Bolsonaro tem homenagem cancelada no Nordeste em reduto de ex-aliado

Sob comando de vereador ligado a Fernando Bezerra Coelho, Legislativo suspende cerimônia e revolta bolsonaristas

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Petrolina (PE) e Brasília

Em campanha no sertão do Nordeste nesta terça (27), o presidente Jair Bolsonaro (PL) protagonizou um episódio emblemático da política de arranjos de ocasião, ao ter cancelada de última hora uma cerimônia de entrega de título de cidadão no reduto de seu ex-aliado e ex-líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE).

O presidente foi a Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), a cerca de 700 km do Recife, para buscar reduzir a larga vantagem do adversário Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na região, segundo as pesquisas, mas teve seu último palanque da agenda tomado por discursos sobre a não entrega da homenagem, que revoltou aliados.

O presidente Jair Bolsonaro (PL), em evento de campanha em Petrolina (PE) - Geraldo José/RedeGN

O seu último evento em Petrolina aconteceria no início da tarde, quando receberia o título de cidadão aprovado pela Câmara Municipal da cidade em 2019. O Legislativo municipal, no entanto, divulgou nota para informar que não realizaria a entrega de honrarias em período eleitoral. A justificativa foi uma portaria publicada ainda em julho.

"A referida portaria de autoria do presidente [da Câmara] Aero Cruz suspende as solenidades de entrega de títulos durante todo o período eleitoral. A suspensão tem como objetivo zelar pela lisura do processo eleitoral, assegurar a igualdade de oportunidades entre os candidatos, bem como respeitar os ditames da legislação eleitoral", afirma a nota.

O texto afirma que outros pedidos de homenagens apresentados pelos vereadores da cidade foram negados.

"Cabe esclarecer ainda que, caso a entrega de qualquer honraria anteriormente aprovada seja realizada antes do término do período eleitoral, este ato não tem amparo do Poder Legislativo Municipal e fere a orientação normativa estabelecida por esta Casa Legislativa", completa.

O presidente da Câmara Municipal, Aero Cruz (MDB), é aliado político de Fernando Bezerra Coelho.

O senador era homem de confiança e o principal negociador do governo Bolsonaro no Senado, possibilitando a aprovação de textos que abriram caminho para o governo arcar com gastos em benefícios sociais, como a PEC Emergencial, além de ter defendido o Planalto na CPI da Covid.

Como a Folha revelou no ano passado, Coelho foi o padrinho do envio de mais de R$ 300 milhões para obras e compras de máquinas e equipamentos à região de Petrolina pela estatal Codevasf quando era próximo da gestão Bolsonaro.

No entanto, o governo o abandonou durante sua tentativa de obter vaga no TCU (Tribunal de Contas da União). Após sofrer uma derrota expressiva, Bezerra deixou o cargo de líder do governo.

Mais recentemente, Bolsonaro atacou Bezerra, afirmando que ele "teve tudo de nossa parte", mas que não mencionava o nome do presidente em Pernambuco. Ainda acrescentou que seu grupo político fazia campanha para Lula na região.

Além do aliado na presidência da Câmara Municipal, o município era administrado até março pelo filho de Bezerra, Miguel Coelho (União Brasil), que renunciou para se candidatar nas eleições ao Governo de Pernambuco neste ano.

Na última agenda pública de Bolsonaro na região, o ex-ministro do Turismo e candidato ao Senado, Gilson Machado (PL), criticou o cancelamento da homenagem ao lado do presidente em um trio elétrico estacionado em frente ao Bodódromo, o centro de restaurantes de comida típica da cidade.

"Acabaram de proibir o título que um vereador tinha dado a ele, mas o povo de Petrolina vai dar agora a resposta é no dia 2 [de outubro], é na urna. O presidente Bolsonaro foi o maior prefeito de Petrolina. O presidente Bolsonaro mandou para Petrolina mais de R$ 400 milhões de reais", afirmou.

O candidato ao governo do estado Anderson Ferreira (PL) fez uma alusão à falta de apoio da família de Coelho à campanha de Bolsonaro.

"Presidente, o senhor é o presidente que mais fez por Petrolina e pelo sertão. Esse povo que hoje participou dessa motociata não [foi] covarde, como muitos aqui. E vocês sabem de quem eu estou falando. Eu vim aqui para dar um recado: Anderson Ferreira, e a família Ferreira estão fechados com Bolsonaro. Gratidão é dívida que não prescreve", disse.

Após as falas dos aliados, Bolsonaro iniciou seu discurso mencionando o episódio, ao dizer que aquele era um "título do povo".

"Com esse título do povo, eu agora sou, de fato, um cabra da peste", afirmou.

Bolsonaro chegou a Petrolina por volta das 9h. Logo após desembarcar, subiu em um touro que tinha adesivos com o número do candidato colado em seu chifre. Depois participou de uma motociata até Juazeiro. Em um breve momento, houve tensão quando um de seus seguranças reagiu à aproximação de um militante, precisando ser contido pelo presidente, que o repreendeu duramente.

Em Juazeiro, o presidente discursou para os militantes e repetiu ataques a Lula e ao PT, como vem fazendo em comícios em diversas partes do Brasil. Citou desvios e prejuízos do governo petista na Petrobras, no BNDES e na Caixa Econômica Federal.

"Essa é a marca do governo do PT e de Lula. Não queremos isso para o nosso Brasil. Não queremos um ladrão chefiando o governo federal", afirmou.

O presidente também voltou a afirmar que será eleito no primeiro turno das eleições presidenciais. No entanto, Bolsonaro não mostrou a mesma disposição apresentada em eventos anteriores, como nos discursos em Natal (RN) e Londrina (PR). As falas foram mais rápidas e mesmo os ataques a Lula não foram tão virulentos.

Estiveram ao lado de Bolsonaro na cidade baiana o deputado federal e ex-ministro da Cidadania João Roma (PL), que disputa o governo do estado, e a candidata ao Senado Raissa Soares (PL).

A comitiva do presidente voltou a Petrolina em uma carreata e motociata, quando o presidente discursou no Bobódromo.

Na última pesquisa Datafolha, havia diferença de 38 pontos a favor de Lula contra Bolsonaro (62% a 24%) no Nordeste, enquanto em âmbito nacional a dianteira do petista era de 14 pontos (47% a 33%).

A visita do presidente também teve como objetivo impulsionar Anderson Ferreira ao segundo turno das eleições, uma vez que as pesquisas eleitorais mostram que ele trava uma disputa acirrada pelo segundo lugar.

Marília Arraes (Solidariedade), lidera a corrida estadual com 33% das intenções de voto, segundo pesquisa Ipec divulgada em 21 de setembro.

Anderson marca 11%, mesmo percentual dos adversários Danilo Cabral (PSB), Raquel Lyra (PSDB) e Miguel Coelho (União Brasil).

Já na Bahia, o candidato de Bolsonaro ao governo estadual, João Roma, está distante dos primeiros colocados, segundo o Datafolha

Pesquisa do instituto na Bahia, realizada nos dias 19 e 21 de setembro, mostra Roma na terceira posição, com 8% das intenções de voto, atrás de ACM Neto (União Brasil), com 48%, e Jerônimo Rodrigues (PT), que obteve 31%.

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