Descrição de chapéu transição de governo

Mercadante fala em problema institucional e diz que transição na Defesa será após volta de Lula

Jaques Wagner, senador e ex-ministro da Defesa, defendeu nome civil para ocupar a pasta

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Brasília

O coordenador dos grupos técnicos do governo de transição, o ex-ministro Aloizio Mercadante (PT), negou nesta quinta-feira (17) que haja atraso e dificuldades para definir a composição do colegiado responsável pela área da Defesa, setor que esteve fortemente associado ao bolsonarismo.

Disse que a definição acontecerá após o retorno do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que está em viagem ao Egito para participar da COP. Por outro lado, Mercadante reconheceu haver um "problema institucional" relacionado com as Forças Armadas.

Em determinado momento, cogitou-se fazer um único grupo de trabalho para Defesa e Inteligência. Mas a avaliação é que serão duas equipes separadas. São os únicos que ainda não tiveram definição sobre os seus coordenadores e demais membros.

O governo de transição já anunciou 30 grupos técnicos e mais de 300 pessoas que vão integrar os trabalhos da equipe de Lula, seja na coordenação, nos GTs e no conselho político.

Foto mostra o coordenador dos grupos de trabalho do governo de transição, Aloizio Mercadante. Ele aparece em segundo plano, atrás do vice-presidente eleito Geraldo Alckmin, que está desfocado. Mercadante é um homem branco, de bigode. Ele veste um terno preto.
O ex-ministro Aloizio Mercadante durante entrevista coletiva no Centro Cultural Banco do Brasil, sede do governo provisório - Adriano Machado/ Reuters

"Do GT [grupo técnico] de Defesa, eu acho que vamos ter uma excelente composição, mas vamos só bater o martelo com o presidente [Lula]. Como presidente viajou e teve uma responsabilidade, uma agenda muito pesada, com muita coisa acontecendo e uma repercussão extraordinária da fala dele, vamos aguardar. Não faz diferença nenhuma", afirmou em entrevista a jornalistas, no Centro Cultural Banco do Brasil, sede do governo de transição.

Mercadante afirmou haver um "problema institucional" relacionado às Forças Armadas, em particular com a sua posição na sociedade. Mas disse que isso não será tema de trabalho do grupo técnico.

"É uma instituição secular, organizada, diagnóstica, não tem maiores preocupações em relação a essa agenda. Pode ter algumas questões pontuais. Tem um problema institucional, o lugar das Forças Armadas, a relação com a Constituição, mas isso não é propriamente um tema do grupo de trabalho. Eu acho que não tem nenhuma dificuldade e nós faremos uma boa solução", afirmou Mercadante.

"Eu acho que o tema basicamente é esse, é um problema mesmo da composição, ter uma composição adequada e poder ter resultados naquilo que a gente espera para a área da Defesa", completou.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) explorou durante todo seu governo da proximidade com as Forças Armadas, por ser capitão da reserva, e transformou sua patente em ativo político. Durante a campanha eleitoral, ele era chamado de "capitão do povo" (mesmo título do seu jingle).

Ele foi criticado, por todo seu mandato, por politizar as Forças Armadas e tentar envolvê-las em crises institucionais. Trocou três vezes o cargo de ministro da Defesa e os comandantes de Forças.

Segundo a Folha apurou, a equipe do novo governo decidiu aguardar o retorno do presidente eleito para bater o martelo a pedido do coordenador geral da transição e vice eleito, Geraldo Alckmin.

A avaliação é que os temas são sensíveis, e não há nem mesmo definição sobre como será o grupo. Interlocutores estudam a possibilidade de ser inteiramente civil, de integrantes da reserva ou misto.
Se houver o convite a membros da ativa, é necessário que se faça uma requisição formal às Forças Armadas.

Mas, ainda que não haja oficialização, aliados de Lula já foram demandados a dialogar com integrantes das Forças Armadas. Entre eles estão os ex-ministros Nelson Jobim, Celso Amorim, Jacques Wagner e a deputada Perpétua Almeida (PC do B-AC), que já foi secretária da pasta em gestão petista.

Mesmo que esses nomes atuem nos bastidores, é possível que nem todos integrem o grupo de transição. Jobim, por exemplo, tem demonstrado a interlocutores o interesse de permanecer nos bastidores.

O general Gonçalves Dias, que acompanha Lula desde os tempos de Presidência, também é importante conselheiro do petista para os temas e é citado como um dos nomes para compor um dos grupos, provavelmente o de Inteligência.

Aliados de Lula ouviram em conversas com militares nomes que seriam bem recebidos pelas Forças para chefiar a Defesa, entre eles Aldo Rebelo, Nelson Jobim e Aloizio Mercadante. Este último vem de uma família de militares e também tem dialogado com integrantes das Forças.

Alckmin também é elencado como um bom interlocutor dos fardados, que dizem que seria um prestígio ter o vice-presidente como ministro.

O próprio vice eleito, porém, já indicou a Lula não querer assumir nenhuma pasta no governo e atuar como um copiloto. A expectativa é que o petista viaje muito durante o mandato e para isso Alckmin precisaria ser acionado para substituí-lo muitas vezes.

Nos encontros com petistas, militares criticaram uma outra opção considerada por aliados de Lula, de nomear o ministro Ricardo Lewandowski, do STF (Supremo Tribunal Federal), para chefiar a pasta. A avaliação é que houve conflitos entre Judiciário e Forças Armadas no governo Jair Bolsonaro, e nomear um integrante da corte para o ministério seria vista como uma forma de tutelá-los.

Esses interlocutores petistas ouviram a mesma ponderação sobre a possibilidade de nomear um diplomata, como Celso Amorim, ex-ministro da área e aposentado.

A expectativa é que o presidente eleito só tome uma decisão no início de dezembro. Nesse cenário, há desejo por parte dos atores que o aconselham para essa área que já haja uma definição conjunta do ministro e também dos comandantes das três Forças.

Na quinta-feira, o governo Bolsonaro indicou integrantes da sua gestão para ajudar os grupos temáticos na transição. Na Defesa, foram escalados os generais Mario Luiz Jathahy Fonseca e Sergio José Pereira.

Os dois são próximos ao vice na chapa de Bolsonaro, Walter Braga Neto e integraram sua equipe durante a intervenção no Rio de Janeiro.

Pereira já atuou também na Casa Civil de Braga Netto, e hoje é secretário-geral da Defesa. Fonseca, por sua vez, é seu assessor no ministério.

Segundo aliados de Braga Netto, as escolhas foram do próprio titular da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira.

Após a derrota de Bolsonaro, os quartéis do Exército se tornaram local de peregrinação e de manifestações de militantes bolsonaristas, com pedidos de intervenção federal. Veículos de imprensa foram hostilizados pelos bolsonaristas durante alguns desses atos.

O presidente usou as Forças Armadas em sua estratégia para questionar a segurança das urnas eletrônicas. Os militares foram convidados pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para integrar a comissão de transparência eleitoral e também foram fiscais das eleições.

O Ministério da Defesa depois divulgou um relatório no qual não apontou fraudes nas eleições presidenciais, mas promoveu uma série de recomendações.

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