Censo é importante, mas falta de dados atuais não compromete confiabilidade de pesquisas eleitorais

Uso de diferentes metodologias por institutos explica divergências entre resultados

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São Paulo

Na mais recente pesquisa Datafolha, publicada em 15 de setembro, Lula (PT) tem 45% no primeiro turno, contra 33% de Jair Bolsonaro (PL). Três dias antes, levantamento do Ipec mostrou números parecidos: 46% para o petista e 31% para o presidente. Já a Genial/Quaest do dia 14 deu 42% a 34%.

Teorias da conspiração que circulam nas redes creditam à falta de Censo Demográfico atualizado a divergência entre esses resultados para, assim, descredibilizar as pesquisas, mas isso não é verdade.

"Preferimos não comentar resultados de outras empresas, mas lembramos que diferenças de resultados podem ser atribuídas a divergências em datas de campo, formulação de perguntas, ordem de perguntas no questionário, método de abordagem, perfil da amostra, entre outros pontos", afirma Luciana Chong, diretora do Datafolha.

São duas fotos. À esquerda, foto de Lula, de camiseta azul marinho e paletó ou casaco aberto preto; à direita, foto de Bolsonaro de camisa social branca, gravata e paletó preto. Os dois estão de frente
Lula e Bolsonaro, candidatos que aparecem como principais nomes nas pesquisas eleitorais - Antonio Molina/Folhapress - Pedro Ladeira/Folhapress

"O Censo é importante, claro, mas os institutos de pesquisa têm à disposição dados como os da Pnad Contínua", afirma a cientista política Tathiana Chicarino, professora da Fesp-SP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo). A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua é feita trimestralmente e, assim como o Censo, é realizada pelo IBGE.

A principal causa da diferença entre os resultados, segundo o jornalista Thomas Traumann, é a questão da renda, já que, sem dados do Censo atuais, cada instituto faz uma medição diferente.

"A renda é muito importante nesta eleição porque há uma correlação direta dela com o voto em Lula ou em Bolsonaro", diz. Ele fez um post no Twitter mostrando a porcentagem da população de determinada renda que cada instituto considera. No Ipec que ele cita, 55% dos entrevistados ganhavam até dois salários mínimos, enquanto no Quaest essa amostra era de 38%.

Isso ocorre porque os institutos usam diferentes técnicas nas pesquisas, Traumann explica. O Quaest prevê antes quantos entrevistados com determinada renda devem responder a pesquisa para representar a amostra da população brasileira. Já para o Ipec, a renda não é um filtro —seus pesquisadores fazem as entrevistas independentemente do quanto a pessoa ganha.

Os números variam, mas, "em geral, todas as pesquisas concordam que os mais pobres votam no Lula e os mais ricos em Bolsonaro", como pontua Traumann. "As diferenças ocorrem não porque os institutos têm um viés a favor ou contra tal candidato, mas porque estão perguntando para grupos de pessoas diferentes."

"Ao longo dos anos, algumas pesquisas acertaram, outras erraram. Mas sabemos que não há uma relação de proximidade com o Censo e melhora no resultado dos levantamentos", afirma o cientista político Felipe Nunes, diretor do Quaest.

Paulo Silvino Ribeiro, sociólogo e professor da Fesp-SP, completa: "O discurso de que a falta de Censo atualizado dá uma ideia errada nas pesquisas é falácia. Tanto é que há uma certa proporcionalidade entre os candidatos; você não tem uma pesquisa que mostre Simone Tebet em primeiro ou Lula em último".

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