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Eleições 2022 petrobras

Tom comedido expõe o vazio do debate entre Lula e Bolsonaro

Chorume da campanha do segundo turno se insinua, mas não pauta encontro dos rivais

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São Paulo

O chorume que corre na campanha presidencial deste segundo turno se insinuou, mas acabou por não pautar o primeiro embate direto entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) na noite deste domingo (16).

O debate Folha/UOL/Band/Cultura provou que esta é uma eleição de rejeições. Com o presidente nunca descendo do patamar de 51% de avaliação negativa desde que o Datafolha começou a aferir esta corrida de 2022, em maio do ano passado, e com o petista vendo seu ruim/péssimo chegar perto daquele do adversário, restou a ambos pisar em ovos.

Bolsonaro toca Lula durante o debate Folha/UOL/Band/Cultura
Bolsonaro toca Lula durante o debate Folha/UOL/Band/Cultura - Marlene Bergamo/Folhapress

Houve, claro, ataques de lado a lado, mas o nível se manteve acima da linha d'água. Bolsonaro não chamou Lula de ladrão como em sua propaganda e em outras ocasiões, e o petista não disse que seu rival era canibal ou pedófilo —para ficar no nível singelo da campanha só nesta semana.

Não que o debate tenha sido propositivo ou técnico. O ex-presidente errava números com grande facilidade, e o atual não conseguia encaixar críticas precisas. Sobravam acusações de que o oponente estava mentindo, o que no geral era verdadeiro.

Pois candidatos mentem e distorcem, e essa é a regra, naturalizada no ambiente de dissolução moral da realidade nas redes sociais e além. A presença do senador eleito e ex-juiz Sergio Moro na claque bolsonarista, após ter deixado o governo do ex-chefe atirando, apenas ajuda a ilustrar a salada vigente.

Isso dito, Lula conseguiu um certo domínio do palco, favorecido pelo formato mais aberto, em que os rivais bailavam para lá e para cá ao se questionar. O petista só errou taticamente no terceiro bloco, quando falou mais que Bolsonaro e acabou vendo ele discursar livremente por quase cinco minutos sem contraditório.

O ex-presidente conseguiu invocar um antigo fantasma, o da falta de empatia do atual no manejo da crise sanitária da pandemia de Covid-19. Colocou Bolsonaro na parede num tema em que ele não tem defesa possível, apegando-se à obviedade de que o governo federal por fim foi obrigado a comprar vacinas contra a peste.

O presidente perdeu algum voto potencial, numa eleição em que 93% dos votantes dizem ter sua convicção cristalizada? Parece improvável. Não conseguiu falar de temas que têm lhe dado maior aprovação, como a economia. Mas também não ganhou, pelo mesmo raciocínio —e é ele que está alguns milhões de votos atrás de Lula neste momento.

Lula também não parece ter apelado a eventuais indecisos. Ele conseguiu ressuscitar uma crítica às privatizações no setor energético, o que evapora com a lembrança do petrolão.

Quando questionados por jornalistas sobre comprometimento contra a divulgação de fake news e a necessidade de medidas pouco republicanas no relacionamento com o Congresso, os dois se enrolaram retoricamente.

O ex-presidente falou genericamente que é alvo de mentiras e o atual, que foi acusado de praticamente tudo pela campanha petista. Ambas as coisas eram verdades. Acerca de apoio do centrão, ambos não tiveram argumentos ao serem confrontados com os mecanismos de cooptação vigentes e repetiram a tese de que é preciso negociar com o que se tem no Congresso.

Ao fim, o debate mostrou dois candidatos com medo de errar, respeitando a regra de ouro desse tipo de encontro, que é evitar algum desastre. Mas o tom mais comedido, se favoreceu a civilidade, serviu para evidenciar o vácuo discursivo por trás das acusações de lado a lado.

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