Mulher que viralizou no cercadinho de Bolsonaro vira candidata no DF

Protagonista de vídeo teve cena compartilhada por presidente em suas redes

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

Protagonista de um vídeo usado por Jair Bolsonaro (PL) para atacar as medidas sanitárias adotadas por governadores no início da pandemia da Covid-19, Fátima Dantas Montenegro, 55, se lançou candidata a deputada distrital nestas eleições. Ela concorre pelo PSC do Distrito Federal.

Em 2 de abril de 2020, Fátima falou por cerca de três minutos no "cercadinho" do Palácio da Alvorada, em tom exaltado, pedindo a Bolsonaro que colocasse as tropas na rua contra o fechamento do comércio.

Após surgir nas redes sociais a acusação de que ela era antiga apoiadora do presidente, e não uma professora em apuro financeiro, críticos e políticos de oposição a Bolsonaro passaram a dizer que o vídeo era uma farsa e a sugerir que ela foi cooptada para fazer os apelos publicamente.

Tela de divulgação de candidatura
Fátima Dantas Montenegro, personagem de vídeo viral no cercadinho de Bolsonaro, e que hoje é candidata a deputada distrital - Reprodução/Divulgacand

Conforme mostrou a Folha, o publicitário Beto Viana diz ter sido pago pelo canal bolsonarista Foco do Brasil para se fingir de apoiador no cercadinho e fazer uma pergunta ensaiada a Bolsonaro, também em abril de 2020.

Na ocasião, Beto perguntou a Bolsonaro o que havia achado da entrevista de seu então ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta ao programa Fantástico, ocorrida na véspera. Bolsonaro respondeu que não assistia à Globo e a cena foi imediatamente publicada em suas redes sociais.

Assim como no caso do publicitário, o vídeo com o suposto desabafo de Fátima contém críticas à imprensa profissional e foi difundido no canal de Bolsonaro no YouTube com a seguinte inscrição: "Professora em comovente depoimento para o presidente da República. Peço compartilhar".

Os vídeos de Fátima e de Beto estão separados por apenas 11 dias. Eles foram compartilhados por Bolsonaro com o mesmo objetivo: se contrapor às medidas defendidas pelas autoridades sanitárias, e que vinham sendo veiculadas com grande destaque na imprensa profissional, com o argumento de que elas teriam consequências drásticas na economia.

A Folha procurou Fátima em seu endereço residencial nesta segunda-feira (19), mas ela não quis dar entrevista.

-
Fátima Montenegro, que em 2020 se apresentou como professora particular e apelou a Bolsonaro para colocar militares na rua contra as medidas restritivas adotadas por governadores - Reprodução

Em entrevista à Folha em abril de 2020, logo após o compartilhamento do vídeo por Bolsonaro, Fátima disse que não mentiu ao se descrever como uma professora particular desamparada na crise do coronavírus.

Ela afirmou ser dona de um pequeno curso de caligrafia há 30 anos em Brasília, que teve de encerrar as atividades após as determinações de isolamento no Distrito Federal.

Em seu pedido de registro de candidatura, que já foi deferido pela Justiça, Fátima declara ter como patrimônio um automóvel no valor de R$ 15 mil e informa que sua ocupação é professora de ensino superior.

Em sua foto para a urna, ela aparece com camiseta e boné nas cores da bandeira nacional.

Até agora, ela informa não ter arrecadado nem gasto nada em sua campanha.

No vídeo de 2020, Fátima fez várias críticas à imprensa profissional, dizendo que ela não quer o bem do povo e mente. "Por que querem derrubar o senhor? Porque sabem que o senhor quer o bem da gente", disse Fátima na ocasião.

"Não tem condições de a gente viver nesta situação, vai faltar coisa para os meus filhos. Estou aqui pedindo para o senhor: põe os militares nas ruas", acrescentou, dramaticamente, ao presidente.

Bolsonaro passou quase todo o tempo assistindo o desabafo calado, a alguns metros de distância. Ao fim, declarou: "Pode ter certeza de que a senhora fala por milhões de pessoas".

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.