Descrição de chapéu vale do javari

PF ignora denúncias sobre crimes no Vale do Javari, dizem indígenas

Povos da região reagem a comunicado da polícia de que não há mandante nas mortes de jornalista e indigenista e afirmam que presos integram grupo criminoso

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Ribeirão Preto

A Polícia Federal ignorou documentos apresentados por indígenas sobre a atuação do crime organizado na terra indígena Vale do Javari, na Amazonas, onde foram assassinados o indigenista Bruno Pereira, 41, e o jornalista britânico Dom Phillips, 57.

A afirmação é da Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari) e foi feita nesta sexta-feira (17) em resposta a um comunicado da PF que diz que há indícios da participação de mais pessoas no crime, mas afirma também que as investigações "apontam que os executores agiram sozinhos, não havendo mandante nem organização criminosa por trás do delito".

Na noite de terça-feira (14), o pescador Amarildo Oliveira, o Pelado, 41, prestou depoimento e confessou ter participado da morte dos dois, segundo a PF. Além dele, Oseney da Costa de Oliveira, o Dos Santos, seu irmão, é considerado suspeito de envolvimento com o crime.

"Com esse posicionamento, a PF desconsidera as informações qualificadas, oferecidas pela Univaja em
inúmeros ofícios, desde o segundo semestre de 2021 [...] Tais documentos apontam a existência de um grupo criminoso organizado atuando nas invasões constantes à terra indígena Vale do Javari, do qual Pelado e Dos Santos fazem parte", diz a entidade indígena.

Ainda de acordo com a Univaja, esse grupo é formado por caçadores e pescadores profissionais, está envolvido no assassinato de Bruno e Dom e foi descrito em documentos enviados ao Ministério Público Federal, à própria PF e à Funai (Fundação Nacional do Índio).

"Descrevemos nomes dos invasores, membros da organização criminosa, seus métodos de atuação, como entram e como saem da terra indígena, os ilícitos que levam, os tipos de embarcações que utilizam em suas atividades ilegais."

"Foi em razão disso que Bruno Pereira se tornou um dos alvos centrais desse grupo criminoso, assim como outros integrantes da Univaja que receberam ameaças de morte, inclusive, através de bilhetes anônimos."

Segundo os indígenas, a nota da PF tem ignorado as denúncias e minimizado os danos, mesmo após os assassinatos de Bruno e Dom.

"O requinte de crueldade utilizado na prática do crime evidencia que Pereira e Phillips estavam no caminho de uma poderosa organização criminosa que tentou à todo custo ocultar seus rastros durante a investigação. Esse contexto evidencia que não se trata apenas de dois executores, mas sim de um grupo organizado que planejou minimamente os detalhes desse crime."

"Exigimos a continuidade e o aprofundamento das investigações. Exigimos que a PF considere as informações qualificadas que já repassamos a eles em nossos ofícios. Só assim teremos a oportunidade de viver em paz novamente em nosso território, o Vale do Javari", conclui a Univaja em seu comunicado nesta sexta-feira.

Na última quarta (15), Pelado foi levado por policiais federais para a área do crime, onde houve uma reconstituição e onde dois corpos foram encontrados. A equipe retornou da área de noite com os corpos dentro de sacos pretos.

Bruno e Dom estavam desaparecidos desde o último dia 5 de junho na região do Vale do Javari. Os próprios índios iniciaram as buscas por eles no mesmo dia.

Fontes ouvidas pela Folha afirmam que a confissão do crime só foi feita por Pelado. Dos Santos disse não ter participação no assassinato. Pelado também nega que seu irmão tenha agido no caso.

Policiais civis cumpriram uma diligência nesta quinta-feira (16), que não se referia a nova prisão de suspeitos, e colheriam ainda novos depoimentos. Três irmãos de Pelado foram ouvidos. Supostos participantes citados por Pelado estão sendo procurados, mas ainda não foram encontrados.

Policiais federais também buscam formas de encontrar o barco que era utilizado pelos dois. A embarcação foi afundada com sacos de terra, segundo divulgado pela PF.

Em nota nesta sexta, a PF afirmou que a procura continua e conta com o apoio dos indígenas da região e dos integrantes da Univaja.

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