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Heinze, do PP, defende golpe militar de 64 e diz que pode distribuir medicamentos ineficazes

Pré-candidato do PP foi o terceiro entrevistado da série de sabatinas Folha/UOL no Rio Grande do Sul

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Porto Alegre

Pré-candidato ao Governo do Rio Grande do Sul pelo PP, o senador Luis Carlos Heinze se mantém alinhado a Jair Bolsonaro (PL) na defesa da ditadura militar de 1964-85 e nas críticas ao STF (Supremo Tribunal Federal), alvo predileto dos ataques do presidente. Sustentou, ainda, seu posicionamento na CPI da Covid.

"As críticas que o presidente faz ao STF eu também faço. Mas já são 63 pedidos de cassação de ministros no Senado e nada prospera", afirmou o senador, nesta terça-feira (14), durante sabatina Folha/UOL.

Pré-candidato ao Governo do Rio Grande do Sul pelo PP, Luis Carlos Heinze é sabatinado nesta terça-feira (14) - Reprodução/UOL

Para o senador, não há risco de golpe militar em caso de derrota de Bolsonaro, embora Heinze tenha dito que o regime de 1964-85 tenha sido bom.

"A grande mídia brasileira estava contra o processo que estava rolando no Brasil naquele tempo [no governo João Goulart]. Houve o golpe militar e o Brasil foi outro depois desse momento, depois de 1964", disse.

"Eu acho que foi bom, que tivemos avanços no Brasil. O Brasil foi diferente nos anos 1960 e nos anos 1970, depois do regime militar. O Brasil avançou. A energia, o desenvolvimento da parte norte, a Embrapa. Antes o Brasil importava alimentos. Tudo isso começou nos governos militares", declarou Heinze.

Questionado sobre as torturas no período, ele não respondeu.

Heinze foi questionado sobre a sua participação na CPI da Covid no Senado. Ele foi da "tropa de choque" bolsonarista na comissão, defendendo as ações do Ministério da Saúde, entre elas o estímulo ao "tratamento precoce" —kit de medicamentos ineficazes contra a Covid.

O senador sustentou suas posições na comissão: "Tem interesses econômicos. Quem pagou as pesquisas para dizer que cloroquina e ivermectina não funcionam? Quem contratou? Quem tem gato ensacado".

Ele declarou ainda que pode pode voltar a distribuir medicamentos sem comprovação científica na rede pública "se os médicos assim preconizarem". "Eu vou ter um secretário da Saúde médico. Há médicos que preconizam isso. Se médicos preconizarem, eu vou fazer. Eu sei que perco votos, mas tenho consciência dessa posição."

Para Heinze, tampouco houve demora na compra e distribuição das vacinas. "Na hora certa, o governo comprou", diz.

Heinze também respondeu sobre seu voto favorável, no Senado, ao teto de ICMS de 17% para os estados, interpretado por analistas como uma estratégia eleitoreira de Bolsonaro para que o preço dos combustíveis baixe sem precisar mexer na política de preços da Petrobras.

A medida pode resultar em falta de recursos nos estados para gastos sociais, como saúde, educação e segurança. Eles receberiam, em troca, uma compensação do governo federal ainda incerta.

"Eu entendo que a União está fazendo a sua parte para reduzir o preço dos combustíveis e que os estados também têm que fazer a sua. O meu estado vai perder arrecadação como os outros estados. Agora, tem que se fazer uma compensação de alguma forma", avalia.

Na eleição passada, Heinze abdicou da candidatura ao Governo do RS em nome de uma coligação com Eduardo Leite (PSDB). Com o ingresso de Leite na disputa, na segunda-feira (13), novamente o PP é assediado para se manter na aliança pela continuidade do governo tucano. Mas Heinze se recusa em abdicar outra vez da candidatura.

Apesar de o PP participar e ter sido líder do governo Leite na Assembleia Legislativa gaúcha, Heinze é mais uma candidato a criticar o regime de recuperação fiscal firmado pelo governo com aprovação do Legislativo, em maio de 2022.

"Eu sou contrário à negociação que ele está fazendo, embora eu não vá interferir porque é uma negociação entre o atual governo e o ministro Paulo Guedes. Mas eu vou querer mudar o acordo."

Ele explica o motivo e propõe uma negociação conjunta de governadores com a União.

"O governador Sartori (MDB) [de 2015 a 2018] pagou um ano e quatro meses da dívida com a União até obter uma liminar e deixar de pagar. Com R$ 5 bi de contas que ele pagou, já não conseguiu honrar a folha de pagamento [do funcionalismo]. Graças a essa mesma liminar, Leite não pagou um centavo da dívida. O próximo governador terá de pagar R$ 12 bi a R$ 13 bi sem juros. Eu já sei que não vou poder pagar a conta do acordo firmado."

No Rio Grande do Sul, Heinze divide o eleitorado bolsonarista com o ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL), com vantagem para Onyx nas primeiras pesquisas. Ambos têm procurado demonstrar proximidade com o presidente Bolsonaro em eventos.

"Eu já era pré-candidato antes do Onyx. Questões internas do partido me impediram de concorrer em 2018. Eu tenho um partido forte no estado, o partido com o maior número de prefeitos [no RS]. Fui um dos primeiros a fimar aliança, com o PTB. Isso na hora certa vai contar. No segundo turno estaremos juntos de qualquer jeito. Não tem problema ter dois palanques [para Bolsonaro]. Santa Catarina tem três", declara.

O senador do PP também se mostrou contrário a que policiais usem câmeras nos uniformes, mas não esclareceu o motivo.

"Eu vou ter diálogo com os profissionais da segurança pública. Quero defender não o bandido, mas o policial. Abusos são casos fora da curva."

Heinze tem 71 anos, é engenheiro agrônomo e antes de ser senador foi prefeito de São Borja (RS) e deputado federal por cinco mandatos consecutivos, sempre com atuação vinculada ao agronegócio. Em 2013, declarou em uma audiência pública no interior do RS que o governo Dilma Rousseff (PT) estava alinhado a "quilombolas, índios, gays, lésbicas, tudo que não presta".

Conforme o senador, já na época era próximo de Bolsonaro, quando o atual presidente era do PP:

"Eu 2014, ele [Bolsonaro] já queria ser presidente pelo PP. Nós tínhamos 39 deputados federais, cinco assinaram que ele fosse candidato a presidente contra a Dilma. Quem foi um dos cinco? Heinze. Em 2016, trouxe ele a Porto Alegre quando ninguém estava com Bolsonaro. Nossa ligação é de longa data. Nossa relação é de amizade, não é de política, é de pensamento, de ideias."

Em 2018, Heinze se recusou a apoiar o então candidato à Presidência da sua coligação, Geraldo Alckmin, abrindo voto a Bolsonaro desde o início. Teve um resultado surpreendente, sendo o senador mais votado do Rio Grande do Sul —fez 22% dos votos, mais do triplo do que apontavam as pesquisas pré-eleitorais.

Heinze foi o terceiro pré-candidato ao Governo do RS entrevistado da série de sabatinas promovida pela Folha e pelo UOL. Antes dele, Edegar Pretto (PT) e Vieira da Cunha (PDT) foram entrevistados.

Na quarta-feira (15), as sabatinas seguem com as participações do ex-deputado federal Beto Albuquerque, às 10h, e do deputado estadual Gabriel Souza (MDB), às 16h. Na segunda-feira (20), fecham a série o ex-ministro e deputado federal Onyx Lorenzoni (PL), às 10h, e o ex-governador Eduardo Leite (PSDB), às 16h.

A sabatina foi conduzida pelo colunista do UOL Kennedy Alencar e pelos jornalistas Tales Faria, do UOL, e Alexa Salomão, da Folha.

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