OAB, Fiesp, CNBB e outras entidades silenciam sobre golpismo de Bolsonaro; veja lista

Entidades foram questionadas pela Folha sobre as recentes ameaças do presidente sobre o processo eleitoral deste ano

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São Paulo e Brasília

Entidades representativas do empresariado e da sociedade civil silenciam sobre a conduta de Jair Bolsonaro (PL) frente a recentes declarações do presidente em tom de ameaça sobre o processo eleitoral, além de ataques a ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e da Justiça Eleitoral.

A Folha procurou 13 entidades no últimos dias questionando se, na avaliação delas, o país deveria se preocupar com a possibilidade de Bolsonaro tentar melar as eleições antes e depois da votação e se o pleito estaria ou não em risco. Representantes de apenas 2 delas responderam.

Entre as que silenciaram estão a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), que representa mais de 1,3 milhão de profissionais, e a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), que reúne 479 bispos da igreja católica no país e que afirmou que não está emitindo posicionamento sobre declarações de pré-candidatos ao Planalto.

Do lado do empresariado, deixaram de se manifestar entidades como a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) e a Febraban (Federação Brasileira de Bancos).

O presidente Jair Bolsonaro em evento oficial com parlamentares no Palácio do Planalto, que foi batizado de "ato cívico pela liberdade de expressão" - Antonio Molina - 27.abr.22/Folhapress

Elas também foram instadas a classificar se as falas do chefe do executivo seriam: um comportamento golpista que precisa ser levado a sério, apenas um blefe ou críticas abarcadas pela liberdade de expressão.

Além das entidades, também foram procurados os presidenciáveis, os chefes dos três Poderes, de tribunais superiores, do Ministério Público Federal e dos principais partidos políticos.

A maioria dos principais partidos de oposição e independentes afirmam que os recentes ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral e a ministros das cortes superiores representam um comportamento golpista que precisa ser levado a sério.

Entre os políticos que tiveram tal posicionamento, há uma divisão contudo quanto a se isso representa um risco às eleições.

Por outro lado, nenhuma das autoridades da República procuradas quiseram se manifestar sobre o assunto, entre eles os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, além do chefe do Ministério Público Federal, Augusto Aras.

Já entre as entidades da sociedade civil e do empresariado, responderam à enquete a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) e o pastor Samuel Câmara, da CADB (Convenção da Assembleia de Deus no Brasil).

Para a ABI, os ataques e as ameaças de Bolsonaro são um comportamento golpista que precisa ser levado a sério.

Ela considera ainda que as eleições estão em risco e que o país deve se preocupar com a possibilidade de Bolsonaro tentar melar o pleito antes e depois da votação. O posicionamento foi emitido por Paulo Jerônimo, que esteve à frente da instituição até a última sexta-feira (13).

Já para o pastor Samuel Câmara, o presidente faz críticas dentro de sua liberdade de expressão e o país não deve se preocupar com possibilidade de ele tentar melar a eleição, tampouco avalia que o pleito esteja em risco.

Elas também foram questionadas quanto a como avaliam a conduta de diferentes autoridades, instituições, e entidades frente às ameaças de Bolsonaro.

Para a ABI, apenas Judiciário, considerando o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e o STF, o Senado e entidades religiosas têm apresentado condutas adequadas, enquanto a Câmara dos Deputados, a PGR e as Forças Armadas, inadequadas.

Já para Samuel Câmara da CADB, estão adequados o setor empresarial, as entidades da sociedade civil e religiosas e os demais têm conduta parcialmente adequada.

As demais entidades procuradas não se manifestaram. Entre as que disseram que não responderiam estão a Fiesp, a Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) e a CNBB.

A CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) afirmou que não iria responder.

"Como entidade sindical e apartidária, a CNC não emite juízo de valor acerca de partidos políticos ou candidatos, manifestando-se apenas sobre assuntos técnicos de interesse do comércio de bens, serviços e turismo."

Também a CNT (Confederação Nacional do Transporte) não respondeu, mas enviou uma nota com o que afirmou ser seu posicionamento sobre o processo eleitoral.

"A CNT apoia de forma irrestrita os pressupostos democráticos, a eleição livre, pacífica e transparente. Acreditamos que é com estabilidade, que decorre da segurança jurídica, que teremos mais investimentos, mais desenvolvimento e mais qualidade de vida para todos."

O restante das entidades procuradas pela reportagem não emitiram manifestação, mas tampouco confirmaram que não responderiam. Entre elas estão OAB, CNA, CNI (Confederação Nacional da Indústria) e Febraban.

Bolsonaro tem mantido desde a campanha de 2018 um discurso em que, sem qualquer prova, coloca dúvidas sobre o sistema eleitoral brasileiro. Em várias ocasiões ele deu a entender que não aceitará outro resultado que não seja a sua vitória em outubro.

No último dia 5, por exemplo, afirmou que uma empresa será contratada pelo PL, o seu partido, para fazer uma auditoria privada das eleições deste ano. E sugeriu, em tom de ameaça, que os resultados da análise podem complicar o TSE se a empresa constatar que é "impossível auditar o processo".

Veja a lista de entidades

Responderam

  • ABI (Associação Brasileira de Imprensa), representa jornalistas e profissionais de imprensa, possui 700 associados
  • Samuel Câmara, presidente da CADB (Convenção da Assembleia de Deus no Brasil)

Não se manifestaram

  • CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), principal fórum do agronegócio, reúne as 27 federações de agricultura e pecuária do país e mais de 2.000 sindicatos rurais
  • CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), instituição que reúne 479 bispos da igreja católica no país
  • CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), coordena 34 federações patronais, entre nacionais e estaduais, que agrupam mais de mil sindicatos pelo país, também administra o Sesc e o Senac
  • CNI (Confederação Nacional da Indústria), principal representante da indústria brasileira, tem cerca de 1.200 sindicatos patronais afiliados e possui órgãos que reúnem as federações industriais estaduais e dos diferentes setores
  • CNT (Confederação Nacional do Transporte), reúne 27 federações estaduais e 5 sindicatos nacionais. O setor possui 164 mil empresas
  • CGADB (Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil), reúne mais de 100 mil ministros
  • Febraban (Federação Brasileira de Bancos), principal entidade representativa do setor bancário, com 119 instituições financeiras associadas
  • Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), possui 131 sindicatos patronais afiliados, representa cerca de 130 mil indústrias de diversos setores
  • Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), possui 101 sindicatos patronais industriais filiados
  • FNP (Frente Nacional de Prefeitos), entidade que reúne prefeitos e prefeitas de 415 municípios, correspondente aos que têm mais de 80 mil habitantes
  • OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), conselho federal da advocacia, que representa mais de 1,3 milhão de profissionais
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