Irmãos que cederam casa para Lula na Bahia já foram alvo em operações

Empresário ficou 12 horas preso, mas defesa cita investigação encerrada; citado em delação na Faroeste, deputado negou acusações

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Salvador

Depois de um ciclo eleitoral intenso com viagens, comícios e debates em série, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) escolheu o sul da Bahia para um período de descanso após a vitória nas urnas.

Quem abriu para o novo presidente as portas de uma luxuosa casa na praia Ponta do Camarão, litoral sul de Porto Seguro, foram os irmãos Paulo César Carletto e Ronaldo Carletto, empresários que estão entre os nomes mais influentes na vida política e empresarial do extremo-sul do estado.

Ronaldo Carletto, de terno e gravata, fala ao microfone
Deputado federal Ronaldo Carletto (PP-BA) - Reprodução Ronaldo Carletto no Facebook

Nascidos no Espírito Santo, os irmãos possuem um império empresarial no extremo-sul da Bahia, cuja joia da coroa é a Expresso Brasileiro Transportes, empresa fundada pelo pai de ambos, Aluyr Tassizo Carletto, morto no ano passado aos 83 anos.

A atuação da família no setor de transportes começou no final dos anos 1970. A empresa foi progredindo e hoje é uma das maiores do setor de transportes da Bahia. Tem cerca de 550 funcionários e 200 ônibus que operam 55 linhas de transporte intermunicipal.

A Folha apurou com líderes do PT que a casa em que Lula se hospedou entre 1º e 5 de novembro pertence a Paulo Carletto, irmão do deputado federal Ronaldo Carletto (PP-BA), cujo partido fez parte da coligação de apoio à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Procurado, o advogado do empresário, Tarso Soares, negou que o imóvel seja de Paulo, mas evitou dar detalhes de quem é a casa.

Em novembro 2009, durante a primeira gestão de Jaques Wagner (PT) frente ao Governo da Bahia, Paulo Carletto foi um dos alvos da Operação Expresso, conduzida pela Polícia Civil.

A operação que apurou suspeitas de corrupção na Agerba, órgão ligado à Secretaria de Infraestrutura responsável pela regulação, concessão e fiscalização dos terminais e do transporte rodoviário e hidroviário de passageiros.

Paulo Carletto e outras seis pessoas foram presos temporariamente, mas acabaram liberados no mesmo dia, cerca de 12 horas depois, após prestarem depoimentos. A operação apurou suspeitas de fraudes na concessão de linhas a empresas de transportes intermunicipais.

Tarso Soares, um dos advogados de Paulo Carletto, disse que não tinha autorização para falar sobre o desenrolar da operação, mas destacou que a investigação foi encerrada e não teve nenhum tipo de desdobramento penal.

Entre os presos estava o ex-chefe da Agerba Antônio Lomanto Netto, que na época negou relação com o suposto esquema e, por meio de sua defesa, disse ser alvo de perseguição política.

Lomanto Netto havia sido indicado para o cargo pelo MDB, na época liderado por Geddel Vieira Lima. A operação aconteceu meses depois de Geddel e Wagner romperem, e o MDB entregar os cargos que ocupava no governo baiano.

Na época, a Secretaria de Segurança Pública informou que a investigação levou sete meses até o dia das prisões, e o então governador Jaques Wagner negou qualquer motivação política na operação.

Além da empresa de ônibus intermunicipais, Paulo Carletto é proprietário de lojas de autopeças, concessionárias e fazendas de criação de gado. Tem perfil discreto, a despeito do envolvimento de familiares na política.

Ronaldo Carletto, por sua vez, também é sócio de parte das empresas, mas se destacou como a principal face política da família. Foi deputado estadual entre 2003 e 2014. A partir de 2015, foi para a Câmara dos Deputados.

Neste período, foi um dos principais aliados dos governos petistas na Bahia. Em âmbito federal, fez parte da base aliada de Dilma Rousseff (PT) e voltou contra o impeachment da então presidente.

Carletto rompeu com o partido no início deste ano para apoiar a candidatura ao Governo da Bahia de ACM Neto (União Brasil), que acabou derrotado nas urnas.

Ele disputou a eleição como primeiro suplente na chapa ao Senado liderada pelo deputado federal Cacá Leão (PP), que acabou derrotado por Otto Alencar (PSD). No segundo turno, reaproximou-se do PT e deu apoio informal à candidatura do governador eleito Jerônimo Rodrigues (PT)

Ronaldo Carletto deixa o Congresso Nacional em fevereiro após dois mandatos em Brasília, mas ajudou a eleger o sobrinho Neto Carletto (PP) como seu sucessor na Câmara.

No ano passado, o deputado foi citado no âmbito da Operação Faroeste em uma delação de Sandra Inês Rusciolelli, primeira desembargadora a firmar um acordo de colaboração premiada do Brasil.

A delação, firmada pela desembargadora e pelo filho Vasco Rusciolelli, indicou que Carletto estaria envolvido no pagamento de propina para obtenção de uma sentença no Tribunal de Justiça da Bahia favorável a uma empresa de transporte por aplicativo.

Na época, Carletto afirmou em nota à imprensa que desconhecia a empresa citada na delação e que não fez qualquer pedido relacionado a esta.

Também disse que sua trajetória não seria maculada por afirmações inverídicas e maldosas: "Minha vida pública e particular sempre foram pautadas em condutas ilibadas".

Ronaldo Carletto foi procurado desde a semana passada, mas não atendeu às ligações nem retornou às mensagens deixadas pela reportagem.

O imóvel que pertence à família Carletto fica em um trecho isolado do litoral sul de Porto Seguro entre a praia do Satu e o distrito de Caraíva, a cerca de 60 quilômetros da zona urbana da cidade.

Lula deixou a casa no último sábado (1º) em um helicóptero, no qual seguiu até um aeroporto privado no distrito de Trancoso. Antes do embarque, o petista tirou fotos com policiais e moradores locais.

O presidente eleito desembarcou na capital federal na noite desta terça-feira (8) e deverá retornar a São Paulo na noite de quinta (10). Lula vai se reunir com os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, nesta quarta (9).

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