Suzana Herculano-Houzel assume Cátedra Otavio Frias Filho na USP

Neurocientista sucede Muniz Sodré e vai organizar ciclo de palestras com o tema 'Ciência, Comunicação e Futuro'

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São Paulo

A bióloga e neurocientista Suzana Herculano-Houzel será a nova titular da Cátedra Otavio Frias Filho de Estudos em Comunicação, Democracia e Diversidade, criada pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP em parceria com a Folha.

Herculano-Houzel é professora associada da Universidade Vanderbilt, nos Estados Unidos, desde 2016, e colunista do jornal. Ela é um dos principais nomes da neurociência brasileira, com trabalhos de repercussão internacional.

A neurocientista Suzana Herculano-Houzel, fotografada no Rio de Janeiro - Leo Pinheiro/Valor

A professora ainda tem forte atuação na área de divulgação científica. Ela é autora de vários livros para o público leigo, como "A Vantagem Humana - Como Nosso Cérebro se Tornou Superpoderoso" (Companhia das Letras), e também já foi apresentadora de um quadro no Fantástico, da TV Globo.

"O convite para a cátedra não me deixa só muito honrada. Também é a oportunidade perfeita para explorar com o público e especialistas temas que me interessam como pesquisadora", diz ela.

O novo tema da cátedra será "Ciência, Comunicação e Futuro". A partir desse recorte, Herculano-Houzel deve montar um ciclo de palestras com especialistas —e, ao fim, ajudar a organizar um livro com artigos de pesquisadores selecionados.

"A ciência é o motor que provê conhecimento para tomarmos boas decisões. Decisões que nos mantêm flexíveis. Ela é também uma maneira de pensar que prima por manter as pessoas com a cabeça aberta. Acho que as democracias, em todas as suas formas, começam com o acesso aberto à informação que a ciência gera", diz a nova titular da cátedra.

A pesquisadora afirma que o plano é montar um programa que promova o contato entre diferentes disciplinas.

"A ideia é reunir pessoas com capacidade de juntar elementos que vão das bases biológicas da diversidade até as consequências dessa diversidade para a vida humana. O que eu vejo na história da diversidade humana são elementos que atravessam níveis e disciplinas. A Cátedra vai ser uma oportunidade de pensar essas conexões."

Para o professor André Chaves de Melo, coordenador acadêmico da cátedra, Herculano-Houzel representa não só a experiência científica de ponta, mas também a preocupação em comunicar a ciência para o grande público.

"A ideia é ter um ciclo que discuta a diversidade, a democracia e as relações dela com a ciência. E, dentro disso, os desafios da ciência em uma sociedade em transformação", diz Melo. "Por ser neurocientista, ela traz a experiência de trabalhar com vários desafios nesse campo. Ela trabalha com o sono, a cognição, a duração da vida —que estão relacionados a questões econômicas e sociais."

Já Guilherme Ary Plonski, diretor do IEA, destaca a experiência de pesquisadora com atuação em dois países, os Estados Unidos e o Brasil, como um ativo para a cátedra.

"Ela tem uma visão dessas duas culturas. São dois países onde a questão da ciência foi muito pronunciada nos últimos anos —com Jair Bolsonaro no Brasil e Donald Trump nos Estados Unidos. Ter alguém nesses dois ambientes, que consegue olhar a nossa realidade e a deles, vai ser extremamente enriquecedor."

Com a nomeação, Herculano-Houzel sucede o sociólogo Muniz Sodré, primeiro titular da cátedra, que é professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e colunista da Folha. Sodré, que é um dos principais pesquisadores da área de comunicação no Brasil, organizou o ciclo de palestras "Ser brasileiro hoje: diversidade e democracia" —o livro com contribuições de pesquisadores selecionados está em preparação.

"Foi um ano profícuo, com uma convivência maravilhosa", afirma Sodré. "Discutimos o homem brasileiro, o que é ser nacional. Essa questão sempre foi um enigma e, para mim, é a grande questão social e antropológica brasileira."

"Toda e qualquer identidade é um processo contínuo de constituição. O movimento identitário negro, indígena, das mulheres —que estão dentro da esfera do identitarismo— fazem parte desse processo amplo de identidade nacional. Não trazem fragmentação, mas pluralidade, diversidade."

A cátedra foi lançada em fevereiro de 2021, como parte das comemorações pelos 100 anos da Folha. A iniciativa homenageia o jornalista Otavio Frias Filho (1957-2018), que liderou o projeto de modernização deflagrado pelo jornal em 1984 e dirigiu a Redação até sua morte, em decorrência de um câncer.

"O edital do primeiro ciclo era para 50 pesquisadores e tivemos uma adesão de mais de 180 —aceitamos todos no fim das contas", diz André Chaves de Melo.

Ele avalia que o formato híbrido permitiu a participação de pesquisadores de todo o país e, por isso, a ideia é repetir a fórmula. Podem participar da cátedra graduados, pós-graduados e quem está cursando uma pós-graduação. As inscrições serão anunciadas em breve.

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