Não houve redução de seções eleitorais em 2022

Autora de post enganoso usou metáfora com mortos pela Covid

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São Paulo

É enganoso que haja 2.450 seções eleitorais a menos nas eleições deste ano em decorrência das mortes por Covid-19 no país, alegação feita em postagens no Instagram e no Twitter publicadas pela mesma pessoa em 26 de setembro. Na verdade, desde o último pleito nacional, em 2018, antes da pandemia, o Brasil ganhou 14.993 seções, crescimento de 3%, chegando a 496.856. Se comparado com as últimas eleições municipais, de 2020, o número também aumentou, em 2,7%, ou 13.191 seções a mais.

Em um tuíte complementando as publicações originais, a autora afirmou que não estava apresentando nenhuma estatística oficial. Tratava-se apenas, segundo ela, de uma maneira de "dimensionar o tamanho da nossa dor e do nosso luto" ao dividir o número de mortos pela Covid-19 até então, corretamente arredondado para 686 mil, por 280, que seria o número médio de eleitores em uma seção eleitoral.

Como verificado pelo Projeto Comprova, segundo o artigo 117 do Código Eleitoral, uma seção eleitoral não pode ter mais de 400 eleitores nas capitais ou 300 nas demais localidades. Para as eleições deste ano, com um eleitorado recorde de 156.454.011, o número médio de eleitores por seção eleitoral é 314.

Duas mulheres de máscara, uma em cada lateral da foto, aparecem desfocadas. O foco está no segundo plano, onde se vê uma cabine eleitoral branca com o símbolo da Justiça Eleitoral e onde está escrito "Justiça Eleitoral" em preto, em letras garrafais. Mais ao fundo, cartazes coloridos, predominantemente laranjas
Colégio eleitoral em São Paulo na eleição de 2020 - Zanone Fraissat - 29.nov.2020/Folhapress

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação

Até 28 de setembro, a postagem tinha 48,5 mil curtidas no Twitter e 154.920 curtidas no Instagram. A publicação também foi mencionada em matéria da Rede Brasil Atual no dia 26.

O que diz a autora

Procurada, a magistrada e escritora Andréa Pachá explicou: "O sentido não é literal. Dividi 686 mil mortos por 280, que é o número médio de eleitores por seção. Uma forma de dimensionar a dor e as perdas". Em outro momento, acrescentou: "Às vezes, tenho dificuldade de lidar com a literalidade das redes. Espero ter conseguido sensibilizar pelo número inadmissível de perdas que tivemos". A explicação aparece em uma outra postagem feita por ela.

Como verificamos

O Comprova verificou dados oficiais sobre as eleições de 2018 e de 2022 no site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e sobre as mortes por Covid-19 no painel do governo federal. Também foram consultadas a assessoria de imprensa do TSE e reportagens relacionadas ao recorde de registro de novos eleitores no pleito deste ano.

Aumento

É enganoso que houve redução de seções eleitorais no Brasil nas eleições deste ano em relação ao pleito de 2018. Na verdade, o que se deu foi o oposto. Segundo dados do portal do TSE, o Brasil conta com 496.856 seções eleitorais atualmente. Já em 2018, foram 481.863. Portanto, houve uma alta de 3%.

O maior número de seções eleitorais reflete o aumento no número de brasileiros aptos a votar nestas eleições, cujo primeiro turno ocorre no próximo domingo (02/10). Atualmente, o Brasil tem 156.454.011 eleitores aptos a votar. Em 2018, eram 147.306.275.

Nas eleições de 2020, o número de seções eleitorais 483.665— também foi maior se comparado ao pleito de 2018.

Em maio deste ano, ao encerrar o cadastro eleitoral para as eleições de 2022, o TSE divulgou o registro de 2.042.817 novos títulos de eleitores entre jovens de 16 e 18 anos: marca histórica no país, segundo o tribunal. Já as mortes registradas por covid-19 no Brasil atingiram, até o dia 26 de setembro, 685.835 pessoas, conforme o painel do governo federal.

Segundo o artigo 117 do Código Eleitoral, uma seção eleitoral não pode ter mais de 400 eleitores nas capitais ou 300 nas demais localidades.

Procurado, o TSE respondeu que "não faz análise qualitativa acerca desses dados".

Interpretação

Embora a autora da postagem tenha explicado que a relação traçada entre mortes por Covid-19 e a quantidade de seções eleitorais tenha sido meramente ilustrativa, alguns comentários demonstram que houve gente acreditando tratar-se de um dado real. "Não sabia desses números", escreveu um usuário.

Por que investigamos?

O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam na internet e estão relacionados às eleições presidenciais deste ano, à pandemia ou às políticas públicas do governo federal. A postagem verificada, por citar um suposto dado relacionado às seções eleitorais do país, mesmo que hipotético, como explicou a autora da postagem, pode ocasionar dúvidas ou interpretações equivocadas em relação ao processo eleitoral em curso, ainda que não tenha sido essa a intenção da autora.

Em relação às eleições, o Comprova mostrou, recentemente, ser falso que 70% do processo eleitoral seja terceirizado e que a terceirização comprometa a integridade das eleições e que é montagem post com suposta reportagem do G1 sobre Lula e Venezuela.

A investigação desse conteúdo foi feita por Crusoé, O Dia, CNN Brasil e imirante.com e publicada em 29 de setembro pelo Projeto Comprova, coalizão que reúne 43 veículos na checagem de conteúdos virais. Foi verificada por Folha, Correio, Nexo, SBT, SBT News, O Popular, Estadão, piauí e Grupo Sinos.

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