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Folhajus cartas pela democracia

Próximos passos colocarão à prova compromissos em defesa da democracia

Movimentos sociais indicam querer ir além dos consensos alcançados com manifestos

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São Paulo

Os atos em defesa da democracia realizados nesta quinta (11) na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo reproduziram características que se revelaram essenciais para alcançar o grande número de adesões recebidas pelos dois manifestos que foram lidos.

A maioria dos oradores usou seus discursos para reforçar os pontos que deram equilíbrio aos textos, enaltecendo os valores da Constituição de 1988, expressando confiança na integridade do processo eleitoral e rejeitando qualquer tipo de ruptura da ordem democrática.

Público reunido na frente da Faculdade de Direito da USP, no centro de São Paulo, acompanha a leitura de manifestos pela democracia. - Eduardo Knapp/Folhapress

Na escolha dos oradores e na cenografia, valorizou-se a diversidade e a simbologia. Cantou-se o hino nacional no começo da festa e no encerramento. Três mulheres e um homem branco leram a carta dos ex-alunos da USP. Uma delas era negra, e as três vestiam branco e amarelo.

Das 13 pessoas que se revezaram ao microfone antes da leitura do manifesto articulado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) com outras entidades, 7 representavam centrais sindicais e movimentos sociais que aderiram ao documento quando estava pronto.

Partiram deles as raras notas dissonantes do coro, incluindo duas menções discretas, mas reconhecíveis por todos, ao presidente Jair Bolsonaro (PL). Seu nome não foi pronunciado por nenhum dos oradores para evitar acusações de partidarismo que poderiam mitigar o impacto dos atos.

Candidatos às próximas eleições e políticos habituados aos holofotes foram mantidos longe dos microfones e dos palcos centrais. Gritos de repúdio a Bolsonaro e a favor de seu adversário na corrida presidencial, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), só foram proferidos pelos manifestantes no fim.

O reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior, fez menção às 47 pessoas da comunidade universitária mortas pela repressão política nos anos da ditadura militar (1964-1985), e a presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Bruna Brelaz, citou os líderes estudantis que tombaram na mesma época.

Coube à advogada Beatriz Lourenço do Nascimento, representante da Coalizão Negra por Direitos, lembrar as vítimas da brutalidade dos dias atuais ao mencionar a morte do adolescente João Pedro Mattos Pinto, baleado numa ação policial na região metropolitana do Rio, há dois anos.

"Enquanto houver racismo, não haverá democracia", discursou Nascimento. O empresário Horácio Lafer Piva, acionista da Klabin, falou depois dela e procurou reforçar a mensagem principal dos manifestos, em torno de consensos mínimos. "Sigamos juntos", afirmou.

Miguel Torres, líder dos metalúrgicos de São Paulo e presidente da Força Sindical, propôs a convocação de uma assembleia permanente dos movimentos que apoiaram a carta articulada pelos empresários. Ao discursar, convocou todos na plateia a ficarem de pé e levantarem os braços, de mãos dadas, em sinal de aprovação.

Todos responderam positivamente ao apelo de Torres, mas ao final dos eventos ninguém sabia ainda qual será o próximo passo —nem mesmo o autor a ideia. As centrais sindicais devem se reunir na próxima semana com o fim de discutir o que fazer para evitar que a energia gerada pelos manifestos se dissipe.

Os articuladores dos documentos planejam realizar eventos com os presidenciáveis que os apoiaram e a cúpula do Poder Judiciário, mas até participantes da redação da carta dos ex-alunos da USP não sabiam o que acontecerá. Movimentos populares planejam manifestações nas principais capitais no dia 10 de setembro.

As falas dos representantes dos movimentos sociais nos atos desta quinta sugerem que muitos apoiadores dos manifestos querem ir além dos consensos estabelecidos pelos documentos em defesa da democracia. Os próximos passos colocarão à prova a solidez dos compromissos celebrados nesta quinta.

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