Descrição de chapéu Eleições 2022

Bolsonaro acumula desculpas para tentar se afastar do ataque de Roberto Jefferson a policiais

Episódio se tornou ponto de desgaste contra a campanha do presidente

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo e Brasília

Jair Bolsonaro (PL) e seu entorno tentaram ao longo de domingo (23) e segunda-feira (24) afastar Roberto Jefferson (PTB) da imagem do presidente e fazer do episódio um gesto de apoio a policiais.

O aliado bolsonarista e político de extrema direita foi preso pela Polícia Federal depois de tentar resistir à ordem judicial, disparar, segundo ele, mais de 50 tiros de fuzil e lançar três granadas contra os agentes. Dois deles ficaram feridos, sem gravidade.

Jefferson, que já estava em prisão domiciliar, foi alvo da ação por determinação de Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Segundo o ministro, ele descumpriu medidas impostas pelo Supremo dentro de uma ação penal em que é réu por incitação ao crime e ataque a instituições.

Roberto Jefferson ao chegar ao presídio de Benfica, no Rio, onde aguardaria audiência de custódia - Reprodução/TV Globo

O episódio completo envolvendo Jefferson tornou-se um ponto de desgaste contra a campanha de Bolsonaro, sendo explorado por seus rivais. Opositores têm associado o caso a uma onda de violência política que, dizem, é estimulada pelo presidente.

Desde domingo, a prioridade de Bolsonaro e de aliados tem sido a de tentar se distanciar do ex-deputado —defensor de primeira hora do bolsonarismo.

Em sabatina ao portal Metrópoles nesta segunda, Bolsonaro comparou Jefferson a um amigo que faz "besteira" e voltou a dizer que quem troca tiros com policiais é bandido. "Tenho vários amigos pelo Brasil, se algum fez besteira o que tenho a ver com isso?", disse.

"No meu entender [Jefferson] tinha tudo para continuar sua batalha por liberdade, mas quando atira em direção à polícia, lança granada, de efeito moral que seja, perdeu completamente a razão e agora vai responder por tentativa de homicídio", declarou Bolsonaro, em outro trecho da entrevista.

O presidente também criticou as ofensas feitas por Jefferson contra a ministra Cármen Lúcia, do STF.
Na sexta (21), o político de extrema direita comparou a ministra a "prostitutas", "arrombadas" e "vagabundas" em um vídeo publicado por sua filha Cristiane Brasil (PTB).

Bolsonaro já havia chamado o ex-deputado de bandido, no domingo. O ministro Anderson Torres (Justiça), por sua vez, classificou Jefferson como "infrator".

Ainda no domingo, para tentar negar vínculo com o dirigente do PTB, o presidente da República chegou a mentir e dizer que nem foto com ele teria, o que não é verdade.

Nesta segunda, ele apresentou nova versão. "Algum repórter perguntou se [Jefferson] era colaborador da campanha. Não tenho foto dele enquanto colaborador —um absurdo. Tem foto minha de montão com ele por aí", afirmou.

Há diversas fotos de Bolsonaro com Jefferson, a exemplo das publicadas pelo PTB em abril e setembro de 2020. Nas redes sociais do ex-deputado, também há publicações com os dois, como uma foto publicada em abril de 2021.

O político de extrema direita também foi recebido algumas vezes no Palácio do Planalto. De acordo com a agenda oficial, Bolsonaro teve reuniões com Jefferson ao menos duas vezes.

A retórica de comparar o comportamento do ex-deputado ao de um bandido havia sido utilizada por Bolsonaro ao chegar na entrevista da rede Record, no domingo em São Paulo.

"E depois quando chega ordem de prisão pra ele, não importa se é legal ou não, ele recebe policiais com tiro. Quem recebe policial com tiro é bandido", disse.

Na ocasião, o chefe do Executivo também tentou vincular o aliado, que agora faz questão de tratar como ex, ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Ele acusou Lula de querer "tirar proveito" do episódio.
Bolsonaro tentou ligar Jefferson ao PT, retrocedendo ao escândalo do mensalão, que estourou em 2005, após entrevista em que Jefferson delatou o caso à Folha.

Aliados seguiram o tom nas redes sociais e compartilharam fotos, ao longo do domingo, de Jefferson ao lado de Lula, no começo do governo do petista. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, foi um deles.

Em outra frente, auxiliares do chefe do Executivo buscaram transformar o episódio envolvendo a prisão de Jefferson em uma demonstração de apoio de Bolsonaro aos policiais federais.

Alas da categoria chegaram a apoiá-lo mais fortemente no passado, mas com o tempo foram se distanciando. Bolsonaro trocou quatro vezes o diretor-geral da PF.

Assim, o gesto é, em grande parte, eleitoral. Bolsonaro busca se reeleger para a Presidência no próximo domingo (30), numa acirrada disputa contra Lula.

Num gesto incomum, o presidente chegou a ordenar que o ministro da Justiça, Anderson Torres, fosse ao local onde Jefferson disparou contra a PF, em Levy Gasparian (RJ), para acompanhar o caso e, depois, fosse visitar os agentes feridos. Ele ficou, contudo, em uma delegacia de Juiz de Fora (MG).

Interlocutores do chefe do Executivo disseram que sua ida era para defender a PF, uma vez que policiais foram atingidos. Torres comentou no Twitter, mais tarde, sobre o que chamou de sua solidariedade com os agentes feridos.

Bolsonaro repetiu, durante entrevista à Record, que pediu ao ministro para que o político fosse tratado como bandido.

"Ato contínuo determinei que ele [Torres] fosse para o Rio de Janeiro conversar com os dois policiais e ver a situação de saúde dos policiais que sofreram ferimentos por parte de Roberto Jefferson".

Ainda na chegada à TV Record, Bolsonaro se queixou de situações em que, segundo ele, o tratamento é diferente para episódios envolvendo seus aliados.

Bolsonaro citou como exemplo um episódio envolvendo a primeira-dama Michelle. "Também há poucos dias, a minha esposa, de Alagoas, foi atacada nas mídias sociais pela procuradora-geral Samya Suruagy como vagabunda. Então, essa questão de ódio não parte de nós. Muito pelo contrário", disse.

Embora Bolsonaro agora negue relação com o ex-deputado de extrema-direita, seu principal aliado nos debates do primeiro turno na disputa presidencial era o candidato do PTB, Padre Kelmon.

Neste domingo, Kelmon foi à casa de Jefferson e entregou à Polícia Federal fuzis do ex-deputado.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.