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Eleições 2020

Aumento da abstenção reflete contrastes de SP, de reação do centro a desalento da periferia

Nas áreas onde Covas mais cresceu do 1º para o 2º turno, alta do não comparecimento ficou abaixo da média; com Boulos, ocorreu o contrário

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Alessandro Janoni

Diretor de Pesquisas do Datafolha

Bruno Covas (PSDB) conseguiu mais de 52 mil votos na zona eleitoral do Jardim Paulista, região de alta renda da capital paulista. Nessa área, em votos válidos, deu de lavada em Guilherme Boulos (PSOL) –73% contra 27%.

Em números absolutos, o prefeito poderia ter ficado com menos se o padrão de abstenção do primeiro turno se repetisse –o comparecimento nessa zona foi maior no segundo do que no primeiro.

Boulos teve mais de 62 mil votos e chegou e bater o tucano por 56% a 44% em Cidade Tiradentes, extremo leste, área de baixa renda familiar.

Poderia ter conseguido mais se a abstenção na região não tivesse crescido em patamar superior a 8% em relação ao primeiro turno, índice que, comparado à eleição de 2016, apresenta um aumento consolidado de 54%.

Os dois exemplos ilustram o contraste de efeitos da abstenção sobre os finalistas. Nas áreas onde Covas mais cresceu do primeiro para o segundo turno, o aumento na taxa de abstenção em período equivalente ficou abaixo da média. Nas regiões onde Boulos mais evoluiu, aconteceu o contrário –a ausência do eleitor subiu em maiores proporções.

Na cidade como um todo, o não comparecimento elevou-se em 5,2%. O tucano cresceu mais do que o candidato do PSOL em áreas do centro expandido, onde a abstenção aumentou em média 3,5%.

Quase dobrou sua participação em votos válidos na Mooca, por exemplo, onde o aumento da abstenção não chegou a 4%.

Já Boulos mais do que dobrou sua participação em áreas afastadas dos extremos leste, norte e sul, onde o índice de aumento dos que não foram às urnas chegou a superar 8%, como no Conjunto José Bonifácio, entre Itaquera e Guaianases.

A abstenção foi um dos fenômenos marcantes das eleições municipais em 2020. A taxa, no entanto, carrega a desatualização do cadastro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), com pessoas que mudaram de domicílio e óbitos não computados, por exemplo.

Sem dados oficiais atualizados, é difícil medir o impacto real da ocorrência. Para melhor compreendê-lo, é fundamental identificar a evolução segundo o perfil socioeconômico, dado oficial inexistente.

Na sua primeira análise sobre o processo eleitoral deste ano, publicada pela Folha em 25 de setembro, o Datafolha já aventava a possibilidade do recorde em razão da elevada taxa de eleitores que se sentiam inseguros para votar por conta da pandemia.

E mostrava que, se concentrada em determinado perfil, algum candidato de target correlato poderia perder em desempenho, mesmo que de maneira residual.

Na ocasião, Celso Russomanno (Republicanos), que liderava a disputa, era o que mais se prejudicaria por alcançar eleitores menos escolarizados e de menor renda, que verbalizavam com maior frequência a possibilidade de se abster.

Com a desidratação de Russomanno, esse contingente migrou principalmente para Covas, que cresceu 13 pontos no segmento, enquanto o candidato do PSOL apresentava melhor desempenho entre jovens e escolarizados.

No segundo turno, com discurso voltado à “periferia”, Boulos cresceu cinco pontos entre os de menor renda, o que o tucano perdeu na mesma proporção, apesar de ainda manter a liderança no estrato.

As hipóteses sobre os de maior renda não deixarem tanto de comparecer às urnas quanto os moradores dos extremos da capital, agora no segundo turno, são diversas.

Mas a explicação deve estar entre a reação engajada do Jardim Paulista ao "radicalismo" de Boulos e o desalento vulnerável de Cidade Tiradentes, passando pela queda da neutralidade dos eleitores em todas as regiões da cidade —a taxa de brancos e nulos caiu em todas as macrorregiões.​

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