Bolsonaro insiste em acusação sem provas sobre rádios, critica Moraes e diz que vai recorrer até o fim

Presidente convocou ministros e comandantes de Forças Armadas para reunião antes de pronunciamento

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Brasília

O presidente Jair Bolsonaro (PL) insistiu, nesta quarta-feira (26), em acusações sem provas sobre a supressão de inserções eleitorais em rádios do Nordeste, criticou o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes, e prometeu recorrer até o fim de sua mais recente decisão no caso.

A quatro dias do segundo turno, o chefe do Executivo disse ainda que seu partido deve contratar uma terceira empresa de consultoria para analisar os casos e que ele foi eleitoralmente prejudicado. Bolsonaro está em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, atrás de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"Certos lugares que achava que iria bem e poderia, até ganhar, nossa análise, pode ter havido outros fatores, vimos que perdemos. Com toda a certeza, as inserções de rádio fizeram a diferença ou poderiam ter feito a diferença. Não existe outro fator que a gente possa levar em conta nesse momento", disse o chefe do Executivo.

Bolsonaro, ao lado dos ministros Anderson Torres (Justiça) e Augusto Heleno (GSI) durante entrevista coletiva no Alvorada - Pedro Ladeira/Folhapress

Bolsonaro então acrescentou que vai recorrer até as "últimas consequências", embora tenha ressaltado que será "dentro das quatro linhas da Constituição".

"Com toda a certeza, nosso jurídico deve entrar com recurso já que foi para o Supremo Tribunal Federal. Ou seja, da nossa parte, nós iremos às últimas consequências, dentro das quatro linhas da Constituição, para fazer valer aquilo que as nossas auditorias constataram que há realmente um enorme desequilíbrio no tocante às inserções. Isso obviamente interfere na quantidade de votos no final da linha", afirmou.

O presidente ainda teceu críticas a Alexandre de Moraes, dizendo que ele "matou no peito" ao tomar a decisão contrária a sua campanha.

"Agora há pouco, tivemos notícia, corpo jurídico está analisando, senhor Alexandre de Moraes na linguagem popular matou no peito o processo e encaminhou para o Supremo parte ou todo para o inquérito das fake news", disse.

Na verdade, o magistrado enviou o caso para o inquérito que apura a existência de milícias digitais nas redes sociais.

A fala de Bolsonaro aconteceu durante entrevista a jornalistas no Palácio da Alvorada, que foi convocada de última hora por seus assessores. O presidente saiu sem responder perguntas, apesar de ter sido questionado sobre o fato de que rádios contestaram o relatório, se avaliava pedir o adiamento das eleições ou alguma outra medida.

O pronunciamento aconteceu poucas horas após o presidente do TSE rejeitar a ação apresentada pela campanha do presidente sobre suposto boicote de rádios na veiculação da propaganda eleitoral.

Moraes disse que a ação de Bolsonaro não tem provas e se baseia em levantamento de empresa "não especializada em auditoria".

O ministro apontou possível "cometimento de crime eleitoral com a finalidade de tumultuar o segundo turno do pleito em sua última semana" e mandou o caso para ser avaliado dentro do inquérito das fake news, que é relatado por ele mesmo no STF (Supremo Tribunal Federal).

Bolsonaro mudou radicalmente a sua programação na noite desta quarta-feira. O mandatário teve agenda em Minas Gerais ao longo do dia e deveria seguir diretamente para o Rio de Janeiro, onde dormiroa. De última hora, já no avião presidencial, resolveu voltar para a Brasília devido à "gravidade dos fatos".

Bolsonaro afirmou que, por ele, o partido contrata uma terceira empresa para fazer a auditoria nas rádios para verificar se houve a transmissão de mais inserções de Lula do que dele.

O mandatário disse que pode ter algum envolvimento do PT no caso. "Está comprovado a diferenciação de tratamento dispensado a outro candidato, que poderia —não posso afirmar— até ter participação dele em algum momento", disse o presidente.

O presidente citou que Moraes deu 24 horas para apresentação de provas da disparidade na veiculação das inserções e que uma equipe virou a noite para levantar os elementos, incluindo ele mesmo, que não aguentou e deu umas "cochiladas"

Ao chegar a Brasília, Bolsonaro convocou ministros e os três comandantes de Forças Armadas para uma reunião no Palácio da Alvorada, antes de anunciar o pronunciamento.

Estavam presentes, por exemplo, Augusto Heleno, do GSI; o ministro da Justiça, Anderson Torres; o chanceler Carlos França; e o ministro da Secretaria de Governo, Célio Faria. Os comandantes das três forças também compareceram, Carlos de Almeida Baptista Junior (Aeronáutica), Freire Gomes (Exército) e Almir Garnier Santos (Marinha).

Bolsonaro também recebeu na noite desta quarta-feira (26) o chefe da missão de observação da OEA (Organização dos Estados Americanos), Rubén Ramírez Lezcano. A entidade é observadora das eleições brasileiras oficialmente junto ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Lezcano afirmou a jornalistas que ele também irá se reunir com o petista Luiz Inácio Lula da Silva e com os presidentes do TSE, Alexandre de Moraes, e do TCU (Tribunal de Contas da União, Bruno Dantas.

O diplomata foi questionado por jornalistas sobre as acusações de fraudes eleitorais apontadas pela campanha de Bolsonaro, mas não se manifestou sobre o assunto. Disse apenas que vai manter contato com as campanhas para obter mais informações.

"Vamos falar dessas coisas [suspeitas de fraudes apontadas pela campanha de Bolsonaro] com os partidos. Fomos recebidos como solicitamos pelo presidente da República. Mas vamos ouvir os depoimentos dos partidos políticos e trocar visões com as autoridades eleitorais do Brasil", afirmou.

Como a Folha mostrou, os dados do relatório encaminhado pela coligação ao TSE com alegações de supressão de inserções eleitorais do presidente são contestados por ao menos 6 das 8 rádios citadas pela campanha.

As rádios apontam divergências entre o número e os horários das inserções identificados pela empresa Audiency, contratada pela campanha de Bolsonaro, e o que foi realmente veiculado. Alegam que possuem as gravações dos dias citados no relatório e que estão à disposição das autoridades.

Na segunda-feira (24), o ministro Fábio Faria (Comunicações) e o coordenador de comunicação da campanha de Bolsonaro, Fabio Wajngarten, anunciaram a entrega de um relatório preliminar ao TSE que contém o levantamento feito por uma empresa sobre o número de inserções de Bolsonaro e Lula veiculadas em emissoras de rádio nos estados do Norte e Nordeste.

"Constatamos que na região Nordeste, tivemos 29.160 inserções a menos na nossa candidatura, o que corresponde a 241 horas de programação impedida de ser transmitida.", disse Wajngarten na ocasião.

Rádios que foram citadas no levantamento contestaram as alegações de veiculação. As emissoras apontam divergências entre o número e os horários das inserções identificados pela empresa Audiency, contratada pela campanha de Bolsonaro, e o que foi realmente veiculado. Alegam que possuem as gravações dos dias citados no relatório e que estão à disposição das autoridades.

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