MST não tem relação com ataque a plantação de mamão no Espírito Santo

Segundo a Polícia Militar, suspeita é que destruição tenha ocorrido por razões pessoais contra o proprietário do terreno

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São Paulo

Não há envolvimento do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) em um ataque a uma plantação de mamão e café na cidade de Aracruz, no norte do Espírito Santo, ao contrário do que afirmam publicações no YouTube. No vídeo, o responsável pelo post não cita nominalmente o movimento social, mas afirma que o ataque "é reflexo da vitória" da esquerda e do ex-presidente Lula (PT) no primeiro turno das eleições presidenciais.

O autor ainda alega que, caso o petista seja eleito, novos episódios de violência contra o agronegócio irão acontecer. A citação ao MST aparece no título dos vídeos publicados.

Como verificado pelo Projeto Comprova, na madrugada do último sábado (15), uma propriedade rural no Espírito Santo foi atacada. A área fica na região conhecida como Córrego do Alemão, no bairro Jacupemba, na zona rural de Aracruz. Pés de mamão e café foram cortados. As investigações da polícia local, até o momento, descartam a participação do MST.

Fotografia colorida mostra diversos troncos de árvores sem o topo. No chão, ao lado, a copa das plantações.
Captura de tela do vídeo com conteúdo falso mostra plantação no Espírito Santo - Reprodução/YouTube

Segundo nota da polícia, a suspeita é que o ataque tenha ocorrido por "motivações pessoais" contra o dono da fazenda. À reportagem, o proprietário disse que não sabe dizer quem teria sido o autor dos ataques, mas que o que é dito no vídeo "é uma mentira".

Ao Comprova, o MST também negou que tenha realizado qualquer ação do tipo e classificou o conteúdo como "desinformação para criminalizar os sem terra e o ex-presidente Lula".

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação

No YouTube, os dois vídeos receberam mais de 6,5 mil visualizações, 346 curtidas e 91 comentários até 18 de outubro.

O que diz o autor

Ao menos dois canais do YouTube publicaram o mesmo vídeo em 15 de outubro. Um deles foi o canal TV Bolsonaro 22, que conta com mais de 6,9 mil inscritos. Na descrição do canal não há indicação de qualquer contato de e-mail ou telefone. Ao procurar pelo nome do canal em outras redes sociais, o Comprova encontrou a página "TV Bolsonaro —B22 em 2022" no Facebook.

A foto de perfil utilizada é a mesma do canal do YouTube que postou o vídeo aqui analisado. Na página do Facebook há um contato de e-mail, por onde o Comprova enviou questionamentos sobre a relação da página com o canal no YouTube e a respeito do vídeo verificado. Não houve retorno até o fechamento desta checagem.

Como verificamos

Buscamos no Google por "MST destrói plantação de mamão e café". Os principais resultados remetem a vídeos antigos ou aos dois vídeos aqui verificados. Pesquisando por "MST destruindo plantação de mamão e café", o primeiro resultado é uma matéria do G1 sobre o caso, sem qualquer citação ao MST. Também encontramos uma matéria no portal A Gazeta e uma na Folha Vitória. Nas duas reportagens, o movimento não é citado.

Entramos em contato com a assessoria de imprensa do MST, das polícias militar e civil do Espírito Santo e também com o proprietário da plantação destruída. A principal linha de investigação das autoridades é de "questões pessoais" contra o dono da área.

Para localizar o dono da propriedade, o Comprova entrou em contato com a equipe de reportagem do jornal A Gazeta, do Espírito Santo, que já havia repercutido o caso.

Por fim, a equipe buscou contato com o autor da publicação no YouTube.

Ocorrência

A Polícia Civil do Espírito Santo informou que o caso será investigado por meio da Deic (Delegacia Especializada de Investigações Criminais) de Aracruz e, para que a apuração seja preservada, nenhuma outra informação seria repassada.

Em nota, a assessoria de comunicação da Polícia Militar informou que na "tarde do último sábado (15), uma guarnição da Polícia Militar prosseguiu até a localidade de Córrego do Alemão com objetivo de verificar informações compartilhadas em grupos de WhatsApp de que uma plantação de mamão teria sido destruída em uma ação dolosa durante a madrugada. Após identificar o local exato do incidente, os militares realizaram contato com os donos da propriedade que relataram que tinham suspeita de que o delito teria motivação de cunho pessoal e que, provavelmente, seria uma ação de vingança".

Segundo a polícia, os proprietários foram orientados a registrar a ocorrência em uma delegacia para que os fatos fossem devidamente apurados e a ocorrência foi encerrada no local.

A PM informou ainda que, segundo a equipe que atendeu o caso da ocorrência, em nenhum momento os proprietários que chamaram o policiamento até o local mencionaram a possibilidade de ter sido uma ação do MST.

Sem vínculo

Em nota, a direção do MST informou que o movimento "não possui nenhum vínculo com o que está sendo noticiado por este vídeo, e que o mesmo é instrumento de mais uma notícia falsa produzida por bolsonaristas, que têm o objetivo de produzir desinformação para criminalizar os sem-terra e causar pânico eleitoral contra a campanha de Lula à presidência".

Mentira

Em contato com o Comprova, o dono da lavoura confirmou que houve danos à sua propriedade e afirmou não saber quem é o autor dos ataques, mas que "não tem cabimento" o que é dito no vídeo que, segundo ele, "é uma mentira".

Não foi possível identificar quem é o autor do vídeo. Embora não saiba quem foi o responsável pela gravação, o proprietário assegurou que não se trata de nenhuma pessoa próxima a ele, ou de funcionários da propriedade.

Rodovia

A propriedade fica no Córrego do Alemão, no bairro Jacupemba, na zona rural do município de Aracruz, no Espírito Santo. No vídeo verificado, o homem que grava afirma que a área está no limite entre os bairros Jacupemba e Guaraná, próximo de um trevo.

O Comprova localizou a região por meio do Google Street View e constatou que a área fica próxima de uma rodovia, a BR-101. O dono da área pontuou que a plantação fica próxima da rodovia, o que poderia facilitar o acesso de estranhos, caso do responsável pela gravação.

O Comprova também entrou em contato com uma indústria de tratamento de madeiras nas proximidades da região. Por WhatsApp, um funcionário confirmou que o ataque ocorreu e que foi em uma plantação próxima dali. Entretanto, informou não ter ouvido nada sobre envolvimento do MST nos ataques.

Por que investigamos

O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e as eleições presidenciais que viralizam nas redes sociais. Publicações falsas ou enganosas envolvendo candidatos à Presidência, como os vídeos aqui verificados, podem induzir a interpretações equivocadas da realidade e influenciar eleitores no momento da votação. Os cidadãos têm direito de basear suas escolhas em informações verdadeiras e confiáveis.

A investigação desse conteúdo foi feita por piauí, GZH, Estadão e CNN Brasil e publicada em 19 de outubro pelo Projeto Comprova, coalizão que reúne 43 veículos na checagem de conteúdos virais. Foi verificada por Folha, Plural Curitiba, UOL, imirante.com, O Dia, Metrópoles, Correio Braziliense, Alma Preta, A Gazeta, Estado de Minas e CBN Cuiabá. 

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