Muniz Sodré assume Cátedra Otavio Frias Filho na USP

Professor dá início a primeiro ciclo do grupo de estudos sobre comunicação, democracia e diversidade

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São Paulo

O professor Muniz Sodré tomou posse nesta quarta (22) como primeiro titular da Cátedra Otavio Frias Filho de Estudos em Comunicação, Democracia e Diversidade, criada no início do ano pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo em parceria com a Folha.

Professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro e um dos pesquisadores brasileiros mais influentes da área de comunicação, Sodré ajudará a organizar o ciclo de palestras "Ser brasileiro hoje: diversidade e democracia" e um livro com contribuições de pesquisadores selecionados.​

O professor Muniz Sodré, em evento virtual no qual tomou posse como primeiro titular da Cátedra Otavio Frias Filho de Estudos em Comunicação, Democracia e Diversidade
O professor Muniz Sodré, em evento virtual no qual tomou posse como primeiro titular da Cátedra Otavio Frias Filho de Estudos em Comunicação, Democracia e Diversidade - Marlene Bergamo/Folhapress

Em evento realizado virtualmente e transmitido ao vivo na internet, o professor fez uma conferência sobre o povo brasileiro e as diferentes representações que recebeu ao longo do tempo, das pinturas do século 19 aos algoritmos das plataformas que hoje controlam as redes sociais.

"O povo só existe quando é politicamente inventado, ele é fabricado", afirmou Sodré. "A massa contemporânea não é um sujeito como povo, nem um objeto político, mas um simples efeito de simulações como as das representações pictóricas do passado e as dos algoritmos da atualidade."

Lembrando o escritor inglês Samuel Johnson (1709-1784), para quem o nacionalismo era "o último refúgio do canalha", ele atacou o populismo e o descreveu como "filho do totalitarismo" e do "nacionalismo vesgo" que busca "manipulação das massas e legitimação de populismos autoritários".

O professor encerrou sua conferência citando um verso do poeta angolano Agostinho Neto (1922-1979): "As minhas mãos colocaram pedras nos alicerces do mundo". Em seguida, Sodré acrescentou: "O povo é isso, aquele que politicamente planta pedras nos alicerces do mundo."

Saudado no início do evento pelo reitor da USP, Vahan Agopyan, e pelo publisher da Folha, Luiz Frias, o professor disse considerar a parceria entre a universidade e o jornal muito estimulante na atual conjuntura, marcada, segundo ele, por ataques à academia e pelo desmonte das universidades.

A cátedra foi lançada em fevereiro deste ano, quando a Folha completou 100 anos de vida. A iniciativa homenageia o jornalista e advogado Otavio Frias Filho (1957-2018), que liderou o projeto de modernização iniciado pelo jornal em 1984 e dirigiu a Redação até sua morte, há três anos.

Sodré, 79, é formado em direito pela Universidade Federal da Bahia e trabalhou como jornalista no início da carreira. Ele deixou a profissão para se dedicar à vida acadêmica. É mestre em sociologia da informação pela Universidade de Paris, na França, e doutor em letras pela UFRJ.

O diretor do IEA, Guilherme Ary Plonski, observou que a sociedade brasileira e o mundo se deparam com desafios nas três dimensões às quais a cátedra pretende se dedicar, com a desinformação na internet, ameaças à democracia e reações provocadas pelo avanço da diversidade.

O professor André Chaves de Melo Silva, da Escola de Comunicações e Artes da USP, informou que o edital para seleção de pesquisadores interessados em participar do primeiro ciclo de atividades da cátedra recebeu 176 inscrições. A cátedra decidiu que todos serão acolhidos.

Homem negro de pelo clara, cabelos e cavanhaque grisalhos, óculos de aros grossos, vestido com casaco marrom, com o queixo apoiado na mão esquerda. Ao fundo, uma estante branca com livros e objetos pessoais.
O professor Muniz Sodré, primeiro titular da Cátedra Otavio Frias Filho de Estudos em Comunicação, Democracia e Diversidade. - Lucas Seixas/Folhapress
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