Descrição de chapéu Eleições 2022

Amazonas tem disputa entre atual e dois ex-governadores

Wilson Lima tenta reeleição tendo como adversários principais o senador Eduardo Braga e Amazonino Mendes

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Manaus

Com gestão marcada por dois colapsos do sistema de saúde na pandemia, crises ambientais, na segurança pública e suspeitas de corrupção, o governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), concorre à reeleição contra nomes da política tradicional do estado que ele derrotou, há quatro anos, com votação histórica.

Dois ex-governadores, o senador Eduardo Braga (MDB) e Amazonino Mendes (Cidadania), destacam-se como seus principais adversários. Ainda estão na disputa Dr. Israel Tukuya (PSOL), Henrique Oliveira (Podemos), Ricardo Nicolau (Solidariedade), Carol Braz (PDT) e Nair Blair (Agir).

Wilson Lima, Eduardo Braga e Amazonino Mendes, que disputam o Governo do Amazonas
Wilson Lima, Eduardo Braga e Amazonino Mendes, que disputam o Governo do Amazonas - Secom Amazonas, Eduardo Braga no Facebook e Divulgação

Em 2018, sem tempo de TV e fundo partidário, o apresentador de programa policial Wilson Lima disputou pela primeira vez uma eleição pelo PSC e recebeu a maior votação da história do Amazonas.

Com mais de um milhão de votos, derrotou no 2º turno Amazonino Mendes, que tentava a reeleição.

O outsider deixou o senador Omar Aziz (PSD), que foi governador, na quarta colocação do primeiro turno com 8,07% dos votos válidos. O candidato que concorria ao Senado ao lado de Wilson Lima em 2018 por pouco não tirou a reeleição de Braga.

A vitória de Wilson quebrou um ciclo de revezamento no poder do mesmo grupo que durou quase 40 anos.

A aposta da política tradicional era que uma decepção com o novo fosse a senha para o retorno deles ao comando do estado.

Em parte, Wilson Lima cumpriu as expectativas. Quatro secretários dele foram presos. Três da Saúde, em plena pandemia, na operação Sangria da Polícia Federal, que bateu na porta do próprio governador por duas vezes e três no gabinete dele.

A suspeita de compra de respiradores inservíveis para casos graves de Covid-19 numa loja de vinhos, enquanto pacientes morriam nos hospitais ao lado de cadáveres e médicos improvisaram atendimento, tornou Wilson Lima réu no STJ (Superior Tribunal de Justiça).

O governador foi indiciado na CPI da Covid como um dos responsáveis pelo colapso do oxigênio.

O quarto secretário preso, em 2021, foi o de Inteligência da Secretaria de Estado de Segurança Pública, Samir Freire, cargo de confiança do governador.

Ele é suspeito de envolvimento no desvio de ouro de garimpos ilegais com uso da estrutura da pasta. Um mês antes, o Comando Vermelho promoveu atentados ao patrimônio público em Manaus e lançou "salve" acusando o sistema de segurança de montar milícia.

Alvo de pedido de impeachment na Assembleia Legislativa do Amazonas, no mesmo período que o outro governador eleito pelo PSC foi afastado do cargo no Rio de Janeiro, Wilson Witzel, Wilson Lima articulou alianças.

Sob a lupa da PF, ao contrário de Witzel, se aproximou dos filhos do presidente Bolsonaro e exibiu alinhamento até quando o Planalto o apontou como responsável pela falta de oxigênio. O experiente Omar Aziz ajudou a rearticular a base na Assembleia.

Amazonino quase ficou sem partido e conseguiu, às vésperas do final do prazo de filiação, o Cidadania, que fez federação com o PSDB.

Braga também teve seu apoio esvaziado. Mas o racha no MDB contra a candidatura de Simone Tebet deu ao senador amazonense a aliança com a federação PT, PC do B, PV e o PSD de Omar.

Braga levou o tempo de TV e Lula, mas não a militância e luta para chegar ao segundo turno. A resistência a Braga é o voto a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e a posição na CPI da Covid-19 pouco contundente contra Bolsonaro.

Filiados a partidos de adversários também apoiam Wilson Lima pela frente ou bastidores. No comício de Lula e Braga no Amazonas, durante discurso de Omar, um grupo gritou "Fora, Wilson" e o senador interrompeu a crítica puxando: "Fora, Bolsonaro". No final, pediu votos para Braga.

"O governador saneou parte da imagem negativa com ações sociais e os pontos fracos são pouco explorados pelos adversários. Não vai aos debates para não responder o que ninguém perguntou. As campanhas são amadoras. Amazonino, talvez, por falta de dinheiro", disse o analista político Afrânio Soares, presidente do Instituto Action Pesquisas de Mercado.

Wilson Lima lidera a corrida eleitoral de acordo com a pesquisa Ipec mais recente. Feita entre os dias 14 e 16, a pesquisa mostrou o atual governador com 34% das intenções de voto, à frente de Amazonino, com 26%, e Eduardo Braga, com 17%.

A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos. Segundo sua campanha, ele não foi ao único debate promovido no estado até momento porque cumpria agenda em Tabatinga, a 1.106 quilômetros de Manaus, onde ele foi realizado.

Amazonino, aos 82 anos, lida com problemas de saúde e a condição física. Na convenção, interrompeu o discurso e pediu para se sentar, com auxílio de terceiros. A campanha no interior, onde as estradas são os rios e com grandes distâncias, é nula.

O doutor em ciências sociais da Ufam (Universidade Federal do Amazonas) Marcelo Seráfico afirma que o desempenho eleitoral de Amazonino é efeito da falta de renovação política e da memória afetiva pelas obras e programas sociais dos governos dele. O sociólogo credita o bom desempenho de Wilson Lima ao domínio dos cofres públicos.

O doutor em ciências da comunicação social e sociólogo Wilson Nogueira afirma que o domínio da mídia pelo financiamento público também ajuda Wilson Lima.

"A imprensa nacional coloca a culpa [na pandemia] no Bolsonaro e o sistema de comunicação regional é atrelado à pauta do Sudeste, com programação devagar, controlada pela publicidade do Estado. Isso facilita a vida do Wilson", disse.

Nogueira avalia que a onda de combate à corrupção e questões associadas à gestão de Braga e Amazonino também explicam a rejeição ao nome deles. O governo Braga também enfrentou operações da Polícia Federal e o nome dele foi citado na Lava Jato.

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