Morre aos 83 Amazonino Mendes, que governou o Amazonas por quatro mandatos

Político estava internado em São Paulo desde dezembro

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Manaus

Amazonino Mendes, que comandou o estado do Amazonas por quatro mandatos, morreu neste domingo (12), aos 83 anos. Ele estava internado no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, desde dezembro.

"Foi uma vida vitoriosa dedicada com muito amor à família e ao povo do Amazonas. Amazonino deixa um legado incomparável, como homem e político. Lutou bravamente como poucos, mas agora descansa em paz", diz nota publicada em sua página em rede social.

Amazonino Mendes durante votação em Manaus, em 2018 - Divulgação

Amazonino concorreu na última eleição ao governo como líder das pesquisas eleitorais até o início da campanha e terminou a disputa em terceiro lugar, perdendo para Wilson Lima e para o senador Eduardo Braga (MDB), que ficou em segundo lugar.

A família não divulgou a causa da morte.

Os problemas de saúde limitaram a campanha de Amazonino em Manaus e anularam no interior do estado, que exige deslocamentos de candidatos a locais de difícil acesso.

Já na convenção, Amazonino interrompeu o discurso e pediu para se sentar, com auxílio de outras pessoas. Saiu amparado por aliados. Nos debates e entrevistas que compareceu, a voz e o semblante davam impressão de cansaço e abatimento.

Diabético, cardíaco e paciente de hemodiálise, Amazonino era grupo de risco e, na pandemia, disputou e ficou em segundo lugar para a Prefeitura de Manaus. A participação dele precedia de rigorosas sanitizações dos locais do evento.

"O que faz um homem de 80 anos de idade se expor? O que eu quero? Não quero mais nada. Não estou atrás de honraria. Já fui governador quatro vezes. Não estou atrás de dinheiro. Não sou candidato a correr a maratona", disse Amazonino na convenção de 2020.

Após a eleição de 2022, Amazonino passou por algumas internações em São Paulo até a última, no dia 20 de dezembro, que durou até este domingo.

De acordo com sua assessoria, a família irá atender a um pedido de Amazonino, e o corpo será cremado. Com isso, permanecerá ainda por três dias em São Paulo antes de retornar ao Amazonas.

Em entrevista, o governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), declarou que o estado irá garantir toda a estrutura para as honrarias necessárias ao velório e despedida.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, nas redes sociais, que Amazonino tinha gosto e vocação política e disse ter orgulho pelo apoio que recebeu dele no segundo turno das eleições.

"Amazonino se dedicou à causa da vida pública até o fim. Com merecimento seu nome seguirá sendo sinônimo do estado que governou e amou. Minha solidariedade e meus sentimentos aos familiares, amigos e admiradores de Amazonino Mendes."

Governador por quatro vezes, ele também foi prefeito de Manaus por três vezes –uma delas como prefeito nomeado antes do período de redemocratização do país– e senador eleito por uma vez.

Amazonino Mendes foi governador pela primeira vez de 1987 a 1990; de 1995 a 1998 exerceu seu segundo mandato; se reelegeu e, de 1999 a 2002 ocorreu seu terceiro governo no Amazonas. O último foi de 15 meses, após sair vencedor da eleição tampão de 2017, quando o então governador José Melo, também seu afilhado político, foi cassado por compra de votos.

Na Prefeitura de Manaus, seus mandatos foram de 1983 a 1985; de 1993 a 1994 e de 2009 a 2012.

Seu padrinho político foi o governador e senador Gilberto Mestrinho, que morreu em julho de 2009. Mestrinho, quando voltou ao Amazonas anistiado e foi eleito o primeiro governador por voto direto no período de abertura política, em 1983, apresentou a aliados um projeto de poder para 20 anos.

Amazonino garantiu que o grupo se revezasse no poder pelo dobro de tempo, inserindo nomes na política como os senadores e ex-governadores Eduardo Braga (MDB), Omar Aziz (PSD) e de José Melo.

As "crias" políticas de Amazonino ganharam espaços nos governos ao longo das décadas de 1980, 1990 e 2000 e tiveram as gestões envolvidas em investigações.

Em outro contexto histórico de atuação dos organismos investigativos e da mídia, as gestões de Amazonino não tiveram grandes escândalos. Todas as vezes que os afilhados políticos estavam em campos opostos, Amazonino usava contra eles as acusações.

Em 2012, na sua última gestão como prefeito de Manaus, Amazonino chegou ao final do mandato com alto índice de rejeição. Em entrevistas, naquela ocasião, alegou que precisava cuidar da saúde ou iria para o "estaleiro".

Foi Omar Aziz que o retirou da aposentadoria política cinco anos depois, em 2017, para a disputa de governador tampão, da qual Amazonino saiu com sua última vitória nas urnas. Após 15 meses de mandato, Amazonino negou ter feito promessa de apoiar Omar para o Governo em 2018 e o enfrentou nas urnas. Ambos foram derrotados pela onda que levou Wilson Lima, hoje aliado de Omar Aziz, ao poder.

Nascido em 1939 em Eirunepé, no rio Juruá, a 1.062 km de Manaus, Amazonino participou do movimento estudantil antes e durante a ditadura militar. Após entrar para a política partidária, acumulou quase 40 anos de disputas eleitorais vitoriosas. As derrotas nas urnas e suas articulações políticas eram ingredientes das vitórias nas eleições seguintes.

Muitas obras e programas sociais do estado do Amazonas datam de sua gestão, como a criação da UEA (Universidade do Estado do Amazonas), vinculada a fundos mantidos pelo polo industrial da ZFM (Zona Franca de Manaus).

O tempo de vida política deu a Amazonino um eleitorado fiel que, na largada das últimas disputas eleitorais no Amazonas, davam a ele vantagem de intenção de votos frente aos adversários.

A vontade e capacidade de se rearticular para as urnas se associavam a uma marca de Amazonino, que era se nutrir eleitoralmente da fragilidade dos políticos das novas gerações. Todas as vezes que o atual governo Wilson Lima sofria baques na avaliação, era o nome de Amazonino que surgia espontaneamente na memória do eleitor.

O nome de Amazonino também surgiu na polêmica da aprovação da reeleição no país, no período do governo Fernando Henrique Cardoso. De acordo com gravações obtidas pela Folha à época, o governador, que também tinha interesse na aprovação da reeleição, aparecia como suspeito de compras de votos.

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