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Ação da PF coloca prisão de Bolsonaro no terreno das possibilidades

Operação abala imagem do ex-presidente, reaviva desastre da Covid e alimenta versão de perseguição das instituições

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São Paulo

Nunca o meme "que semana!/é apenas quarta-feira" fez tanto sentido na política brasileira.

A operação da Polícia Federal contra Jair Bolsonaro (PL) interrompeu uma sequência de boas notícias para o ex-presidente desde a última segunda-feira (1), quando ele foi recebido por uma multidão na Agrishow, em Ribeirão Preto, reeditando os áureos momentos de sua campanha de 2018.

No dia seguinte, nova vitória, dessa vez desmoralizante para o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ministro Alexandre de Moraes (STF), com a retirada de pauta do PL das Fake News após intensa mobilização das big techs e da direita.

Agentes da PF em frente à casa de Jair Bolsonaro em Brasília - Adriano Machado/Reuters

A investida sobre o bolsonarismo quando a semana nem chegou à metade reúne diversos elementos simbólicos e potencialmente explosivos.

O mais óbvio, reaviva o discurso de que haveria um conluio político e jurídico contra o ex-presidente, que seria a continuação de uma suposta perseguição ocorrida na campanha eleitoral.

O bolsonarismo não chega ao nível do trumpismo na denúncia de que a eleição foi roubada, mas há um latente sentimento mesmo entre aliados moderados do ex-presidente (se é que isso existe) de que as regras foram enviesadas para eleger Lula.

Essa visão, que andava dormente, agora volta com força. Como disse um aliado, fazia tempo que Bolsonaro não emendava uma sequência tão positiva, e a resposta foi a retaliação por parte da PF e de Moraes.

A operação traz ainda outro gatilho, desta vez bastante negativo para o ex-presidente, o da pandemia. É um assunto que perseguirá Bolsonaro por anos a fio, num campo em que ele tem dificuldade de se justificar até para os aliados mais próximos.

Pandemia é veneno para a imagem de Bolsonaro e o torna mais vulnerável politicamente a ofensivas judiciais.

A impressão que fica é que o terreno está sendo lentamente preparado para um cerco definitivo ao ex-mandatário, o que leva à consequência mais séria da operação: o fim da fantasia de que sua prisão é uma impossibilidade completa.

Sempre se soube, inclusive entre assessores e advogados, que Bolsonaro enfrentaria uma ofensiva judicial pesada em 2023, em diversas frentes. A inelegibilidade pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que já era provável, consolida-se agora como uma quase certeza.

Já mandá-lo para a cadeia segue sendo um cenário menos provável do que o contrário. Mas a presença dos federais em sua casa, a apreensão de celulares e a prisão de assessores tornam a hipótese plausível.

Curiosamente, os passos seguidos contra Lula na Lava Jato podem servir de roteiro. Em março de 2016, ele recebeu a visita da PF em seu apartamento em São Bernardo do Campo. Na época, petistas alertaram que prender o então ex-presidente seria brincar com fogo, mesmo linguajar de bolsonaristas agora. O resto é história.

Há uma possibilidade de que o movimento contra o ex-presidente turbine seu capital político e o coloque numa posição que sempre lhe agradou, a de perseguido pelo "sistema".

São tantas as frentes políticas e judiciais contra Bolsonaro, no entanto, que é difícil ver como ele poderia sair politicamente mais forte. Ao contrário, o cenário mais provável é que virão outras semanas que parecem ter mais de sete dias.

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