Kassab será secretário de Governo e homem-forte de Tarcísio em SP

Presidente do PSD é o principal articulador político do ex-ministro; aliado será chefe da Casa Civil

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São Paulo

O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, será o secretário de Governo da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo.

A indicação, revelada pela Folha, marca a volta formal do cacique a um posto no Executivo desde que passou quase dois anos licenciado da Casa Civil do ex-governador João Doria (ex-PSDB, hoje sem partido), cargo que não chegou a ocupar.

O cargo no comando da Casa Civil será de Arthur Lima, aliado próximo de Tarcísio que trabalhou com ele no Ministério da Infraestrutura do governo de Jair Bolsonaro.

Kassab ao lado de Tarcísio durante o anúncio da chapa do PSD com o Republicanos em SP
Kassab ao lado de Tarcísio durante o anúncio da chapa do PSD com o Republicanos em SP - Bruno Rocha - 7.jul.2022/Agência Enquadrar/Agência O Globo

A indicação consolida Kassab como o principal articulador político de Tarcísio, um neófito na política sacado do ministério de Bolsonaro para ser o candidato do presidente no principal colégio eleitoral do país. A posição extraoficial já incomodava bolsonaristas do entorno do governador eleito.

Com efeito, Kassab tergiversou ao ser questionado sobre o caso na tarde de sexta (25). Disse que não havia recebido tal convite, "mas que ficaria honrado" se o recebesse. Mais tarde, Tarcísio confirmou o aliado e Lima em seu governo, como revelado pela Folha pela manhã, e anunciou Natália Resende numa supersecretaria unindo Infraestrutura, Meio Ambiente, Logística e Transportes.

"Vai nos ajudar bastante na interface política, então considero um grande perfil", disse Tarcísio, ao falar de Kassab. O anúncio oficial da presença do aliado na Secretaria de Governo, segundo o governador eleito, será feito na semana que vem.

Na campanha, Tarcísio logrou ocupar o espaço no centro político e desalojou o governador Rodrigo Garcia (PSDB), ex-vice de Doria, da disputa do segundo turno. Ele ultrapassou todos os rivais e, na segunda rodada, bateu Fernando Haddad (PT) com 55,2% dos votos.

Toda a montagem do arcabouço político entre prefeitos do estado coube a Kassab, que havia apostado em Tarcísio quando viu sua ideia de levar Geraldo Alckmin para disputar o Bandeirantes pelo PSD fracassar: o ex-governador tucano agora é do PSB e vice-presidente eleito na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Indicou o vice-governador eleito, Felício Ramuth (PSD), e agora cristaliza sua ascendência sobre a gestão estadual.

Kassab é um dos mais experientes quadros políticos do país, com passagem pelo Legislativo e pelo Executivo. Foi vice-prefeito de José Serra (PSDB) em São Paulo (2006) e titular da capital de 2006 a 2012. Ocupou ministérios nos governos Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB). No governo Bolsonaro, manteve o PSD numa distância regulamentar, apoiando pontualmente ações congressuais.

Em entrevista à Folha após as eleições, ele afirmou que sua ideia agora era tornar a sigla uma referência na centro-direita e listou suas condições para apoiar o governo Lula, do qual acabou fazendo parte da transição.

Para Kassab, contudo, voltar a Brasília faz menos sentido do que focar em São Paulo, ainda mais com a turbulência política antecipada na transição de Lula. Tarcísio, mesmo não sendo ainda do PSD, está sob sua órbita política, e não há joia da coroa mais vistosa no país do que o governo paulista.

Na entrevista, Kassab disse que não precisaria ser necessariamente um secretário de estado para ajudar seu aliado, e lembrou que tem outros ativos importantes pelo país, como o Governo do Paraná ou a Prefeitura do Rio.

Na composição interna, contudo, o cacique terá a função de equilibrar as demandas de grupos bolsonaristas desalojados do poder em Brasília, dos ocupantes da máquina estadual durante quase três décadas de governos do PSDB e dos aliados técnicos de Tarcísio —como Lima, que foi diretor da Empresa de Planejamento e Logística da pasta do atual governador eleito.

Kassab irá permanecer à frente do PSD. Em 2018, ele havia sido indicado por Doria para chefiar a Casa Civil, mas às vésperas da posse foi objeto de uma operação da Polícia Federal que investigava doações consideradas suspeitas da empresa JBS entre 2010 e 2016.

Kassab sempre negou quaisquer irregularidades, e, segundo ele, 80% dos procedimentos legais do caso já foram encerrados.

Seja como for, ele licenciou-se sem assumir, para evitar constrangimento a Doria. Aliados dizem que ele nunca perdoou o ex-governador, que teve outros secretários envolvidos em casos considerados mais graves, por não tê-lo reintegrado quando começou a ter vitórias na Justiça. Kassab nega o mal-estar.

Após mais de 500 dias, deixou o governo e qualquer possibilidade de composição com o então tucano —que deixou a política e o PSDB após ter vetada no seu partido a postulação presidencial este ano.

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