Descrição de chapéu Rio de Janeiro

Gabinetes ligados a Cláudio Castro empregam familiares do governador desde 2005

Mulher, pai ou 'irmãos de criação' ocuparam cargos, de forma alternada, na Câmara, Assembleia e, agora, no governo

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Rio de Janeiro

Gabinetes ligados a Cláudio Castro (PL) empregaram o pai, a mulher e dois filhos da madrasta do governador do Rio de Janeiro.

De forma alternada ou simultaneamente ao longo de mais de 17 anos, os quatro estiveram lotados na Câmara Municipal carioca e na Assembleia Legislativa fluminense. No governo do estado, os dois irmãos de consideração também ganharam cargos.

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), com o microfone, e a primeira-dama do estado, Analine Castro, em evento de inclusão de pessoas com deficiência - Rafael Campos - 13.fev.2022 / Governo do RJ

A maior parte das nomeações se referem a passagens no gabinete do deputado Márcio Pacheco (PSC), para quem Castro atuou como chefe de gabinete por 12 anos. Os quatro foram empregados pelo ex-chefe do governador.

Castro e Pacheco, atualmente líder do governo na Assembleia, agora vivem um caso de "inversão de papéis": a nomeação de parentes do deputado na estrutura do estado.

Em nota, o governador disse que todos os seus parentes estavam aptos a exercer atividades no serviço público. O deputado declarou ser natural terem colaboradores em comum, familiares ou não, por terem iniciado juntos na militância política.

Ambos são egressos da Renovação Carismática, movimento da Igreja Católica que adotou elementos de cultos evangélicos, como o show gospel. Os dois são cantores católicos e dividiram palcos.

Pacheco foi o primeiro a ser denunciado no caso das "rachadinhas" na Assembleia Legislativa. A Justiça ainda não analisou o caso. Ele nega as acusações. Castro e seus parentes não foram alvo das investigações.

O parente do governador que ficou por mais tempo no gabinete do deputado foi seu pai, Clerton Castro. Ele foi nomeado em janeiro de 2005 na Câmara Municipal, quando Pacheco assumiu pela primeira vez o mandato de vereador.

Clerton ficou vinculado ao gabinete de Pacheco até dezembro de 2016, tendo acompanhado o chefe para a Assembleia Legislativa em 2011, quando ele assumiu o mandato como deputado estadual.

Ao longo dos 12 anos de nomeação, o pai do governador trocou de gabinete apenas por dez meses.

Entre janeiro e outubro de 2009, Clerton foi nomeado pelo então vereador Eduardo Moura, suplente que assumiu a cadeira após Pacheco ser nomeado secretário na primeira gestão de Eduardo Paes (2009-2012) na prefeitura.

Cláudio Castro seguiu com Pacheco para a prefeitura como assessor da secretaria. O atual governador deixou o cargo em julho de 2009 e foi nomeado em setembro do mesmo ano também para o gabinete de Moura, onde voltou a trabalhar com o pai.

Os dois voltaram para o gabinete de Pacheco quando o então vereador deixou a secretaria, em novembro de 2009, e reassumiu o mandato na Câmara dos Deputados.

O governador Cláudio Castro (PL) e o deputado estadual Márcio Pacheco (PSC) - Reprodução/Facebook

Apesar de constar como servidor público da Câmara Municipal e na Assembleia Legislativa entre 2005 e 2016, Clerton declarou-se como empresário em documentos entregues à Justiça e ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas.

O pai do governador é, desde 2005, o principal dono da empresa Ultramarina Consultoria e Informática. A firma tem como objetivo a assessoria de projetos de engenharia, projetos de informática e bancos de dados.

A Ultramarina foi criada em julho de 2005 tendo como sócio Vinicius Sarciá Rocha, filho de Wilma Correa Sarciá, mulher de Clerton.

Filho da madrasta e considerado um irmão de consideração do governador, Vinícius teve trajetória semelhante à de Clerton. Foi nomeado em janeiro de 2005 no gabinete de Pacheco e teve passagem pelo de Moura na Câmara, tendo trabalhado também na Assembleia com o deputado até dezembro de 2012.

Vinicius, porém, manteve-se com cargos ligados a Cláudio Castro. Ele foi nomeado diretor de Comunicação da Câmara Municipal quando o governador exercia o mandato de vereador, tendo ocupado também o cargo de segundo-secretário na Mesa Diretora.

Eleito como vice na chapa do ex-governador Wilson Witzel (PSC), Castro nomeou o "irmão de consideração" como assessor de seu gabinete. Atualmente, ele também preside o Conselho de Administração da AgeRio (agência de fomento do estado).

Outro enteado do pai do governador, Caius Sarciá Rocha, também teve passagens pelo gabinete de Pacheco. Ele esteve nomeado por três meses em 2005 na Câmara Municipal e voltou a atuar pelo deputado em janeiro de 2011.

Caius também conseguiu um cargo no governo estadual, em janeiro de 2020, na Secretaria de Educação, tendo depois ido para a Prefeitura do Rio de Janeiro, na gestão Marcelo Crivella, e depois para o gabinete do vereador João Ricardo, correligionário de Castro até outubro de 2021.

Ele também passou a integrar o quadro societário da Ultramarina, em outubro de 2009.

A primeira-dama Analine Castro também trabalhou com Pacheco. Ela foi nomeada pela primeira vez na Câmara Municipal em março de 2007, cinco meses após se casar com Cláudio Castro. Ficou até dezembro de 2008, tendo saído em alguns meses no período.

Em seguida, retornou para o gabinete de Pacheco, agora na Assembleia, em janeiro de 2013, onde ficou por três anos. Ela também foi nomeada na diretoria de Patrimônio da Alerj entre 2017 e 2018, na gestão de André Ceciliano (PT) na presidência da Casa.

Analine também se tornou sócia da Ultramarina. Ela foi incluída na sociedade em janeiro de 2019, mês em que o marido tomou posse como vice-governador. Na mesma data, também foi integrada na empresa Wilma Sarciá, madrasta de Cláudio Castro.

No governo, Cláudio Castro inverteu os papéis com Pacheco. Nomeou seis parentes do deputado na estrutura do governo. Todos foram exonerados, a maioria após o caso ser revelado pelo RJTV, da TV Globo.

Todos eram aptos a assumir cargo, diz governador

O governo do estado afirmou, em nota, que todos os parentes de Cláudio Castro "estavam aptos a exercer atividades no serviço público e davam expediente regularmente".

O posicionamento afirma ainda que não há ilegalidade em Clerton se declarar como empresário em ações na Justiça.

"A empresa Ultramarina, que prestava serviços de engenharia, não tem movimentação financeira há vários anos", diz o Palácio Guanabara.

"É importante deixar claro que Vinicius e Caius não são irmãos do governador Cláudio Castro. Portanto, as nomeações não configuram nepotismo. Vale ressaltar que atualmente Caius não é servidor do estado", afirma a nota do governo.

Márcio Pacheco declarou em nota que ele e o governador "começaram juntos na militância política". "Trabalharam juntos em campanhas e mandatos. Eles têm, portanto, colaboradores em comum, familiares ou não."

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