Zambelli armada e fake news sobre MEI mobilizam grupos bolsonaristas a um dia da eleição

Episódio da parlamentar ofuscou propaganda bolsonarista de que Lula acabaria com microempreendedor individual

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São Paulo

"Esqueçam esse episódio da Zambelli! Parem de postar esses vídeos. Publiquem coisas contra o PT, o Lula e a favor do mito!", pediu um bolsonarista num dos grupos mais ativos pró-presidente no Telegram.

No fim da tarde deste sábado (29), a principal propaganda do dia em grupos de apoio a Bolsonaro, de que Lula acabaria com o MEI (microempreendedor individual), foi logo substituída por vídeos da deputada Carla Zambelli (PSL-SP) armada correndo atrás de um homem em um bairro nobre de São Paulo.

Em diversos grupos, comentários de pessoas acusadas de serem infiltrados afirmavam que Zambelli havia "enterrado a eleição do capitão" e que a mídia já teria comprado a versão de que ela agrediu um homem negro desarmado. Diante da crise, um dos grupos, com 59 mil membros, chegou a bloquear a publicação de comentários. "O grupo ficará fechado por uma hora para passar uma vassoura".

A deputada federal Carla Zambelli (PL) aponta arma no bairro dos Jardins, na zona oeste de São Paulo
A deputada federal Carla Zambelli (PL) aponta arma no bairro dos Jardins, na zona oeste de São Paulo - Reprodução

Zambelli ofuscou uma das últimas cartadas do bolsonarismo para ganhar votos. Uma declaração de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre MEI, dada no debate de sexta (28), foi combustível para uma intensa campanha para acusar falsamente o petista de acabar com essa categoria num eventual governo.

No debate, Lula disse que Bolsonaro considera MEI como emprego. A crítica era que o chefe do Executivo contabilizava as pessoas dessa categoria, que não são subordinadas, como empregadas formais. "O atual governo mudou a lógica de medição do emprego. Eles colocam MEI como se fosse emprego", disse.

Um vídeo usa esse trecho da fala do petista para dizer que "Lula quer acabar com o ganha-pão de milhões de brasileiros". "Ele quer acabar com os MEI." A peça circulou em vários grupos de mensagem, depois de o assunto ter movimentado buscas no Google e virado assunto nas redes sociais.

A pauta ajudou a colocar Bolsonaro, na véspera da eleição, à frente de Lula no Índice de Popularidade Digital (IPD), calculado pela Quaest e publicado pela Folha.

A peça compartilhada nos grupos diz ainda que "MEI não paga taxa para sindicato", que "pessoas pelo Brasil inteiro se revoltam com a fala do ex-presidiário" e pede voto a Bolsonaro para "não deixar isso voltar ao poder". No fim da tarde, um vídeo do próprio presidente, direcionado a microempreendedores, passou a circular. Há 14,6 milhões de MEIs no Brasil, de acordo com dados de outubro da Receita Federal.

O Observador Folha/Qauest identificou várias mensagens afirmando que Lula desvaloriza a categoria e que o tema precisava alcançar grupos formados por quem trabalha por meio de aplicativos de entrega de comida e de transporte. "Você é MEI? Conhece alguém que é um microempreendedor individual? Então preste muita atenção na fala do Lula. Ele quer que os MEIs paguem taxa para sindicato. Amanhã vote 22", dizia uma mensagem encaminhada mais de 70 vezes durante o dia.

"Ataque de Lula ao MEI causa revolta e pode decidir eleição", dizia outra, difundida 40 vezes no Telegram e mais de 200 vezes no WhatsApp. Influenciadores e políticos ajudaram a reforçar a narrativa. "O ex-presidiário disse que MEI não é trabalhador. Sujeito que pouco trabalhou na vida desmerecendo 14 milhões de empreendedores", escreveu o bolsonarista Leandro Ruschel em seu canal no Telegram.

Posicionaram-se sobre o tema a própria Zambelli, o comentarista Caio Coppolla e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que, ao compartilhar o vídeo, pediu que trabalhadores de aplicativo, caminhoneiros, manicures e outros profissionais assistissem à peça. Fabio Faria, ministro das Comunicações, escreveu que "a única coisa que iremos adiar amanhã é o sonho da esquerda de voltar ao poder!". "E o arrependimento será daquele que disse ontem no debate que MEI não é trabalhador."

A militância de Lula conseguiu contra-atacar e, no fim do dia, começou a ganhar tração vídeos e cards do petista dizendo que abriria linhas de crédito para micro e pequenos empreendedores. "Já que o emprego de hoje não é tão fácil como o de 1980, vamos explorar a criatividade do povo dando a ele oportunidade."

Outros assuntos virais em grupos de conversa, de acordo com a Quaest, foram a convocação para fiscais de Bolsonaro e para que eleitores votem carregando bandeiras do Brasil, além da promessa do atual presidente de aumentar o salário mínimo para R$ 1.400.

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