Descrição de chapéu forças armadas

Preso em operação contra Bolsonaro disse que sabe quem mandou matar Marielle

Citado em caso da vereadora é suspeito de fraudar cartão de vacina de mulher de ex-ajudante de ex-presidente

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Rio de Janeiro

A operação sobre suposta fraude em cartões de vacinação que mirou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nesta quarta-feira (3) trouxe em meio ao conteúdo da investigação declaração de um dos suspeitos sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL).

Além disso, a Polícia Federal afirma ter indícios de que o ex-vereador Marcello Siciliano, citado nas investigações do homicídio, foi o responsável por concretizar o pedido de coronel Mauro Cid de inserir dados fraudulentos no cartão de vacinação de sua mulher.

A suspeita parte de diálogos entre o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro com o advogado e ex-militar Ailton Barros, apontado como o responsável por intermediar o contato com Siciliano.

Cid e Barros foram presos nesta quarta-feira (3) na Operação Venire, que investiga a inserção de dados falsos sobre vacinação da Covid-19 no sistema do Ministério da Saúde entre novembro de 2021 e dezembro de 2022. Siciliano foi alvo de busca e apreensão.

Homenagem a Marielle Franco em Pinheiros, em São Paulo - Zanone Fraissat - 7.dez.20/Folhapress

Ailton Barros foi candidato a deputado estadual pelo PL-RJ e se apresentava como "01 de Bolsonaro". Ele sempre tinha acesso ao ex-presidente em eventos no Rio de Janeiro, tendo inclusive participado de uma live do então presidente, em julho de 2022.

Em conversa interceptada, Barros afirmou saber quem mandou matar a vereadora —o crime ocorreu em março de 2018 e até hoje não foi esclarecido o mandante.

"Eu sei dessa história da Marielle toda, irmão, sei quem mandou. Sei a porra toda. Entendeu? [Siciliano] Está de bucha nessa parada aí."

No Senado, durante a tarde, o filho mais velho do ex-presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), disse que há uma "narrativa criminosa" para tentar envolver o pai novamente no tema do assassinato da vereadora.

"Será que a intenção é tentar mais uma vez vincular o Bolsonaro ao assassinato da Marielle?"

O ex-vereador Marcello Siciliano fala à imprensa após prestar depoimento na Cidade da Polícia, no Jacarezinho - Tomaz Silva - 14.dez.18/Agência Brasil

De acordo com as mensagens apresentadas na representação da PF, Barros afirmou a Cid em 30 de novembro de 2021 ter aberto três frentes para concluir "aquela missão", em suposta referência ao cartão de vacinação.

"Porque realmente o negócio é pica e ninguém pode ficar exposto, não é, particularmente, particularmente, quem você sabe, né? Não pode ficar. Mais tá caminhando bem", afirmou Barros em áudio, segundo a PF.

Ao sinalizar que conseguiu um caminho para, na análise da polícia, fraudar o cartão de vacinação da mulher do coronel, Barros afirma a Cid que o responsável por auxiliá-lo é o ex-vereador Marcello Siciliano.

"Ele é um político, né, vereador aqui do Rio de Janeiro, sabe como resolve, né? Ele é a minha opção mais forte de resolver essa questão da, do, da, da nossa amiga, entendeu? E ele não resolveu, o irmão... Aí fodeu. Mas, eu acredito piamente que ele vai dar bingo para a gente."

Siciliano foi citado pelo policial militar Rodrigo Jorge Ferreira, o Ferreirinha, como o mandate do assassinato de Marielle em ação que também levou à morte de Anderson Gomes, motorista da vereadora.

O depoimento do PM, porém, foi posteriormente apontado pela PF como uma trama para atrapalhar a apuração do caso. Contudo, desde então o nome do ex-vereador permanece no radar dos investigadores.

Ao apontar Siciliano como o responsável pela solução do pedido, Barros pede para que Cid viabilize um encontro entre o ex-vereador e o cônsul norte-americano no Rio de Janeiro.

Segundo o advogado afirma na mensagem usada pela PF, Siciliano vem encontrando dificuldades em renovar seu visto norte-americano em razão da menção ao seu nome no caso Marielle.

"Nessa época [em que foi citado na investigação] a polícia pediu a suspensão do visto dele, para ele não sair enquanto estava sendo investigado. Mas não tem nada. Não foi indiciado, não foi nada, e ele quer conversar com o cônsul justamente isso. [Dizer:] 'Olha, fui injustiçado. Não existe nada contra mim, nenhum processo, não fui denunciado, não foi nada disso, eu não consto nada, foi uma injustiça que a imprensa fez comigo e eu preciso viajar.' Então ele quer conversar e quer explicar essa situação", disse Ailton.

Cid pede para que o militar reformado lhe envie o contato de Siciliano e responde: "Deixa comigo coronel. Eu vou dar, Vou dar uma olhada e tentar resolver isso aí."

Barros responde: "Te passo. Mas é bom que já vai botar pressão para resolver o meu problema. Eu resolvo
dele, ele resolve o meu."

Procuradas, a Embaixada dos Estados Unidos e o Consulado no Rio de Janeiro não responderam se houve algum contato de Cid para atender a Siciliano.

A representação da PF não detalha em que momento Barros foi acionado por Cid para supostamente fraudar o cartão de vacinação de sua mulher. Três dias antes, o advogado esteve em evento de Bolsonaro na Brigada de Infantaria Paraquedista, no Rio de Janeiro.

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