No primeiro minuto de conversa para falar sobre sua participação nas manifestações de junho de 2013, o juiz aposentado Silvio Mota, 78, esclarece, sem que lhe seja perguntado.
"Aquela camisa verde e amarela não era da seleção, não. Era do Ministério Público", afirma ele, em referência à campanha contra a PEC 37 em discussão à época no Congresso, que tirava o poder de investigação do órgão. A proposta acabou arquivada após as manifestações.
Ex-colega de Carlos Marighella na ALN (Ação Libertadora Nacional), Mota estampou capa de jornais como a Folha e o New York Times ao se postar de frente e colado aos escudos da tropa de choque da PM do Ceará nos arredores do estádio do Castelão.
O ex-magistrado da área trabalhista afirma que, semanas após o ato, foi convocado pelo Ministério Público para esclarecer sua participação no protesto. "Em vez de receber algum agradecimento por ter usado a camisa deles, eu fui convocado e interrogado para ver se podiam me processar", disse ele.
O juiz aposentado avalia que o governo Dilma Rousseff e o PT perderam ao não "dar um passo adiante", apoiado pelas manifestações.
"Aquela passeata foi organizada pelo MST. Naquela passeata a gente estava pedindo uma plataforma de esquerda. O que estava subjacente era o avanço do processo. O que houve foi que a Dilma e o PT não perceberam isso. Era para ela ter mais poder. Mas aquela polícia que estava lá era a Força Nacional. É nisso que dá o reformismo", disse ele.
"Houve um sentimento de frustração muito grande entre os trabalhadores. O PT não soube nem se defender no processo de impeachment. Era necessário dar o passo adiante. O trabalhador olhava: ‘Esse pessoal aí não é de nada. Não quero mais.’"
Mota afirma não se arrepender do apoio dado ao Ministério Público, mesmo considerando o papel do órgão durante a Operação Lava Jato, criticada pela esquerda. "As polícias ficariam superpoderosas se não tivesse esse controle. Era a coisa certa a fazer."
Ele também afirma que passou a evitar camisas amarelas, após elas ficarem associadas aos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A única exceção é a que estampa o rosto de Marighella.
"Tenho saído em manifestações com camisas com o rosto do Marighella. Tem preta, branca e amarela. Tendo o rosto do Marighella é diferente."
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