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Presidenciáveis citam informações falsas sobre educação e segurança pública em evento nos EUA

Ciro, Moro, Doria e Tebet participaram de evento promovido por estudantes brasileiros

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São Paulo | Agência Lupa

Quatro pré-candidatos à Presidência da República foram sabatinados no último fim de semana na programação da oitava edição da Brazil Conference, evento promovido pela comunidade brasileira de estudantes sediados em Boston, nos Estados Unidos.

Ciro Gomes (PDT), João Doria (PSDB), Sergio Moro (União Brasil) e Simone Tebet (MDB) defenderam suas ideias para o país em painéis conduzidos por jornalistas, pesquisadores e estudantes.

A Lupa analisou algumas das declarações dos presidenciáveis no evento. Confira, a seguir, o trabalho de verificação:

O pré-candidato à Presidência Ciro Gomes na Brazil Conference, nos Estados Unidos - 10.abr.22/Divulgação

Ciro Gomes (PDT)

São Paulo não aplicou o piso dos professores, para dar um exemplo prático concreto

Ciro Gomes

pré-candidato à presidência da República, em sabatina durante a Brazil Conference no dia 10 de abril de 2022

FALSO

Em 5 de abril, o governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), autorizou o pagamento do novo piso salarial dos professores da rede pública de educação básica do estado de São Paulo. O valor será retroativo a janeiro desse ano, e será depositado na próxima quinta (14).

Desde 4 de fevereiro, quando o presidente Jair Bolsonaro (PL) sancionou o reajuste de 33,23% para esses profissionais, o piso salarial nacional da categoria passou de R$ 2.886 para R$ 3.845 —esse valor é relativo à carga horária de 40 horas.

Professores da rede estadual paulista chegaram a fazer um protesto em 16 de março porque, naquela ocasião, o governo de São Paulo ainda não tinha uma previsão para pagamento do reajuste. O pré-candidato foi procurado para comentar a checagem, mas não respondeu.

Consulte o Ideb brasileiro, o Ceará tem o melhor do país hoje

Ciro Gomes

pré-candidato à presidência da República, em sabatina durante a Brazil Conference no dia 10 de abril de 2022

VERDADEIRO, MAS

A rede pública do Ceará teve a melhor nota no Ideb de 2019, último ano com dados disponíveis, em apenas um dos três ciclos educacionais —anos finais do Ensino Fundamental. Nos outros dois, o estado estava entre os primeiros colocados, mas outras unidades da federação tiveram desempenho melhor.

No ciclo inicial do Ensino Fundamental, a rede pública cearense foi avaliada com nota 6,3, a terceira mais alta do país —empatado com Minas Gerais e Santa Catarina. São Paulo (6,5) e Paraná (6,4) tiveram melhor resultado. No ciclo final, o Ceará teve a melhor nota, empatado com São Paulo— 5,2. Em ambos os casos, a nota inclui toda a rede pública, incluindo escolas estaduais e municipais, e ficou acima da meta estabelecida pelo Ministério da Educação (MEC).

Já no Ensino Médio, que é de responsabilidade apenas do estado, a rede estadual do Ceará ficou na sexta posição, com nota 4,2 —abaixo da meta estipulada pelo MEC. Goiás (4,7), Espírito Santo (4,6), Paraná (4,4), Pernambuco (4,4) e São Paulo (4,3) tiveram desempenho melhor. Apenas Goiás e Pernambuco atingiram a meta, que varia de estado para estado.

A nota do Ideb vai de 0 a 10, e é medida de acordo com o desempenho dos alunos em uma prova padronizada (dependendo do caso, a Prova Brasil ou a Saeb) e da taxa de aprovação de estudantes de cada escola.

João Doria (PSDB)

Nós ampliamos e multiplicamos, quase que dobramos, o número de delegacias da mulher. (...) Elevamos a praticamente o dobro o número de delegacias da mulher

João Doria

pré-candidato à presidência da República pelo PSDB, em sabatina durante a Brazil Conference no dia 9 de abril de 2022

FALSO

Antes de João Doria assumir o governo de São Paulo, em janeiro de 2019, existiam 133 unidades da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) no estado. Durante sua gestão, o tucano abriu cinco novas unidades (Itanhaém, São Caetano do Sul, Jacupiranga, Arujá e Itaquaquecetuba) —e o número total passou para 138 unidades das delegacias. Ou seja, ele não ‘quase dobrou’ o número de delegacias da mulher.

A primeira DDM foi criada em 1985 durante a gestão de Franco Montoro (então PMDB). No total, ele criou 13 unidades especializadas. Orestes Quércia (PMDB) inaugurou 42 delegacias entre 1987 e 1991; Luiz Antônio Fleury (PMDB) criou 66 unidades entre 1991 e 1995; e Geraldo Alckmin (então PSDB) criou outras 5 unidades entre 2005 e 2014. Doria, porém, ampliou o número de delegacias da mulher que funcionam 24 horas de uma, em 2018, para onze.

Em nota, a assessoria do pré-candidato disse que ele se referia —embora não tenha explicitado— às DDMs 24 horas. Como explicado acima, foram criadas dez novas unidades desde 2019, sendo que apenas uma existia no início da gestão.

Apenas de 2021 até março deste ano 1,2 milhão de novos empregos foram gerados

João Doria

pré-candidato à presidência da República pelo PSDB, em sabatina durante a Brazil Conference no dia 9 de abril de 2022

EXAGERADO

Dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) mostram que a diferença entre o número de demissões e de contratações no estado de São Paulo foi de 958.187 no período entre janeiro de 2021 e fevereiro de 2022.

Apesar de Doria referenciar "até março" de 2022, ainda não foram publicados os dados do Caged referentes ao mês de março. As informações do Caged incluem somente os empregos formais com carteira assinada.

A PnadC/T (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Trimestral) também considera os empregos informais na análise, mas os dados para os primeiros meses de 2022 ainda não estão disponíveis.

Em nota, a assessoria do pré-candidato disse apenas que São Paulo foi responsável por 29% dos empregos gerados no Brasil desde o início de 2019.

São Paulo gerou 30% de todos os novos empregos gerados no Brasil em 2019, 2020 e 2021

João Doria

pré-candidato à presidência da República pelo PSDB, em sabatina durante a Brazil Conference no dia 9 de abril de 2022

VERDADEIRO

De acordo com os dados do Caged, o estado de São Paulo teve um saldo de emprego —a diferença entre o número de demissões e de contratações— de 891.847 vagas considerando os anos de 2019, 2020 e 2021. Isso representa 27,8% de todas as vagas criadas no Brasil no período.

Em 2019, foram 184,1 mil vagas paulistas dentre as 644 mil vagas nacionais criadas – o mesmo que 28,6%. Porém, em 2020, o Brasil encerrou o ano com 193 mil postos de trabalhos fechados. São Paulo foi responsável por 55,9% desse total, com 107,9 mil vagas fechadas. Já em 2021, com a retomada da economia, o Brasil criou 2,7 milhões de postos e os paulistas foram responsáveis por 29,6% deste total.

A inflação da cesta básica chega a ultrapassar 70% [durante o governo Bolsonaro]

João Doria

pré-candidato à presidência da República pelo PSDB, em sabatina durante a Brazil Conference no dia 9 de abril de 2022

VERDADEIRO

Segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o valor da cesta básica aumentou mais do que 70% em duas de 17 capitais monitoradas, entre dezembro de 2018 e março de 2022: Vitória (75%) e Goiânia (71%). Na capital capixaba, o valor da cesta foi de R$ 403,79 para R$ 704,93. Já na capital de Goiás o valor subiu de R$ 388,86 para R$ 663,48.

Em outras 14 capitais (Campo Grande, Natal, Curitiba, Recife, João Pessoa, Salvador, Belo Horizonte, Florianópolis, Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Porto Alegre e Belém), o preço da cesta variou entre 50% e 70%. Apenas em Aracaju a cesta básica aumentou menos do que a metade (46%, de R$ 358,75 para R$ 524,99). O levantamento é feito por capitais, e não há uma média nacional. Veja os dados completos aqui.

Sérgio Moro (União Brasil)

Nós estamos no terceiro ou quarto diretor da Polícia Federal nessa administração

Sergio Moro

pré-candidato à presidência da República, em sabatina durante a Brazil Conference no dia 9 de abril de 2022

SUBESTIMADO

No fim de fevereiro foi nomeado o quinto diretor-geral da Polícia Federal (PF) do governo Bolsonaro. Márcio Nunes de Oliveira era secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Ainda em novembro de 2018, após ser convidado por Bolsonaro para assumir o ministério da Justiça e Segurança Pública, Moro anunciou que indicaria o então superintendente da PF no Paraná, Maurício Valeixo, para a diretoria-geral da instituição. Considerado braço direito de Moro, Valeixo foi exonerado do cargo em abril de 2020, tornando-se pivô da crise que culminou com a saída do então ministro — Moro acusou Bolsonaro de tentar interferir politicamente na PF para blindar sua família de investigações.

Ainda em abril de 2020, Bolsonaro assinou um decreto nomeando o delegado Alexandre Ramagem, então diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), para o cargo deixado por Valeixo. Entretanto, dias depois, sua nomeação foi suspensa por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que observou desvio de finalidade na escolha do delegado — Ramagem tem relações de amizade com a família Bolsonaro. Diante da decisão, o presidente anulou a nomeação.

Em substituição, o delegado Rolando Alexandre de Souza foi nomeado em maio de 2020 para a função. À época, ele ocupava uma das secretarias da Abin e era considerado braço direito de Ramagem. Souza permaneceu no cargo até abril de 2021, quando foi empossado Paulo Gustavo Maiurino, também delegado da PF. Com exceção de Valeixo, até o momento, nenhum de seus sucessores permaneceu ao longo de um ano inteiro no cargo.

Procurada, a assessoria do ex-juiz declarou que Moro corrigiu a informação ainda durante a sabatina, na sequência da declaração, quando foi informado do número correto.

2019 é o ano que nós temos historicamente a maior queda percentual de homicídios em relação ao ano anterior. Sim, em 2018 houve uma queda de cerca de 13%. Em 2019, houve uma queda de 22%. São dados do Ipea. Menos 10 mil brasileiros morreram assassinados em 2019 em comparação com 2018

Sergio Moro

pré-candidato à presidência da República, em sabatina durante a Brazil Conference no dia 9 de abril de 2022

VERDADEIRO, MAS

Entre 2018 e 2019, o país registrou uma queda de 21,5% no número de homicídios. Foram 57.956 no primeiro ano, contra 45.503 no seguinte —uma diferença de 12,4 mil ocorrências. Os dados são do Atlas da Violência 2021, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. É a maior queda percentual em um período de dois anos de toda a série histórica, iniciada em 1989. Moro foi ministro da Justiça e Segurança Pública entre janeiro de 2019 e abril de 2020.

No entanto, como foi observado pelo próprio ex-juiz, os índices de homicídios no país já apresentavam tendência de queda desde 2018, último ano da gestão anterior, quando caíram 11,7% em relação ao ano anterior.

Além disso, o próprio Atlas da Violência ressalta a "deterioração" na qualidade dos registros oficiais, de onde são geradas as estatísticas, que "atingiu patamar nunca antes observado desde o início da série histórica". O relatório aponta que parte do número de homicídios no período pode ter sido ocultada, diante da alta na quantidade de registros de mortes violentas por causa indeterminada.

Fomos nós que transferimos as lideranças do PCC de São Paulo que estavam lá desde 2006

Sergio Moro

pré-candidato à presidência da República, em sabatina durante a Brazil Conference no dia 9 de abril de 2022

VERDADEIRO, MAS

No dia 13 de fevereiro de 2019, foi realizada a transferência de 22 integrantes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) para presídios federais. A ação foi feita em conjunto com o governo de São Paulo e o Ministério da Justiça e da Segurança Pública, que naquele momento era comandado por Sergio Moro. A decisão de fazer a transferência, contudo, não partiu do ex-ministro, e foi determinada pela Justiça de São Paulo.

Em novembro de 2018, ainda na gestão de Michel Temer (MDB), o Ministério Público de São Paulo solicitou a transferência de 22 integrantes do PCC da penitenciária de segurança máxima de Presidente Venceslau, gerida pelo governo do estado, para presídios federais. Na época, um plano de resgate dos criminosos tinha sido descoberto. Contudo, a informação vazou e, assim, a transferência acabou ficando para o início de 2019, depois da posse de Bolsonaro. Essa afirmação já foi checada pela Lupa anteriormente.

Simone Tebet (MDB)

Um presidente da República que tem quase 60% de rejeição, 50%, 55%, dependendo da região em que se avalia

Simone Tebet

pré-candidata à presidência da República, em sabatina durante a Brazil Conference no dia 10 de abril de 2022

VERDADEIRO

Divulgada em março deste ano, a última pesquisa do Datafolha mostrou que 55% dos entrevistados não votariam de jeito nenhum no presidente Jair Bolsonaro. Entre os candidatos, Bolsonaro é o que tem a maior rejeição, seguido por Lula (37%), Doria (30%), Moro (26%), Ciro (23%) e Leite (14%). Tebet aparece com 12% de rejeição na pesquisa. Em abril, uma pesquisa do Datafolha analisou apenas a rejeição do presidente no Rio de Janeiro e em São Paulo e indicou que o percentual foi de 48% no RJ e 49% em SP.

[MDB] O partido mais capilar, que tem maior número de prefeitos e vereadores de filiados

Simone Tebet

pré-candidata à presidência da República, em sabatina durante a Brazil Conference no dia 10 de abril de 2022

VERDADEIRO

Nas últimas eleições municipais, o MDB foi o partido que conseguiu eleger mais prefeitos e vereadores. Um levantamento do Tribunal Superior Eleitoral indicou que o MDB elegeu 772 prefeitos, 660 vice-prefeitos e 7.277 vereadores, totalizando 12,76% dos políticos eleitos. Em segundo lugar, aparece o PP, com 680 prefeitos, 551 vice-prefeitos e 6.292 vereadores. Veja a lista completa aqui.

Edição Chico Marés e Maurício Moraes

Bruno Nomura , Carol Macário , Catiane Pereira , Nathália Afonso e Plínio Lopes
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