Campanha de Lula banca propaganda contra Moro e faz movimento por voto útil no PR

Petistas tentam barrar ex-juiz e aliados de Jair Bolsonaro no Senado

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Brasília e São Paulo

Além de pregar o voto útil ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para encerrar a eleição presidencial neste domingo (2), petistas fazem movimentos para tentar impedir a vitória ao Senado de aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-juiz Sergio Moro (União Brasil).

No caso do ex-ministro da Justiça, a campanha de Lula chegou a produzir e divulgar uma peça de propaganda de 30 segundos elencado o que chama de traições dele na vida pública.

"Moro traiu a Lava Jato para ser ministro. Depois, traiu Bolsonaro para ser candidato a presidente", diz a peça de propaganda, divulgada no YouTube. A campanha de Lula gastou cerca de R$ 50 mil para que o vídeo fosse exibido em anúncios na plataforma de vídeo do Google para usuários no Paraná, onde o ex-juiz disputa a eleição.

Sergio Moro, então ministro da Justiça e Damares Alves, ex-ministra da Família e dos Direitos Humanos durante a Abertura da Jornada de Trabalho de Promoção da Segurança e Defesa da Mulher.
Sergio Moro, então ministro da Justiça e Damares Alves, ex-ministra da Família e dos Direitos Humanos durante a Abertura da Jornada de Trabalho de Promoção da Segurança e Defesa da Mulher. - Isaac Amorim/MJSP

A propaganda é mais uma ação da ofensiva petista para tentar enfraquecer a campanha de Moro. No Paraná, o senador Alvaro Dias (Podemos) tinha 36% das intenções de voto e liderava a última pesquisa feita pelo Ipec. Moro aparecia com 25% e o bolsonarista Paulo Martins (PL), com 8%.

Nas redes sociais, apoiadores de Lula começaram a defender voto em Alvaro Dias para impedir a eleição de Moro. O ex-juiz reagiu à ofensiva.

"É digno de nota esse movimento do PT em favor da candidatura de Alvaro Dias e a falta de refutação do senador deste apoio", afirmou.

Dias nega qualquer campanha de voto útil em torno do seu nome. "Desconheço essa movimentação. Vi até hoje Lula na TV pedindo voto para candidata Rosane [Ferreira, PV]. E o PDT e PSOL também com seus candidatos", diz. Ele vê tentativa de adversários de quererem prejudicar sua candidatura ao associá-lo à esquerda.

No Distrito Federal, a estratégia leva eleitores mais identificados com a esquerda a defender voto em uma ex-ministra de Bolsonaro.

Existe uma campanha de voto útil no DF em favor da ex-ministra Flávia Arruda (Secretaria de Governo) contra a também ex-colega de Esplanada Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos).

A mais recente pesquisa Ipec mostrou empate entre ambas na disputa ao Senado –as duas têm 28% das intenções de voto.

Flávia (PL), que é casada com o ex-governador José Roberto Arruda, tinha a dianteira nos levantamentos anteriores, mas Damares (Republicanos) encurtou a distância até igualar o percentual da deputada.

As duas disputaram o apoio oficial de Bolsonaro. Flávia está na chapa do governador e candidato à reeleição Ibaneis Rocha (MDB).

Damares se lançou de forma avulsa, mas recebeu o apoio da primeira-dama Michelle Bolsonaro. Evangélica, a ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos tem avançado sobre o eleitorado mais conservador.

Diante da subida de Damares na última pesquisa, eleitores progressistas passaram a defender o voto em Flávia Arruda como forma de impedir a vitória da pastora, que promoveu uma agenda ultraconservadora no ministério. A movimentação pró-Flávia gerou incômodo no campo da esquerda.

A candidata do PT ao Senado, Rosilene Corrêa, diz que Damares e Flávia representam o bolsonarismo. "Uma expressa mais o seu estilo fundamentalista, e as pessoas têm uma tendência a se preocupar mais com isso. Mas as duas defendem exatamente o mesmo projeto. Por isso não é alternativa votar em uma delas", diz a petista, que tem 12% das intenções de voto.

Rosilene afirma não haver semelhança entre esse movimento e a campanha pelo voto útil feita pelo PT para tentar atrair eleitores do pedetista Ciro Gomes. Segundo ela, enquanto Damares e Flávia representam o bolsonarismo, Lula e o atual presidente são opções opostas.

A Folha procurou as ex-ministras para pedir uma avaliação sobre essa movimentação, mas elas não se manifestaram.

No Espírito Santo, a possível beneficiária do voto útil é Rose de Freitas (MDB). O objetivo do fenômeno no estado é tentar barrar o retorno de Magno Malta (PL) ao Senado.

Rose não teve uma atuação ligada à esquerda em seus anos no Senado, mas conseguiu o apoio formal do PT a sua candidatura à reeleição.

Pesquisa Ipec divulgada na quinta-feira (22) mostrou que Rose e Malta estão tecnicamente empatados. Ela aparece com 31% das intenções de voto, contra 27% do aliado de Bolsonaro. A pesquisa, feita a pedido da TV Gazeta, tem margem de erro de três pontos percentuais.

Diego Almeida, responsável pela divisão de manutenção de equipamentos de saúde da Prefeitura da Serra, declarou que votaria em qualquer pessoa que pudesse barrar Malta.

"O voto na Rose de Freitas é, na verdade, um voto contrário ao Magno Malta. É voto estratégico. Não tenho nenhuma simpatia com a candidata e, se tivesse um terceiro nome, não a escolheria", diz Almeida, que define ter mais afinidade com pautas da esquerda.

Rose de Freitas foi procurada pela Folha, mas não se manifestou.

Em Minas Gerais, há também uma defesa da candidatura de Alexandre Silveira (PSD) ao Senado para derrotar o bolsonarista Cleitinho (PSC). A última pesquisa Ipec mostrou empate técnico entre ambos: Cleitinho tem 23% das intenções de voto, ante 21% do atual senador.

Silveira tem registrado trajetória de alta nas últimas pesquisas de intenção de voto. O PT apoia o senador e a tentou convencer Sara Azevedo (PSOL) a retirar seu nome da disputa ao Senado.

"Nós entendemos que essa é uma eleição muito ímpar na história do Brasil. É uma eleição histórica. Temos um desafio histórico da reconstrução do Brasil, e estamos preocupados com a reconstrução do Brasil", afirma o deputado federal Reginaldo Lopes (PT), líder do partido na Câmara dos Deputados.

Ele avalia que ainda é possível obter mais apoio a Silveira, principalmente conforme o candidato ficar mais conhecido entre os eleitores. Na última terça-feira (27), em carreata em Minas Gerais, o senador defendeu seu nome como uma forma de aumentar a governabilidade de Lula no Congresso.

"Ou teremos um senador para ajudar Lula a conduzir o Brasil ou teremos um para atrapalhar. Eu estou no time do Lula, sou o seu candidato aqui em Minas e o único que pode impedir a eleição de um senador bolsonarista que, se eleito, vai atrapalhar o presidente Lula no Senado", argumenta.

Em meio à ofensiva, Sara Azevedo, que tem 3% das intenções de voto, diz que não vai retirar seu nome porque ainda há 30% de eleitores indecisos.

A candidata disse que o pedido vem carregado de machismo, já que a pressão não é realizada em cima de outras candidaturas da centro-esquerda e da esquerda que são representadas por homens.

"É desrespeitoso políticos que querem tirar a minha candidatura. Uma coisa é o voto útil no Lula para encerrar no primeiro turno. Apesar de Silveira ser apoiado pelo PT, ele não é Lula", diz a candidata.

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