolsonaro havia pedido voto em Gustavo e em outros candidatos numa de suas transmissões ao vivo nas redes sociais, no início de novembro.

"Quem acredita em mim, eu peço que acredite nos candidatos desses municípios", afirmou o presidente. "Por exemplo, Ipatinga. Tem um garoto lá... Gustavo Nunes, [número] 17, está no PSL. Se puder votar nele, agradeço."

Com o apoio de Bolsonaro, a campanha mais cara da cidade e com um forte discurso anticorrupção, Gustavo Nunes foi eleito com 40% dos votos válidos no município mineiro de 265 mil habitantes.

O prefeito eleito de Ipatinga, Gustavo Nunes (PSL), ao lado do ministro Marcelo Álvaro Antônio (Turismo)
O prefeito eleito de Ipatinga pelo PSL, Gustavo Nunes (segundo, da esq. para a dir.), ao lado do ministro Marcelo Álvaro Antônio (Turismo). Eles seguram uma camisa do Ipatinga Futebol Clube - @gustavonunesipatinga no Instagram

Foi uma das principais vitórias no país do PSL, partido que abrigou Bolsonaro em sua campanha à Presidência da República em 2018, mas não conseguiu eleger nenhum prefeito neste ano em cidades com mais de 200 mil eleitores —aptas a terem segundo turno.

Ipatinga, cuja eleição ainda é definida em primeiro turno, foi um dos maiores municípios onde o PSL foi bem-sucedido.

O partido na cidade tem um histórico de forte influência de Roberto Silva Soares, o Robertinho Soares, que foi assessor do ex-deputado Marcelo Álvaro Antônio, hoje ministro do Turismo.

Robertinho é ex-presidente municipal do partido. Alvo de investigação no escândalo dos laranjas do PSL, revelado pela Folha, chegou a preso em junho de 2019 e foi denunciado junto com o ministro.

Neste ano, o PSL ipatinguense acabou lançando Gustavo Nunes, que havia ficado como suplente de vereador nas eleições de 2016 e assumido um assento na Câmara apenas em 2019, quando integrantes da Casa foram cassados.

Apesar de ter sido um reduto petista nos últimos 30 anos, a cidade tem sofrido com uma política turbulenta e judicializada, que provocou a troca precoce de diversos prefeitos e mudou o humor dos habitantes. Em Ipatinga, no segundo turno de 2018, Bolsonaro teve 74% dos votos válidos.

Apesar da idade e da pouca experiência política, Gustavo Nunes conquistou 45.980 votos nas eleições municipais e ficou à frente de caciques da política local como o atual prefeito Nardyello Rocha (Cidadania), o ex-prefeito Sebastião Quintão (MDB), que concorria como vice do DEM, e o ex-prefeito João Magno (PT).

Teve uma receita na campanha de R$ 970 mil, dos quais R$ 698 mil foram repassados pelo PSL estadual referentes ao fundo público eleitoral. O segundo lugar, o prefeito Nardyello, teve receita de R$ 610 mil.

Segundo o presidente do PSL de Minas Gerais, o deputado federal Charlles Evangelista, o partido apostou em Gustavo porque pesquisas internas apontavam que a população da cidade "queria um candidato com o perfil dele, de fora de grupos políticos tradicionais, que poderia fazer a ruptura daquela política antiga de Ipatinga".

Em campanha, Gustavo Nunes fez promessas como a de “fechar a torneira da corrupção” e “revisar todos os contratos públicos, corrigindo falhas e rescindindo os superfaturados”.

Depois de eleito, uma das suas primeiras agendas foi ir a Brasília para encontrar Marcelo Álvaro Antônio.

O ministro foi denunciado pelo Ministério Público sob acusação de falsidade ideológica eleitoral, apropriação indébita de recurso eleitoral e associação criminosa. Ele tem negado as acusações.

Outra agenda do prefeito eleito foi uma ida a Brusque (SC) para encontrar o empresário Luciano Hang, da Havan, conhecido apoiador do presidente Jair Bolsonaro.

“Está aqui hoje comigo o prefeito e o vice-prefeito eleitos de Ipatinga, em Minas Gerais. Pra quê? 'Luciano, precisamos de uma loja em Ipatinga’. [Ele está] buscando investimentos, buscando empreendedores e buscando empregos para a sua cidade”, afirmou Hang.

Segundo Hang, para instalar uma loja na cidade o único pedido que ele faz à prefeitura é que não haja burocracia e que o trabalho da aprovação de projetos seja rápido.

Procurado pela reportagem, Gustavo Nunes respondeu a perguntas apenas por meio de sua assessoria, por escrito. Afirmou que pretende aplicar valores de “verdade, honestidade, transparência, respeito, fé e família” na administração da cidade.

Sua coligação tinha apenas o PSL e o PSC, que elegeram 3 dos 19 vereadores da cidade. Questionado se irá governar com as outras forças políticas do município, não detalhou.

Disse que o único compromisso que tem “é com o povo”. “O relacionamento entre nosso governo e a Câmara e o Judiciário será de respeito e em prol do povo, cada um exercendo o seu papel, mas todos visando o bem comum.”

Ele afirma que conheceu Bolsonaro quando o presidente foi a Ipatinga, em agosto. Já sobre Hang, diz que por fazerem “parte de uma mesma linha ideológica”, amigos em comum falaram sobre ele para o empresário e eles só se conheceram pessoalmente na quinta (26).

Gustavo Nunes não vê contradição entre o seu discurso anticorrupção e a proximidade com Marcelo Álvaro Antônio, porque o ministro não tem condenação. “Acredito que a lei está para todos e, conforme a Constituição, até que se prove o contrário, somos todos inocentes”, afirma.

Ele afirma que conheceu Álvaro Antônio no ano passado, quando se filiou ao PSL (antes, foi do PTC), e desde então construiu "uma relação de respeito e amizade".

Já Robertinho Soares, segundo ele, apoiou a sua campanha apenas como "entusiasta do projeto e filiado ao PSL".

Questionado se ele terá alguma participação na futura gestão, afirmou que ainda não há cargos definidos, e que eles serão ocupados por pessoas "tecnicamente capazes e com expertise para exercer as funções".

“Entretanto, assim como o Ministro Marcelo Álvaro, ele não tem nenhum processo transitado em julgado, portanto não teria nenhum impedimento legal caso quisesse assumir qualquer cargo público”, diz.

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