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Campanha de Lula liga alertas para reta final, aciona jurídico e cobra plataformas

Aliados do petista temem efeito eleitoral de ataques e vão ao TSE pedir esforço no combate contra fake news

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Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo

O comitê eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda tenta desatar nós para a reta final do segundo turno, e a dificuldade de reagir aos ataques nas redes, especialmente à proliferação de fake news, é apontada como uma das principais deficiências da campanha.

Sob bombardeio nas redes e no WhatsApp, aliados do ex-presidente reconhecem tropeços em diferentes áreas da coordenação, do jurídico à comunicação, passando por escassez de material.

Uma ala da campanha avalia que há morosidade para obtenção de vitórias junto ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o que chegou a ser tema de reuniões na semana passada.

Integrantes da cúpula da campanha queixam-se de lentidão para garantir na Justiça a suspensão de fake news, como ameaça de fechamento de igrejas.

Afirmam que o filme ligando o presidente Jair Bolsonaro (PL) ao canibalismo, por exemplo, foi retirado do ar em 24 horas, enquanto uma propaganda ofensiva a Lula foi exibida por dez dias.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) durante debate na Band
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) durante debate na Band - Nelson Almeida - 17.out.22/AFP

Nesta segunda-feira (17), representantes dos partidos coligados a Lula foram ao TSE para pedir que as plataformas sejam acionadas para retirar com maior celeridade as peças suspensas por decisão judicial.

Em reunião com o ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE, integrantes da campanha de Lula pediram ao magistrado que atue junto às plataformas para garantir a retirada de notícias consideradas falsas mais rapidamente.

Segundo relatos de quem estava no encontro, Moraes afirmou que as empresas teriam desacelerado na resposta às determinações do tribunal, mas que solicitará a elas que deem mais atenção ao tema, sobretudo nos dois últimos dias antes da votação.

O presidente do TSE terá reunião com representantes de Meta, Twitter, Tik Tok, Kwai, Linkedin, Telegram, Google e Youtube.

Membros da campanha também deverão procurar representantes das plataformas nas próximas duas semanas. Há uma avaliação na equipe petista de que a atuação dessas redes no combate às fake news estaria aquém do esperado.

"Nós já pedimos ao TSE que haja ao menos o cumprimento daquilo que as plataformas já haviam acordado com o tribunal antes das eleições", afirmou Cristiano Zanin, que integra o núcleo jurídico da campanha petista.

A área digital da campanha percebeu um aumento das denúncias contra fake news em seus canais. Do dia 3 de outubro até a última sexta (16), foram 10,2 mil denúncias catalogadas pela equipe.

A campanha também estuda fazer uma espécie de maratona contra fake news nos três dias que antecedem a data da votação do segundo turno.

Uma ala vê falta de trânsito dos advogados da campanha no TSE. Para outra, há falhas no monitoramento de fake news nas redes.

Para maior controle de propagação de notícias falsas, a assessoria jurídica da campanha tinha sugerido a contratação de uma ferramenta para acompanhamento de sua divulgação nas redes. Isso permitiria a identificação de ataques. Mas a ideia foi rejeitada pela área de comunicação.

Em outra ponta, aliados de Lula chegaram a sugerir a contratação de advogados com maior experiência em direito eleitoral. A intenção era reforçar o time da campanha nessa área, mas a proposta teria sido descartada pela própria assessoria jurídica.

Coordenador jurídico da campanha, o deputado Paulo Teixeira (SP) elogia o trabalho da equipe. "Nosso jurídico está indo muito bem. O outro lado é uma fábrica de fake news", diz.

Na última sexta (14), a Folha mostrou que o TSE já havia atendido a campanha Bolsonaro seis vezes em ações sobre fake news, enquanto a coligação de Lula obteve decisões favoráveis em ao menos 37 casos do mesmo tipo no tribunal. Proporcionalmente, porém, o PT teve 55% das ações atendidas e a campanha do presidente, 85%.

Aliados do ex-presidente defendem também maior entrosamento dos responsáveis pelos perfis pessoais de Lula com os demais setores da campanha.

Há ainda quem aponte deslizes na produção do programa eleitoral, como a demora em responder na TV à ofensiva de Bolsonaro sobre o eleitor nordestino ou à tentativa de associação de Lula a criminosos.

Outro desafio é a escassez de recursos. Apoiadores de Lula têm cobrado envio de material para seus estados. Segundo petistas, foram aconselhados a usar, já no segundo turno, impressos confeccionados no primeiro, além da produção de seus próprios panfletos.

Integrantes da coordenação reivindicam uma maior participação do tesoureiro, Márcio Macedo, para estruturação da campanha. A queixa é que Macedo, presença constante nas viagens do candidato, nem sempre está acessível para tomada de decisões, como a autorização de gastos.

O disparo de fake news e a guerra na área de costumes é hoje uma das principais preocupações da campanha.

A avaliação de aliados de Lula é que, mais uma vez, a campanha subestimou o poder das notícias falsas.

Por isso, uma ala defende a atuação do deputado André Janones (Avante-MG), que é partidário da tese de responder à campanha de Bolsonaro "com as mesmas armas".

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, levou a Moraes a Aije (Ação de Investigação Judicial Eleitoral) contra o adversário na qual o PT acusa integrantes da equipe de Bolsonaro de criar um ecossistema de divulgação de fake news.

"O problema é que a sensação que nós temos é que estamos enxugando gelo, que não dá para retirar apenas a propaganda. Nós temos um esquema no país de produção, coordenação e operacionalização de fake news", disse Gleisi, ao final da reunião.

"Nosso jurídico fez um estudo levantando como se propaga essas fake news no país, e verificamos mais de 40 perfis que a gente poderia chamar de ninho de propagação das fake news, pessoas que trabalham de forma coordenada na propagação de fake news", continuou.

Gleisi também reclamou da decisão de Moraes que determinou à campanha que apague vídeos em que a fala de Bolsonaro de que "pintou um clima" entre ele e adolescentes venezuelanas é associada à pedofilia.

Citando uma publicação feita pela própria Gleisi, Moraes diz que o conteúdo veiculado pela petista sobre a fala de Bolsonaro "se descola da realidade, por meio de inverdades, fazendo uso de recortes e encadeamentos inexistentes de falas gravemente descontextualizadas do representante, com o intuito de induzir o eleitorado negativamente, diante da autoria de fato grave (pedofilia)".

A presidente do PT disse que recorreu da decisão e criticou o teor do documento. "Eu acho que ele está na tentativa de mediar, tentar igualar, mas não são coisas iguais", disse Gleisi.

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