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Evento em Boston debate soluções para a crise brasileira

Evento nos EUA contou com participação de presidenciáveis e terminou neste domingo, após 28 painéis que consumiram 20 horas de debates

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Bruno Blecher

É jornalista especializado em agronegócio e meio ambiente. Foi repórter do jornal O Estado de S. Paulo, editor do caderno Agrofolha, da Folha, coordenador de jornalismo do Canal Rural, comentarista de agronegócio da rádio CBN e diretor de redação da Globo Rural. Atualmente é sócio-proprietário da agência Fato Relevante

Parecia mais "hackathon", aqueles eventos que reúnem centenas de programadores durante vários dias para desenvolver inovações digitais e resolver problemas. Só que o desafio da Brazil Conference, em Boston (EUA), não era o de criar softwares, mas buscar caminhos para superar as crises brasileiras.

A maratona começou no sábado (9) de manhã e terminou na noite deste domingo (10), após 28 painéis que consumiram 20 horas de debates.

O megaevento, organizado por alunos da Universidade de Harvard, MIT (Massachusetts Institute of Technology) e outras escolas da região, envolveu 117 especialistas de várias áreas, recebeu um público de 500 pessoas e deve chegar a 1,3 milhão de visualizações no YouTube.

Jaques Wagner durante a Brazil Conference - Kathy Tarantola / Brazil Conference

Política, segurança, economia, saúde, meio ambiente, pobreza, cultura, influência digital, esporte tecnologia e democracia fizeram parte da extensa agenda da conferência. A Brazil Conference cumpriu seu objetivo de garantir um ambiente plural e promover um encontro democrático para discutir o Brasil.

Pelos corredores do Hotel Hyatt Regency Cambridge, sede do evento, circularam antagonistas como Cristiano Zanin (advogado de Lula) e Sergio Moro (ex-juiz da Lava Jato). À exceção de Lula e Bolsonaro, líderes nas pesquisas eleitorais, os principais pré-candidatos à Presidência da República foram sabatinados por jornalistas –Doria, Moro, Simone Tebet e Ciro Gomes. O senador Jaques Wagner (PT-BA) representou Lula, e o presidente Bolsonaro não mandou ninguém, talvez antevendo um clima hostil no evento, que oscilou entre a terceira via e a esquerda.

Doria falou de São Paulo por um telão, deixando o caminho livre para o ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite, seu correligionário no PSDB, desfilar à vontade pelos corredores do Hyatt com ares de candidato do partido.

A "biodiversidade" da Brazil Conference em Cambridge incluiu ainda dezenas de empresários, lideranças populares, economistas, juízes, deputados federais, investidores e empreendedores –da Faria Lima e das favelas, além dos ministros do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso e Ricardo Lewandowski, o mais disputado pelos estudantes para selfies.

À paisana, vestindo jeans e camisa esporte, Barroso sentia-se em casa e contava com orgulho que foi um dos pioneiros na Brazil Conference, ao participar, em 2015, na primeira edição da conferência, em um painel sobre o "jeitinho brasileiro".

O ex-presidente Michel Temer abriu o evento no sábado, pregando a pacificação do Brasil e o semipresidencialismo. Jaques Wagner defendeu a renovação da política. Na Bahia.

Sergio Moro, ex-juiz e ex-ministro da Justiça, que pleiteia uma pré-candidatura à Presidência pelo União Brasil, chegou ao Hyatt acompanhado por três seguranças.

A sabatina de Moro acabou virando um arranca-rabo entre ele e o advogado Augusto Botelho, um dos entrevistadores, que questionou Moro sobre os vazamentos de mensagens durante a Lava Jato. Sobre a sua candidatura, Moro disse ser "um soldado da democracia", com todo o "desprendimento" e que nunca colocou seu nome como uma ambição pessoal.

"Há uma necessidade de união do centro, mas quem resolve é o partido. Mas precisamos buscar um candidato competitivo", disse Moro, ao lembrar que seu nome está em terceiro lugar nas pesquisas.

Moro na Brazil Conference - Kathy Tarantola / Brazil Conference

Depois de cumprimentar o senador Jaques Wagner, que acompanhou sua sabatina da plateia, o pré-candidato Ciro Gomes (PDT) criticou a política econômica de todos os governos pós-ditadura, de Sarney a Bolsonaro, chamando o atual presidente de "bandido".

No painel "Instigando Caminhos para Reverter a Pobreza no Brasil", o mais concorrido da conferência, o padre Júlio Lancelotti desconstruiu o lema do governo Bolsonaro.

"Deus não está acima de ninguém, ele está no meio de nós", disse o padre. "Chega de teocracia e interferência religiosa. O Brasil precisa ser um estado laico de verdade", defendeu Lancelotti.

E encerrou sua participação convidando o apresentador da Globo, Luciano Huck, um dos palestrantes, a sentar-se nas calçadas das ruas de São Paulo junto com ele para conversar com os irmãos de rua "para ver quais são os sonhos que eles têm". O apresentador do "Domingão" aceitou o convite.

"A ciência evoluiu tanto que em apenas um ano conseguiu desenvolver dez vacinas contra a Covid. Mas para as mudanças climáticas não tem vacina. É o maior desafio que a humanidade já enfrentou", alertou o cientista Carlos Nobre, especialista em aquecimento global.

O empreendedorismo social foi o destaque da conferência em Boston, que mostrou trabalhos como o de Rene Silva, 28 anos, que lidera o aplicativo "Voz das Comunidades".

Com 35 colaboradores fixos e mais de 200 voluntários, o aplicativo traz notícias das principais comunidades do Rio de Janeiro em tempo real.

Rene ficou conhecido internacionalmente em 2010 durante a ocupação do Complexo do Alemão. Ele acompanhou a operação militar, narrando tudo o que estava acontecendo na comunidade pelo Twitter em primeira mão como um correspondente de guerra, enquanto a imprensa só tinha acesso às informações oficiais. "Queremos ter a nossa própria voz. A imprensa não nos representa", disse Rene.

Os vídeos de todas as palestras do evento estão disponíveis no canal da Brazil Conference no YouTube.

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