Comandante do Exército pediu crédito de confiança e prometeu resolver caso Cid, diz Múcio

Ministro da Defesa diz que Lula não pediu demissão de ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, mas queria providências

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Brasília

O ministro José Múcio Monteiro (Defesa) afirmou nesta terça-feira (24) que o novo comandante do Exército, Tomás Paiva, pediu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) um "crédito de confiança" para solucionar a crise entre a Força e o Palácio do Planalto.

Nesse contexto, segundo o ministro, Tomás pediu para tomar a frente nas discussões com o Exército sobre a situação do tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) investigado pela Polícia Federal por transações suspeitas em favor da família do mandatário.

"Estou torcendo para que o general Tomás vá dizer ao presidente que vai fazer aquilo que o presidente deseja que faça. A gente precisa que agora, para que nasça esse clima de confiança, de que o outro saiba o que vai se fazer, é muito importante que essa iniciativa seja do Exército", disse o ministro à GloboNews.

Ministro da Defesa, José Múcio, teve reunião nesta terça-feira com o presidente em exercício, Geraldo Alckmin - Pedro Ladeira-20.jan.23/Folhapress

Segundo Múcio, o novo comandante do Exército afirmou a Lula, em reunião no sábado (21), que gostaria de virar a página dos ataques às sedes dos Poderes.

"O general disse que precisava de um crédito de confiança para que a gente coloque as coisas no lugar. Está sendo dado esse crédito de confiança, com votos para que tudo volte ao normal."

O primeiro desafio de Tomás será conduzir, nesta terça, a primeira reunião do Alto Comando do Exército sob a nova direção. Um dos principais assuntos a serem tratados, como mostrou a Folha, é o futuro de Cid na Força.

"O general Tomás pediu para que ele tomasse à frente para decidir o que é que vai fazer. Mas que tomará as providências e combinará comigo e com o presidente", disse Múcio.

O ministro da Defesa destacou que Lula não pediu, de forma conclusiva, a retirada de Cid do comando do 1º Batalhão de Ações de Comando, em Goiânia. Na entrevista, Múcio afirmou que o presidente o questionou de forma insistente o que se faria com o tenente-coronel diante das investigações.

Múcio disse que tentou tratar do assunto com o ex-comandante do Exército Arruda, mas que houve "muita dificuldade". "Há um espírito de corpo muito forte, há ambiente político também muito forte", completou.

O objetivo, segundo o ministro, é o Exército analisar a situação de Cid e tomar uma decisão sobre sua permanência.

"Nós não estamos querendo condenar ninguém por especulação, não cometer injustiça, mas tenho absoluta certeza que se tiver algum fato comprovado, isso deverá ser adiado [nomeação do Cid], postergado, alguma coisa vai acontecer."

Múcio afirmou ainda que "houve uma série de erros" em relação aos atos golpistas do último dia 8 de janeiro "que infelizmente nos machucam até hoje". "Todos estão sendo investigados, todos terão que pagar", disse.

Ele também classificou como erro ter permitido que manifestantes que chegaram a Brasília de ônibus às vésperas dos atos entrassem no acampamento.

"O erro, não sei se foi proposital ou não, foi ter impedido a entrada de ônibus [no QG do Exército] e permitido a entrada das pessoas. O que era 200 numa noite virou 4.000. Se nós tivéssemos impedido, talvez nós não estivéssemos falando disso", disse Múcio.

O plano de segurança elaborado pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal às vésperas do dia 8 previa que os motoristas dos ônibus pudessem desembarcar os golpistas em região próxima ao QG do Exército.

Na semana passada, o governo Lula buscou virar a página e tentar melhorar a relação do Planalto com as Forças Armadas. Para isso o mandatário apostou na agenda de fortalecimento da indústria de defesa, tema que une militares e governo federal, em encontro com empresários e os comandantes das Forças Armadas.

No entanto, nesta terça, Múcio afirmou que a iniciativa não surtiu tanto efeito. "Foi uma conversa ótima, mas eu não senti o presidente motivado", disse.

"A coisa da falta de confiança, depois daquele episódio, não havia conversa que fizesse ele se entusiasmar. Ele fazendo discurso da falta de confiança na questão dos militares, isso era um assunto redundante, que eu senti que não estávamos conseguindo virar a página", seguiu o ministro.

Mesmo assim, segundo Múcio, Lula pediu que ele se reunisse com o vice-presidente e presidente em exercício, Geraldo Alckmin. Os dois se reuniram na manhã desta terça-feira (24) para as primeiras discussões em torno da criação de um comitê de investimentos em projetos estratégicos de defesa.

Segundo Múcio, o encontro serviu para "definir as estratégias" do comitê e ajustar o discurso para apresentar a proposta a Lula nos próximos dias.

Auxiliares do ministro afirmaram à Folha que o objetivo é focar em parcerias público-privadas para alavancar investimentos na Base Industrial de Defesa, como uma forma de virar uma primeira agenda positiva para o setor após a vitória de Lula.

A criação do grupo partiu do entendimento de que não há recursos suficientes no Orçamento de 2023 para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cumprir a promessa feita aos comandantes das Forças Armadas de aumentar o investimento em projetos considerados estratégicos para Exército, Marinha e Aeronáutica.

O objetivo é incentivar que os militares se mantenham em suas áreas finalísticas, ao invés de assumir cargos-chave no Executivo, como ocorreu no governo Jair Bolsonaro (PL). Lula tem afirmado que o investimento estratégico na defesa é o caminho para despolitizar as Forças.

Na última sexta-feira (20), os comandantes apresentaram a Lula os projetos considerados prioritários para cada uma das Forças. São eles:

  • Marinha: Prosub (Programa de Submarinos); Programa Nuclear; e Programa de Fragatas Classe Tamandaré.

  • Exército: Programa Estratégico Forças Blindadas; Sisfron (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras); Defesa Antiaérea; Defesa Cibernética; Aviação; e Astros 2020.

  • Aeronáutica: Avião de Transporte Multimissão KC-390; Caça Multiuso F-39 Gripen; e Aeronave de Transporte Leve C-408.

O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, tem feito reuniões internas com o novo secretário de Produtos de Defesa, brigadeiro Rui Mesquita, e representantes da Base Industrial de Defesa para atualizar os projetos estratégicos.

A ideia é estimar qual montante deveria ser levantado este ano para avançar com os programas.

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