Descrição de chapéu transição de governo

Lula cancela entrevista e deve deixar Egito sem explicar uso de jato de empresário

Presidente eleito viajou em aeronave de empresário que é delator e que confessou caixa 2 em eleição de tucano

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Sharm el-Sheikh (Egito)

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve sua última reunião nesta quinta-feira (17) no Egito e deixará Sharm el-Sheikh sem dar explicações sobre ter viajado à COP27 no jato do empresário José Seripieri Filho, conhecido como Júnior, fundador da Qualicorp e dono da QSaúde.

A assessoria de Lula não confirma quando ele deverá deixar o Egito e seguir para Portugal.

A última reunião de Lula ocorreu na noite egípcia com a ministra alemã das relações exteriores Annalena Baerbock.

Uma entrevista coletiva de Lula chegou a ser agendada para esta quinta, mas foi cancelada em cima da hora. Segundo a assessoria, a coletiva foi cancelada porque a agenda estava toda atrasada.

No mesmo dia, Lula teve reuniões com representantes da sociedade civil brasileira, com o secretário-geral da ONU António Guterres e com o Espen Barth Eide, ministro norueguês do Clima. O presidente eleito também teve uma reunião com representantes de povos indígenas.

O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - Sergio Lima-10.nov.22/AFP

Aliados de Lula reconhecem desgaste com favores de empresários aceitos pelo petista após as eleições, mas saem em defesa do presidente eleito sob a alegação de que não há desvio ético nem ilegalidade jurídica.

O constrangimento é exposto pela necessidade de ter que dar explicações públicas e pelas críticas de opositores, embora auxiliares de Lula digam ser uma "crise artificial".

A fonte de desconforto está nessa viagem de Lula à COP27. O petista embarcou na segunda-feira (14) para participar da conferência da ONU sobre mudanças climáticas.

Como revelou a coluna Mônica Bergamo, da Folha, a aeronave em que viaja Lula é do modelo Gulfstream, com capacidade para transportar 12 pessoas e autonomia para voar direto ao país africano.

Lula e Seripieri são amigos há cerca de dez anos. Durante a campanha eleitoral deste ano, o empresário foi um dos primeiros com quem o petista concordou em se reunir para tratar de suas propostas de governo.

O empresário firmou acordo de delação com o Ministério Público em 2020 e confessou o crime eleitoral de caixa dois em um caso envolvendo o senador tucano José Serra (SP).

Seripieri Filho ficou preso por três dias em julho de 2020 em decorrência da Operação Paralelo 23, que investigou pagamentos para a campanha de Serra ao Senado em 2014.

Ele se tornou réu acusado de corrupção, lavagem e caixa dois na Justiça Eleitoral de São Paulo. O senador também responde ao processo. A investigação ocorreu no âmbito de um conjunto de inquéritos apelidado de "Lava Jato Eleitoral", por envolver desdobramentos de delações enviados a esse braço do Judiciário.

No fim de 2020, o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso homologou acordo de colaboração de Seripieri firmado com a Procuradoria-Geral da República. O compromisso previa o pagamento de R$ 200 milhões pelo empresário como ressarcimento aos cofres públicos.

Os termos do acordo, assim como detalhes dos depoimentos, permanecem sigilosos até hoje.

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