Congresso dos EUA ressuscita audiência articulada por bolsonaristas sobre o Brasil

Evento em Washington sobre 'crise da democracia' havia sido barrado por democratas em março

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Washington

O Congresso dos EUA realizará na próxima semana uma audiência sobre uma suposta crise da democracia no Brasil com a presença do jornalista americano Michael Shellenberger, que divulgou os arquivos do Twitter relacionados ao Brasil, do CEO da rede conservadora Rumble, Chris Pavlovski, e do ativista brasileiro Paulo Figueiredo Filho, alinhado ao bolsonarismo.

O evento, na terça-feira (7), está sendo organizado pelo subcomitê de Saúde Global, Direitos Humanos Globais e Organizações Internacionais, vinculado ao Comitê de Relações Exteriores da Câmara.

Não está prevista a presença do bilionário Elon Musk, dono do X (ex-Twitter), e que atualmente trava um embate com o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.

Comitiva bolsonarista acompanha o deputado republicano Chris Smith em frente ao Capitólio
Comitiva bolsonarista, em março, acompanha o deputado republicano Chris Smith em frente ao Capitólio, em Washington - Reprodução X

O título da audiência —"Brasil: Uma crise da democracia, da liberdade e do Estado de Direito?"— é o mesmo de um outro debate que estava sendo articulado para março na Comissão de Direitos Humanos, mas foi bloqueada pelo copresidente democrata do órgão, Jim McGovern.

Na ocasião, o líder republicano da comissão, o deputado Chris Smith, que é próximo de bolsonaristas, havia prometido insistir na realização do evento. Smith também é copresidente do subcomitê em que a audiência será realizada na próxima semana.

"O Brasil está indo na direção da anarquia e do Estado pelo direito —em que o direito é usado seletivamente como um instrumento de poder político para processar pessoas como forma de silenciar a oposição", afirmou o republicano após o cancelamento da audiência, durante conferência ao lado do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Figueiredo e Allan dos Santos, entre outros aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro.

A iniciativa faz parte de uma ofensiva internacional coordenada por Eduardo Bolsonaro para angariar apoio a alegações de perseguição e censura no Brasil. Além de visitas frequentes a Washington —houve ao menos outras duas, em novembro e fevereiro—, ele esteve no início do mês na Bélgica, em missão ao Parlamento Europeu. O embate entre Musk e Moraes foi um dos temas centrais das conversas.

Em paralelo a esse movimento, uma delegação liderada pela senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da CPI do 8 de Janeiro, está em Washington nesta semana para trocar experiências sobre as respostas aos ataques à democracia em ambos os países. A visita começou a ser articulada no ano passado pelo Instituto Vladimir Herzog, que banca a viagem.

A delegação se reuniu nesta terça (30) com a secretária-executiva da CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos), Tania Reneaum Panszi, e o relator especial para Liberdade de Expressão na organização, Pedro Vaca.

Acompanham Eliziane o senador Humberto Costa (PT-PE) e os deputados Jandira Feghali (PC do B-RJ), Henrique Vieira (PSOL-RJ), Rafael Brito (MDB-AL) e Rogério Correia (PT-MG).

A comitiva propôs a criação na CIDH, vinculada à OEA (Organização dos Estados Americanos), de uma relatoria sobre crimes contra a democracia, nos moldes de outras subcomissões existentes no organismo, como povos indígenas e mulheres.

Também foi discutida a instalação, em separado, de uma comissão de acompanhamento permanente sobre milícias no Brasil.

A proposta de uma relatoria sobre crimes contra a democracia não é focada apenas no Brasil, abrangendo toda a região coberta pela CIDH. Eliziane diz que o próximo passo é fazer uma provocação, via Congresso e Executivo brasileiros, para que a organização analise a ideia –para ser implementada, ela depende da chancela dos demais países membros, disse a senadora.

Com relação à comissão sobre milícias no Brasil, Henrique Vieira afirmou que a comitiva deve fazer uma articulação junto com o Ministério da Justiça e o Itamaraty para propor a criação desse novo mecanismo.

"Falamos de como o desenvolvimento das milícias no Rio de Janeiro e a sua expansão para o conjunto do Brasil é um ataque direto à democracia. A lógica miliciana interfere diretamente em processos eleitorais, inclusive com violência política contra eleitos. Marielle Franco, por exemplo, foi assassinada como pano de fundo em uma ação miliciana", disse o deputado.

Os congressistas afirmam que também foram questionados pelos representantes da CIDH sobre o embate recente entre Elon Musk e o ministro Alexandre de Moraes.

Segundo Correia, a comitiva brasileira fez uma defesa do trabalho das cortes no Brasil.

O tema, no entanto, não foi abordado na reunião que os parlamentares tiveram durante a tarde com os deputados democratas Jim McGovern, Greg Casar, Chuy Garcia e Delia Ramirez. Há duas semanas, o Comitê do Judiciário da Câmara, comandado pelo republicano Jim Jordan, divulgou um relatório em que expôs decisões sigilosas do ministro do STF sobre redes sociais.

Comitiva brasileira faz reunião em Washington com deputados democratas
Comitiva brasileira faz reunião em Washington com deputados democratas - Caio Guatelli/Divulgação
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