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Procuradores reagem a Bolsonaro e cobram Aras para abertura de investigação

Grupo dos 43 procuradores dos direitos do cidadão que atuam em todo o país quer que o presidente seja investigado por ilícito eleitoral

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Brasília

Procuradores da República afirmaram nesta terça-feira (19) que Jair Bolsonaro faz campanha de desinformação, avilta a liberdade democrática e acionaram o procurador-geral da República, Augusto Aras, para que o presidente seja investigado.

Assinado por 43 integrantes do Ministério Público Federal que atuam como procuradores dos direitos do cidadão em todo o país e endereçado à Procuradoria-Geral Eleitoral, comandada por Aras, o ofício que pede a apuração é uma reação de integrantes do órgão às acusações feitas sem provas por Bolsonaro ao sistema eleitoral durante apresentação para embaixadores no Palácio da Alvorada nesta segunda (18).

O presidente Jair Bolsonaro e o procurador-geral da República, Augusto Aras, em cerimônia no Palácio do Planalto - Pedro Ladeira-17.abr.20/Folhapress

"O presidente da República atacou explicitamente o sistema eleitoral brasileiro, proferindo inverdades contra a estrutura do Poder Judiciário Eleitoral e a democracia brasileira, em clara campanha de desinformação, o que semeia a desconfiança em instituições públicas democráticas, bem como na imprensa livre", afirmam os signatários do documento.

"A conduta do presidente da República afronta e avilta a liberdade democrática, com claro propósito de desestabilizar e desacreditar o processo e as instituições eleitorais e, nesse contexto, encerra, em tese, a prática de ilícitos eleitorais decorrentes do abuso de poder."

Eles lembram no ofício que as informações falsas veiculadas durante o encontro de Bolsonaro com os representantes estrangeiros foram rebatidas pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

A corte produziu um relatório com destaque a 20 alegações feitas pelo chefe do Executivo. O resumo reúne links para notícias publicadas no site do próprio tribunal e jornais para desmenti-lo.

Uma das alegações é a de que o TSE descumpre legislação e não imprime voto mesmo após recomendação da Polícia Federal. De acordo com o tribunal, não é verdade. Uma lei não chegou a entrar em vigor porque foi considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal.

Mais cedo, 33 subprocuradores-gerais da República divulgaram manifesto para afirmar que entre os direitos conferidos ao presidente da República pela Constituição não está previsto o de dizer "inverdades, nem de, impunemente, atacar as instituições em esforço para desacreditá-las". Topo da carreira no MPF, existem atualmente 71 subprocuradores na ativa.

O texto afirma que, para garantir a independência da Justiça Eleitoral, a lei aponta como crimes de responsabilidade, entre outros, "utilizar o poder federal para impedir a livre execução da lei eleitoral, servir-se das autoridades sob sua subordinação imediata para praticar abuso do poder, subverter ou tentar subverter por meios violentos a ordem política e social, incitar militares à desobediência à lei ou infração à disciplina e provocar animosidade entre as classes armadas, ou delas contra as instituições civis".

Nesta segunda, em evento da OAB do Paraná, o presidente do TSE, Edson Fachin, afirmou que quem divulga informações falsas sobre o sistema eleitoral brasileiro "semeia a antidemocracia".

"Vivemos um tempo intrincado, marcado pela naturalização do abuso da linguagem e pela falta de compromisso cívico, em que se deturpam, sistematicamente, fatos consolidados, semeando a antidemocracia, pretensamente justificada por um estado de coisas inventado, ancorado em pseudorrepresentações de elementos que afrontam, a toda evidência, a seriedade do sistema de justiça e a alta integridade dos pleitos nacionais", disse Fachin.

Os procuradores da República que reagiram às falas de Bolsonaro citaram no pedido a Aras um procedente do TSE para defender a apuração.

A corte cassou o mandato de deputado estadual de Fernando Francischini (União Brasil), um apoiador do presidente, por disseminação de fake news relacionadas ao sistema eletrônico de votação nas eleições de 2018. A cassação de Francischini foi recentemente confirmada pelo Supremo.

Os autores do documento lembram ainda que é missão constitucional do MP brasileiro a proteção da democracia, bem como a necessidade de reforçar a independência da Justiça Eleitoral.

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