Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Bolsonaro atribui a ex-cunhado metade dos imóveis negociados em dinheiro

Presidente diz que não encontra ex-parente 'há um tempão' e minimiza levantamento sobre compra de imóveis em espécie

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Brasília

O presidente Jair Bolsonaro (PL) atribuiu a um ex-cunhado não nomeado metade das compras de imóveis em dinheiro vivo realizadas por ele e por sua família nos últimos 32 anos.

O mandatário disse que não encontra o ex-parente "há um tempão" e tentou se eximir de responsabilidade pelas negociações em espécie. Reportagem do UOL apontou que, desde 1990, o presidente, irmãos e filhos negociaram 107 imóveis, 51 dos quais adquiridos total ou parcialmente com dinheiro vivo.

O presidente Jair Bolsonaro participa de cerimônia de posse do ministro Luis Felipe Salomão, no CNJ, em Brasília
O presidente Jair Bolsonaro participa de cerimônia de posse do ministro Luis Felipe Salomão, no CNJ, em Brasília - Gabriela Biló - 30.ago.22/Folhapress

Nesta quinta (1º), o presidente disse à Jovem Pan que a informação é uma tentativa de desgastá-lo. "Por que faz isso em cima da minha família? Metade dos imóveis é de ex-cunhado meu. O que tenho a ver com ex-cunhado?", disse. "Busca uma maneira, 30 dias antes [da eleição], um levantamento feito pela Folha, que não tem qualquer credibilidade, me acusar disso. Bota minha mãe, que já faleceu, nesse rol também."

Apenas um trecho da entrevista foi veiculado pela emissora. A previsão é que a íntegra seja transmitida na segunda (5). Apesar da afirmação de Bolsonaro, a reportagem, na verdade, foi publicada pelo UOL.

Segundo a apuração do portal de notícias, a declaração do presidente não condiz com o levantamento realizado, uma vez que só 8 dos 51 imóveis listados foram comprados por esse braço da família.

Na terça (30), Bolsonaro já havia minimizado a reportagem. "Qual é o problema de comprar com dinheiro vivo algum imóvel? Não sei o que está escrito na matéria...", disse ele, após participar de sabatina em Brasília. A afirmação, porém, representa uma mudança de discurso do mandatário. Há quatro anos, em entrevista à Folha sobre sua evolução patrimonial, descartou ter usado dinheiro vivo nas transações.

"Levar em dinheiro e pagar? Geralmente é DOC. Levar em dinheiro não é o caso. Pode ser roubado. Tira do banco direto e manda para lá. Eu não guardo dinheiro no colchão em casa", afirmou em janeiro de 2018.

Na ocasião, Bolsonaro também ironizou a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que havia declarado na eleição de 2014 possuir R$ 152 mil em espécie.

De acordo com a reportagem, dos 51 imóveis, o valor gasto em dinheiro vivo foi de R$ 13,5 milhões.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que integra a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), apresentou ao STF (Supremo Tribunal Federal) um pedido para que o caso seja investigado. O ministro André Mendonça, indicado por Bolsonaro à corte, foi sorteado relator do caso.

O uso de dinheiro vivo não é crime, mas é apontado por especialistas como um meio de lavagem de valores obtido por meios ilícitos em razão da dificuldade de rastreio pelas instituições financeiras.

Segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro, essa foi a forma de captação de recursos de ex-assessores pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no esquema da "rachadinha". Promotores dizem que o filho do presidente recolheu o dinheiro e praticou lavagem por meio da compra de dois imóveis em Copacabana.

Flávio foi denunciado sob acusação de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa, mas o caso foi arquivado após o STJ (Superior Tribunal de Justiça) anular as principais provas do caso. O MP-RJ afirma que pretende reabrir a investigação. A suspeita é que o filho do presidente liderava um esquema para arrecadar parte dos salários de seus funcionários na época em que era deputado estadual.

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