Descrição de chapéu transição de governo

Eduardo Leite usa privatizações e pende à direita para pavimentar caminho até 2026

Como presidente do PSDB, tucano articula bloco de oposição a Lula visando sucessão

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Porto Alegre

Antes mesmo de iniciar o segundo mandato como governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB) deixou para trás o discurso adotado durante a campanha de foco total na gestão do estado, desconversando sobre o interesse na Presidência da República.

Uma vez reeleito, o tucano tenta assegurar caixa para um mandato tranquilo, se reaproxima de partidos de direita e se coloca desde já como potencial sucessor de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A primeira sinalização veio no final de novembro, quando Leite aceitou a indicação para a presidência nacional do PSDB, uma possibilidade que negava quando disputava a pré-candidatura à Presidência pelo partido contra o então governador de São Paulo João Doria.

O governador eleito do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite - Zanone Fraissat-8.nov.21/Folhapress

O partido antecipou o final da gestão de Bruno Araújo, que ocorreria em junho, para que o governador gaúcho possa trabalhar nas questões políticas do partido já a partir de fevereiro, tão logo encerre a composição do secretariado no Governo do RS e encaminhe os primeiros projetos ao Legislativo.

Um dos primeiros desafios à frente do partido será ganhar musculatura política após o desempenho pífio nas últimas eleições, em que viu sua bancada diminuir de 29 para 13 deputados federais.

Para tal, abriu negociações para uma federação ou fusão com o Podemos, que recentemente se fundiu com o PSC e passará a contar com 18 deputados e sete senadores. O PSDB tem quatro cadeiras no Senado, nenhuma conquistada em 2022.

Leite já deixou para trás a campanha marcada por troca de gentilezas com a esquerda e voltou a se aproximar de movimentos e partidos de direita.

A ideia é articular um bloco nacional de oposição a Lula com viés moderado e liberal, menos estridente e ideológico que a oposição bolsonarista prometida pelos nomes eleitos sob a legenda do PL.

No final de semana posterior à eleição, Leite participou do 7º Congresso do MBL em São Paulo em um painel com o deputado Kim Kataguiri (União Brasil), em que exaltou as privatizações do seu primeiro mandato e disse que não iria "passar pano" para o governo Lula.

No Rio Grande do Sul, o tucano se esforça em atrair o partido do adversário Onyx Lorenzoni (PL) para a base do governo.

Um dos deputados estaduais eleitos é o filho de Onyx, Rodrigo Lorenzoni, que foi secretário de Turismo de Leite até março de 2021, quando saiu sob elogios do governador para assumir cargo na Prefeitura de Porto Alegre.

Dois convites formais já foram feitos, o último deles em visita em Brasília ao deputado federal Giovani Cherini (PL), presidente gaúcho da sigla, no início do mês. Cherini disse que a decisão é de manter a independência "pelo menos por enquanto". Em janeiro, uma nova rodada de conversas deve ocorrer.

"Deixamos as portas abertas, tanto por parte do PL como por parte do governo", disse o deputado.

Parte desse esforço em atrair o PL é não melindrar os apoiadores bolsonaristas inconformados com o resultado da última eleição.

Acampados desde o final das eleições próximos ao Comando Militar do Sul na Praça Padre Thomé, no centro de Porto Alegre, manifestantes receberam desde então apenas sucessivos pedidos da Brigada Militar para que se retirem, todos ignorados. A Secretaria de Segurança descarta o uso do batalhão de choque no local.

Na parte de gestão, a estratégia de Leite é dobrar a aposta em privatizações e concessões, uma forma de tentar rechear o caixa do estado no período em que governará sob o regime de recuperação fiscal, uma novidade em relação ao primeiro mandato que deverá custar entre R$ 12 e R$ 13 bilhões ao longo de quatro anos.

Ao menos a primeira parcela, Leite tentará negociar o não pagamento em razão da perda de receita com a redução do ICMS –lei aprovada por Jair Bolsonaro (PL) em junho passado para conter o aumento dos combustíveis antes das eleições.

A nova estrutura de governo proposta por Leite no segundo mandato contará com uma secretaria exclusiva para "parcerias e concessões".

Após derrubar na Assembleia Legislativa a lei que obrigava o RS a realizar plebiscitos antes de privatizações, Leite já vendeu a CEEE-D, distribuidora de energia elétrica, e a Sulgás, de gás natural.

O leilão da privatização da Corsan, estatal de saneamento, ocorreu no último dia 20 e foi vencido pelo consórcio da empresa Aegea com uma oferta de cerca de R$ 4,15 bilhões, o que representa ágio de 1,15%.

Já a privatização do Banrisul saiu do radar durante as eleições. Apesar de simpático à ideia, Leite abdicou de defendê-la como promessa de campanha mirando o funcionalismo e o eleitorado de esquerda.

Recentemente, em entrevista ao site Poder 360, Leite enfim admitiu explicitamente interesse em concorrer à Presidência da República.

Disse que "perguntar ao político que foi prefeito e governador se ele deseja ser candidato a presidente é o mesmo que perguntar ao jornalista se ele deseja ser âncora [de telejornal]" e colocou seu nome "à disposição".

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