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Lula diz que já andou armado para se proteger à noite em SP

Declaração contraria fala do petista do dia 4, quando disse: 'tenho 76 anos, nunca tive interesse em ter arma'

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São Paulo

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que ele já andou armado à noite em São Paulo para se defender.

Em encontro com representantes do segmento do esporte nesta terça-feira (27), ao criticar a política armamentista do presidente Jair Bolsonaro (PL), Lula afirmou que já teve uma "garruchinha 22". Garrucha é uma arma de cano curto.

"Eu, quando namorava, muito tempo atrás, eu tinha uma garruchinha 22. Eu namorava até as 23h30 e tinha que sair a pé. Era longe pacas e não tinha ônibus. Eu tinha uma garruchinha, colocava ela aqui dentro, tirava as balas com medo que elas estourassem alguma coisa aqui dentro e colocava as balas no bolso", afirmou Lula.

O ex-presidente Lula (PT) durante encontro com representantes do segmento do esporte nesta terça (27)
O ex-presidente Lula (PT) durante encontro com representantes do segmento do esporte nesta terça (27) - Marlene Bergamo/Folhapress

"Se um cara viesse para cima de mim, eu falava: 'oi, pera aí, deixa eu colocar as minhas balas aqui'", seguiu Lula. "Mas não tem necessidade, quem não sabe usar arma", completou.

A declaração de Lula, no entanto, contraria o que ele afirmou em um encontro com trabalhadoras domésticas, no último dia 4, ao criticar os decretos de flexibilização da posse de armas editados pelo atual presidente.

"Tenho 76 anos, nunca tive interesse em ter arma. Eu tenho a fé em Deus e meu comportamento. É isso que é a minha proteção", afirmou naquele evento.

Ainda em seu discurso nesta terça, o petista chamou atenção para o aumento da violência política e disse que apoiadores de Bolsonaro já "mataram três ou quatro". "O bolsonarismo representa uma parte daquilo que a gente pensava que não existia, porque a gente tinha pensado que a direita tinha ficado civilizada", disse.

"A gente não tinha experiência de violência, a violência era verbal. Agora, não", seguiu.

O petista voltou a dizer que os decretos de armas do governo Bolsonaro favorecem o narcotráfico e o crime organizado. "A venda de armas liberada não vai para pessoas boas. Quem tá comprando armas é o narcotráfico, o crime organizado. Qual cidadão de bem que quer tantas armas?"

Em entrevista ao Canal Rural na semana passada, o ex-presidente reforçou seu posicionamento contrário ao armamento da sociedade, mas disse que isso não significa que donos de fazenda não poderão ter armas para garantir sua segurança. Ele citou inclusive que seu pai tinha arma em casa.

Temas de segurança pública, principalmente a pauta armamentista do presidente Bolsonaro, se converteram em ponto sensível para a campanha de Lula.

Aliados do petista avaliam que essa é uma seara dominada por eleitores de Bolsonaro e que qualquer tropeço pode dar munição aos opositores.

Em reunião com governadores e ex-governadores no dia 30 de agosto para tratar do tema, Lula prometeu a retomada de Estatuto do Desarmamento e a recriação do Ministério da Segurança Pública.

No último dia 20, a maioria dos integrantes do STF (Supremo Tribunal Federal) votou por manter a decisão do ministro Edson Fachin que suspendeu trechos de decretos assinados pelo presidente Bolsonaro que flexibilizavam a compra de armas e de munições.

Como a Folha mostrou, o número de armas de fogo nas mãos dos CACs (caçadores, atiradores e colecionadores) chegou a 1 milhão em julho deste ano. Essas categorias têm sido as mais beneficiadas por normas editadas no governo Bolsonaro que facilitaram o armamento da população.

Um mote da gestão de Bolsonaro tem sido a facilitação da compra de armas pela população —e isso tem sido criticado pela campanha do ex-presidente Lula.

O governo federal já editou 17 decretos, 19 portarias, duas resoluções, três instruções normativas e dois projetos de lei que flexibilizam as regras para ter acesso a armas e munições.

Na sua gestão, além de estimular o cidadão comum a se armar, Bolsonaro deu acesso à população a calibres mais poderosos.

Também nesta terça, em entrevista transmitida pela rádio Itatiaia, Lula afirmou que não teme ser alvo de um atentado durante a campanha eleitoral. "Eu já faço campanha há tanto tempo, ou seja, eu te digo uma coisa, eu acho que eu tenho a proteção de Deus".

O ex-presidente voltou a atacar o atual mandatário, Jair Bolsonaro, e diz que disputa a Presidência com a "extrema direita violenta".

"A gente tem um genocida governando esse país. Um cara que não gosta de democracia, um cara que ataca as pessoas, um cara que manda matar. Um cara que não derramou uma lágrima por mais de 680 mil vítimas do Covid, o cara que não chorou por uma pessoa idosa, por uma mulher, por uma criança", afirmou.

À frente nas pesquisas de intenção de voto, o ex-presidente deve comparecer na quinta-feira (29) ao debate com candidatos à Presidência na TV Globo, três dias antes do primeiro turno, em 2 de outubro.

Questionado sobre a sua expectativa para o evento, Lula afirmou que "não tem debate que vire o jogo".

Pesquisa mais recente divulgada pelo Datafolha, na quinta (22), mostrou que o petista atingiu 47% das intenções de voto e tem uma dianteira de 14 pontos sobre Bolsonaro, que se manteve em 33%.

Se eleito, Lula voltou a prometer a revogação de todos os atos de sigilo decretados por Bolsonaro. "Para que eu possa saber o que que tem embaixo do tapete. Porque até agora que o [Fabrício] Queiroz não prestou depoimento; [...] até agora ele não explicou como é que ele pode ter comprado 51 imóveis pagando 26 milhões à vista".

O ex-presidente disse ainda que é contra o voto útil, mas a favor do "voto necessário" e voltou a criticar Ciro Gomes (PDT) ao dizer que o adversário "se perdeu na campanha eleitoral".

Colaborou Renan Marra, de São Paulo

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