Descrição de chapéu ataque à democracia

Ex-número 2 da Segurança no DF diz que Torres viajou sem deixar diretrizes para interino

Fernando de Sousa Oliveira disse não ter sido apresentado a comandantes das forças policiais e a Ibaneis Rocha

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Brasília

O ex-número 2 da Segurança Pública do Distrito Federal Fernando de Sousa Oliveira afirmou à Polícia Federal que Anderson Torres deixou o país sem lhe repassar "diretriz" nem o apresentar aos comandantes das forças policiais e ao governador Ibaneis Rocha (MDB).

Ele disse que não tomou conhecimento, por exemplo, do plano operacional da Polícia Militar para as manifestações que ocorreriam nos dias 6, 7 e 8 deste mês.

Pelo teor do depoimento, o então secretário-executivo na SSP-DF considerava que o órgão estava sob a responsabilidade de Torres por ocasião dos ataques às sedes dos três Poderes, já que as férias começavam oficialmente no dia 9.

Ele afirmou que, "diante da ausência do titular da pasta, secretário Anderson, achou por bem acionar o gabinete de crise com a convocação de todos os comandantes" das forças locais, deslocamento de tropas para o centro da cidade e recrutamento de policiais de folga.

O delegado Fernando de Sousa Oliveira, durante entrevista em 2022 - Fabio Rodrigues-Pozzebom - 14.jun.22/Agência Brasil

Torres viajou de férias para os Estados Unidos no dia 7, véspera dos atos golpistas promovidos por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Está preso desde que retornou ao Brasil, no sábado (14), por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

Procurado pela Folha, o advogado Rodrigo Roca, que atua na defesa do ex-titular da SSP-DF, informou que os esclarecimentos serão dados por ocasião das declarações de seu cliente às autoridades. Na primeira tentativa de ouvi-lo, também nesta quarta, Torres ficou em silêncio.

A PF marcou uma nova data para o depoimento: será na próxima segunda-feira (23), às 10h30.

Oliveira disse que no dia 5 Torres o avisou que iria viajar no fim de semana e que deixaria o planejamento aprovado, providência adotada no dia seguinte.

Por volta do meio-dia do sábado (7), afirmou o ex-número 2 da SSP-DF, Torres lhe enviou mensagem para que entrasse em contato com Ibaneis Rocha. Segundo o depoimento, o governador determinou que ele recebesse representantes do Ministério da Justiça para uma reunião.

No encontro teria ficado estabelecido que a Força Nacional seria responsável pela segurança do Palácio da Justiça e da sede da Polícia Federal, e que as demais áreas seriam cobertas pelas forças locais e demais instituições conforme plano original aprovado no plano de ação.

"Durante o monitoramento de inteligência da madrugada do dia 7 para 8, as forças de segurança não reportaram nenhum movimento atípico até as 13h do domingo, inclusive com imagens de poucas pessoas na Esplanada dos Ministérios", disse Oliveira.

Com relação aos informes de inteligência, o ex-secretário-executivo disse que os recebia por meio de grupos WhatsApp denominados "Difusão" e "Perímetro".

Esses grupos eram responsáveis por subsidiar e difundir as informações de inteligência em tempo real, mas que chegaram poucas informações sobre "radicais, sendo sua grande maioria advinda de rede social e não de acompanhamento in loco realizado por policiais de inteligência".

Além dele, no grupo "Difusão" estavam, entre outras autoridades, Torres e o ex-comandante-geral da PM Fábio Augusto Vieira, também preso por ordem de Moraes.

Segundo Oliveira, as informações de inteligência apontavam que o ambiente estava controlado e tranquilo. Ele citou os termos que constavam dos grupos: "Ânimos pacíficos", "Situação tranquila e sem alteração", "Normalidade", "Tudo normal", "Policiamento reforçado".

Ele colocou o celular à disposição dos investigadores para acesso ao conteúdo das conversas travadas naquele período com Torres, Ibaneis e comandantes da PM.

O ex-secretário destacou que, apesar do relatório de inteligência da SSP-DF, cujo teor foi revelado pela Folha, indicar possível manifestação com ânimos exaltados, não havia confirmação concreta sobre se a manifestação ocorreria e em quais proporções.

Questionado sobre a declarações de Ibaneis de que teria ocorrido uma "sabotagem" no plano de segurança, Oliveira disse acreditar que houve erro na execução por parte da PM. O governador foi afastado das funções por 90 dias por determinação de Moraes.

"O planejamento ostensivo e preventivo era de responsabilidade da PM/DF, e nele devendo constar quantitativo do efetivo policial, equipamentos, viaturas e tropas especializadas a serem utilizadas no teatro operacional", afirmou.

Anderson Torres está preso desde o sábado (14), quando retornou de viagem aos EUA - Adriano Machado - 15.jun.2022/ REUTERS
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