Descrição de chapéu Eleições 2022

Dia do mesário é marcado por dor de cabeça com biometria e filas longas

Processo de tentativa e erro para verificar digitais dos eleitores foi demorado em seção da Vila Mariana, em São Paulo

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São Paulo

"Eu acho que não fiz minha biometria." Essa foi uma das frases ouvidas à exaustão por mesários nas eleições deste domingo (2). Marcado por novas regras, como a proibição do uso do celular na urna e a própria implementação da biometria, o pleito foi comentado pela lentidão e pelas filas.

É difícil, a esta altura, cravar um único motivo. Na seção em que esta repórter atuou como mesária na capital paulista —a segunda vez na função, após participar nas eleições de 2020—, tanto a confusão da novidade tecnológica quanto uma aparente maior adesão à disputa eleitoral pareceram aumentar o tempo de espera.

Eleitores comentavam, ao finalmente entrar na sala, que nunca haviam demorado tanto para conseguir votar.

Máquina com espaço para leitura de uma digital exibe a mensagem 'por favor, aguarde' acima de um teclado numérico
Uso da biometria em teste de integridade das urnas eletrônicas - Alejandro Zambrana/Secom/TSE

Desde as 8h da manhã, quando os portões da escola Fiap, na avenida Lins de Vasconcelos (parte da zona eleitoral da Vila Mariana), se abriram para os eleitores, o fluxo de pessoas entrando e saindo da sala foi intenso.

A biometria foi, de longe, a maior fonte de confusão na seção. Eleitores ficavam surpresos quando solicitávamos as digitais e repetiam que não haviam feito o cadastro no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). O caderno de votação informava, no lugar dos que não tinham as fotos, que outros órgãos haviam fornecido a informação, caso dos departamentos de trânsito.

Na quarta eleitora do dia, por volta das 8h30, aconteceu a primeira falha na coleta. Ela era massagista e, pela profissão, disse, já esperava que a biometria não funcionasse.

Nesse caso, a urna obriga o eleitor a tentar quatro vezes, com o polegar ou o indicador. Em caso de negativa, pede a confirmação do ano de nascimento. Com a informação certa, é possível, então, ir à urna.

A diferença entre quem consegue usar a biometria e quem não consegue é que o segundo grupo precisa, obrigatoriamente, assinar o caderno de votação. Os que têm sucesso no uso da biometria podem passar sem assinar.

Pessoas dedicadas a trabalhos manuais e mais velhas foram as que mais vivenciaram dificuldades com a biometria. Por outro lado, alguns mais jovens, com títulos e documentos feitos durante a pandemia, nem sequer eram cadastrados e votavam usando apenas a assinatura no caderno.

Esse processo de tentativa e erro é demorado, e os eleitores se acumularam nas portas das salas. Mesários foram deslocados das seções originais para auxiliar em outras mais lotadas na mesma escola.

Na seção desta repórter, a urna funcionou normalmente. Várias vezes ao longo das nove horas de pleito, foi mostrado o sinal para que a cabine fosse verificada —a mensagem é exibida no terminal do mesário, que então é obrigado a ir até a urna checar o seu status.

Em todas, contudo, não havia interferência de santinhos, danos ao teclado ou qualquer problema digno de anotação na ata em que são registradas ocorrências.

O histórico de ataque às urnas eletrônicas pelo presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) criou a expectativa de que o clima fosse tenso. Na seção observada, porém, as teorias da conspiração de que as urnas estariam corrompidas ficaram restritas a comentários tímidos.

Uma eleitora, por exemplo, disse em tom irônico que o marido, em outra sala, precisou votar mais tarde porque a urna estava quebrada.

A polarização política, no entanto, não se provou um problema. Era até mesmo difícil constatar a preferência dos que ali passavam. Em sua maioria, os eleitores estavam com roupas neutras e evitavam comentários partidários explícitos.

Uma única eleitora apareceu com identificação explícita de apoio a Lula (PT): uma toalha pequena amarrada na bolsa. Adesivos de candidatas de esquerda ao Legislativo, como Sâmia Bomfim (PSOL) e Carina Vitral (PCdoB), complementavam o visual.

As camisas da seleção brasileira foram mais frequentes, mas, mesmo assim, não eram numerosas. A camisa "meu partido é o Brasil" foi mais vista na rua, durante o almoço, do que na seção em si.

Era mais fácil, portanto, perceber o voto de eleitores que, com descuido, deixavam suas colas à mostra ou, no caso dos que votaram acompanhados dos filhos, pelos sussurros com que instruíam os pequenos a apertarem cada número.

"Esse é o Bolsonaro?", disse uma criança, logo repreendida pelo pai.

"Agora aperta duas vezes esse... Parabéns, cara, você votou!", comemorou outro pai.

O clima tenso também deu lugar à emoção no caso dos votantes em trânsito —eleitores que avisaram previamente que gostariam de participar fora do domicílio eleitoral. Entre eles, a adesão foi quase total na seção. Alguns, inclusive, choraram ao usar a urna.

"Vim aqui para votar no homem, né?", disse um, orgulhoso e enigmático.

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