Descrição de chapéu Eleições 2022

Weintraub critica Tarcísio, diz que Bolsonaro o decepcionou e fala em unificar polícias

Pré-candidato do PMB ao Governo de SP afirma na sabatina Folha/UOL que foi pressionado a desistir da campanha

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São Paulo

O pré-candidato ao Governo de São Paulo Abraham Weintraub (PMB) criticou nesta terça-feira (3) o rival à direita Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse que o presidente Jair Bolsonaro (PL) o decepcionou e repetiu a afirmação de que sofreu ameaças para desistir da disputa.

Ao participar da sabatina realizada por Folha e UOL com postulantes ao Palácio dos Bandeirantes, o ex-ministro da Educação levantou dúvidas, sem apresentar provas, sobre a atuação de Tarcísio no período em que comandou o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) no governo Dilma Rousseff (PT).

Weintraub alcançou 1% na pesquisa Datafolha de abril, liderada por Fernando Haddad (PT), com 29%, à frente de Márcio França (PSB), com 20%, de Tarcísio, com 10%, e do atual governador, Rodrigo Garcia (PSDB), com 6% —os dois últimos estão empatados no limite da margem de erro.

O pré-candidato ao governo de São Paulo pelo PMB, Abraham Weintraub - Reprodução/UOL

"O Tarcísio não tem nenhuma acusação de corrupção contra ele, mas ele foi indicado para o Dnit da Dilma, do Lula. Indicado pelo [ex-ministro] Moreira Franco e pelo Michel Temer. E depois, quando o Michel Temer virou presidente, ele ficou lá", afirmou Weintraub no início da sabatina.

"Que eu saiba, ele [Tarcísio] não encaminhou à Polícia Federal e ao Ministério Público nenhum caso de malfeito em dez anos", acrescentou, dizendo que ele, quando chefiou o MEC, relatou a autoridades 15 casos, incluindo denúncias de sobrepreço no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).

"Não diria que ele [Tarcísio] prevaricou. [...] Eu acho que ele não participou de esquema, mas eu não vou afirmar que ele prevaricou", afirmou, ao ser questionado se considerava que o adversário deixou de tomar providências ao tomar conhecimento de algum problema.

​Weintraub deu a entrevista por videoconferência dos Estados Unidos, onde vive com a família desde que assumiu um cargo de direção no Banco Mundial, em meados de 2020. Ele diz que renunciou ao cargo neste ano para se dedicar à campanha em São Paulo.

O pré-candidato repetiu a informação de que sofreu pressões e ameaças para largar a disputa ao governo paulista, atribuídas por ele ao presidente Bolsonaro. Disse ainda que Tarcísio foi lançado na disputa pelo bolsonarismo para "esvaziar qualquer chance de aparecerem nomes".

Segundo o ex-ministro, a mensagem direcionada pelo entorno do presidente a ele e a seu irmão Arthur Weintraub, ex-assessor da Presidência, foi enfática: "Simplesmente sumam, desapareçam, nunca mais pisem no Brasil".

"O tom engrossou muito", de acordo com o ex-titular do MEC, que a essa altura já estava no Banco Mundial. "Porque nós começamos a falar a verdade e chamar muito a atenção, capturando a atenção da militância."

Ele disse ainda que Tarcísio "tem uma estrutura gigantesca" de campanha e se associou ao centrão, a um partido robusto e a generais, diferentemente dele, que não tem "estrutura nenhuma" nem "dinheiro do fundão" eleitoral para deslanchar sua pré-campanha.

"Esse grupo montou uma estrutura para atacar e perseguir os conservadores. Não fui só eu que fui esmagado. [...] Acho que tenho chance [na eleição] porque muita coisa que vem sendo articulada faz parte do teatro das tesouras. Eu não descartaria que mais perto da eleição o Tarcísio desista", especulou.

Rompido com Bolsonaro, o ex-titular do MEC reiterou críticas à aliança do mandatário com o centrão, afirmando que ele errou com o movimento e "se perdeu pela vulnerabilidade".

Ele diz que, em sua passagem pelo governo, percebeu como pessoas no poder são assediadas para manter esquemas e podem acabar sendo "seduzidas". "Toda essa máquina de Brasília foi criando ódio a meu respeito porque eu não conseguia fazer os bons negócios do MEC", exemplificou.

"Quando você vai para o poder, os cortesãos estão lá há gerações", disse. "É uma corte que te cerca, e ao mesmo tempo fica te ameaçando."

"Acho que houve uma aproximação com o centrão muito em função da chantagem que a estrutura, o mecanismo, fez contra o presidente. O presidente virou refém. E acabou cedendo. É aquela síndrome de Estocolmo", disse.

"O presidente Bolsonaro me decepcionou muito, eu não confio mais nele para conduzir os rumos do país."

O pré-candidato respondeu, contudo, que "é lógico" que poderia votar no atual mandatário em um eventual segundo turno dele contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Nunca votei nulo. Eu sempre faço escolhas. Eu escolheria qualquer um que não fosse o Lula", respondeu.

Ele atacou o petista em vários momentos, dizendo que o Brasil caminha para o que chamou de uma distopia, mas que isso acontecerá mais rápido se Lula voltar à Presidência. "Esse cara, para mim, é um inimigo pessoal, é um cara por quem eu tenho desprezo. O Lula, para mim, é um encosto."

Sobre Bolsonaro, afirmou que "ele andou junto com gente errada", mas "nunca teve um caso de corrupção".

Ao descrever propostas para o estado, Weintraub defendeu a unificação das polícias Civil e Militar como parte de um caminho para melhora da segurança pública, aperfeiçoando mecanismos de investigação.

"Hoje o policial do estado de São Paulo é um herói que está enxugando gelo", disse. "E são mais de 100 mil policiais. Eles são peça-chave para a gente colocar o estado de São Paulo de pé e transformar o nosso estado numa espécie de Texas brasileiro, onde você vai ter a liberdade de tentar buscar a felicidade, andando na rua com o celular, não tendo gente morrendo de overdose de crack em tudo quanto é lugar."

O postulante ao governo disse ainda que, se eleito, não trabalhará pela defesa apenas das famílias conservadoras, mas de todas, inclusive aquelas que estariam fora de padrões. Ele afirmou que "a mesma patota" comanda o estado desde 1982 e que deseja "limpar" a administração.

"O estado de São Paulo é riquíssimo e, se eu encontrar metade do percentual de coisas erradas que eu encontrei no MEC, dá para a gente fazer muita coisa. [...] Quando sobra dinheiro, você consegue colocar nas prioridades: saúde, educação, segurança."

Weintraub se declarou contrário à legalização do aborto, à descriminalização da maconha, ao aumento das tarifas de transporte público, à inspeção veicular em todo o estado, à cobrança de mensalidade em universidades públicas, à privatização de presídios e de linhas da CPTM e do Metrô, às câmeras nos uniformes da polícia "como instrumento para o policial".

O pré-candidato também se disse a favor da concessão de parques públicos à iniciativa privada e à privatização de estatais. Sobre porte e posse de armas por cidadãos comuns, respondeu que manteria a legislação como está.

Em relação à cracolândia, afirmou que operações policiais não resolvem o problema. Disse que é preciso ser fraterno e ajudar a pessoa dependente de drogas, ao mesmo tempo em que se combate o tráfico. "Não tem solução fácil."

A entrevista com o ex-ministro foi conduzida pela apresentadora Fabíola Cidral, pelo colunista do UOL Leonardo Sakamoto e pela jornalista da Folha Carolina Linhares.

Também nesta segunda, às 16h, a conversa será com o pré-candidato ao governo Elvis Cézar (PDT), ex-prefeito de Santana de Parnaíba. As sabatinas são ao vivo, com 60 minutos de fala.

Weintraub se queixou na parte final da entrevista de ter tido pouco tempo para explanar suas propostas para o estado, mas a entrevistadora Fabíola Cidral já havia recomendado que ele desse respostas mais curtas para aproveitar melhor o tempo.

O ex-ministro reclamou ainda de perguntas que considerou maldosas e desonestas. Disse também que não mereceu uma abordagem justa ao longo da sabatina.

"Gastei 50 minutos falando do governo federal, o que não foi o combinado. A gente ia falar um pouco do estado, da política do estado. Pedi tanto para a gente tentar ter uma abordagem justa. [...] O que vocês fizeram foi uma entrevista com Abraham Weintraub, ex-ministro da Educação."

Weintraub também fez acusações ao Grupo Folha e ao UOL. "Você não acha constrangedor, por exemplo, as acusações que tem contra a família Frias, da Folha? Você é uma jornalista e está trabalhando para eles. Você se sente constrangida com as coisas que a família Frias faz? Não, você não tem nada a ver com isso."

O ex-ministro deu as declarações ao ser indagado de se sente constrangido por ser o candidato do PMB (Partido da Mulher Brasileira).

"Quando vier a turma que faz bons negócios com a família Frias, como, por exemplo, o [Fernando] Haddad... O Haddad, quando ele estava lá no ministério do MEC, a gráfica Plural, da família Frias, que controla todos os grupos em que vocês trabalham, fez ótimos negócios com o MEC. E tem um monte de acusação", disse em outro momento, ao reclamar da condução da entrevista.

"Vocês não fizeram uma pergunta sobre o estado de São Paulo, gente. É só paulada. E agora começou a metalinguagem, da maldade, pô."

Em nota, a Folha afirmou que "o ex-ministro responde com uma mentira, ademais desconexa, ao ser questionado como pré-candidato ao Governo de São Paulo". "A Plural não só não foi responsabilizada judicialmente pelo vazamento do Enem em 2009 como voltou a vencer licitação durante o governo de Jair Bolsonaro, sendo encarregada de imprimir a prova em 2020, 2021 e 2022."

A gráfica Plural era a responsável pela impressão do Enem em 2009, a primeira edição em que a prova passou a ser usada como vestibular unificado.

Na ocasião, a prova foi furtada da gráfica e houve tentativa de venda do conteúdo, inclusive a uma repórter do jornal O Estado de S. Paulo, que revelou o vazamento do exame.

A empresa não foi responsabilizada judicialmente pelo ocorrido. A gráfica Plural, empresa na qual a Folha tinha participação minoritária, voltou a vencer o certame organizado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) para imprimir o Enem a partir da edição de 2020.A empresa também fez o trabalho no exame de 2021 e imprimirá de novo a prova neste ano.

Antes disso, a gráfica RR Donnelley foi responsável pela impressão das provas de 2009 (na reaplicação da edição em que teve vazamento) até o ano de 2018. A empresa anunciou falência no início de 2019.

Naquele ano, o governo Jair Bolsonaro (PL) decidiu abrir mão de uma nova licitação e passou o contrato para a empresa classificada na segunda colocação na última licitação realizada, em 2016.

Assim, a empresa Valid foi contratada em maio de 2019, quando Abraham Weintraub já era ministro da Educação. Na edição de 2019, a primeira sob o governo Bolsonaro, uma falha iniciada na gráfica Valid provocou a divulgação de notas erradas de milhares de candidatos.

Em dezembro de 2021, a Polícia Federal fez operação contra suspeitas de corrupção envolvendo a RR Donnelley e a Valid. As duas empresas teriam agido em conjunto, em 2019, para driblar regras da licitação e garantir a transferência do contrato da RR Donneley para a Valid.

O TCU (Tribunal de Contas da União) também apurou suspeitas como essas já no certame de 2016. Neste relatório final sobre o Enem, o TCU concordou que a exigência de comprovação de planta gráfica reserva (para emergências) restringia a concorrência. O ponto permitia a habilitação de somente duas empresas: RR Donnelley e Valid.

RAIO-X

Abraham Bragança de Vasconcellos Weintraub, 50
Graduado em ciências econômicas pela USP e mestre em administração pela FGV, fez carreira como executivo no mercado financeiro e foi sócio de uma gestora de fundos. Aderiu à campanha do presidente Jair Bolsonaro, atuando na equipe de transição de governo e na Casa Civil. Foi nomeado ministro da Educação em 2019 e permaneceu 14 meses no posto. Foi indicado pelo governo para um cargo de direção no Banco Mundial, que resolveu deixar para se dedicar à pré-campanha. Alvo de investigações do Supremo Tribunal Federal sobre fake news e atos antidemocráticos, passou recentemente a criticar Bolsonaro. Filiou-se ao PMB (Partido da Mulher Brasileira) e é pré-candidato ao Governo de São Paulo

CONFIRA AS DATAS DAS SABATINAS E DOS DEBATES

Sabatinas presidenciais

  • 2º turno - de 10 a 14/10

Debates presidenciais

  • 2º turno - 13/10, às 10h

Debate com candidatos à Vice-Presidência

  • 1º turno - 29/9, às 10h

Debate com candidatos ao Senado

  • 1º turno - 27/9, às 10h

Sabatinas com pré-candidatos ao Governo de SP

  • Elvis Cézar (PDT) - 3/5 - 16h
  • Rodrigo Garcia (PSDB) - 4/5 - 10h
  • Vinicius Poit (Novo) - 4/5 - 16h
  • Altino Junior (PSTU) - 5/5 - 10h
  • Gabriel Colombo (PCB) - 5/5 - 16h
  • Tarcísio de Freitas (Republicanos) - 6/5 - 10h
  • Fernando Haddad (PT) - 6/5 - 16h
  • 2º turno - de 17 a 21/10

Sabatinas confirmadas em MG

  • Lorene Figueiredo (PSOL) - 9/5 - 10h
  • Miguel Corrêa (PDT) - 11/5 - 10h
  • Alexandre Kalil (PSD) - 12/5 - 10h
  • Carlos Viana (PL) - 13/5 - 10h
  • Romeu Zema (Novo) não aceitou o convite

Sabatinas confirmadas no RJ

  • Felipe Santa Cruz (PSD) - 16/5 - 10h
  • Rodrigo Neves (PDT) 18/5 - 10h
  • Anthony Garotinho (União Brasil) - 18/5 - 16h
  • Marcelo Freixo (PSB) - 20/5 - 10h

*Cláudio Castro (PL) ainda não respondeu ao convite

Demais sabatinas

  • Semana de 23/5 - BA
  • Semana de 30/5 - PR
  • Semana de 06/6 - RS
  • Semana de 13/6 - PE
  • Semana de 20/6 - CE

Debates com candidatos ao Governo de SP

  • 1º turno - 19/9, às 10h
  • 2º turno - 20/10, às 10h​
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